quarta-feira, 24 de outubro de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (24/10/2012) - Tema: SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE

"Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade."
(São Maximiliano Kolbe)

ESCOLHIDO PELA IMACULADA

Raimundo Kolbe nasceu em 8 de janeiro de 1894, na Polônia, recebendo no mesmo dia as águas batismais. Seus pais, Júlio Kolbe e Maria Dabrowska, eram devotíssimos da Virgem Maria. De seus cinco filhos, dois faleceram quando ainda crianças, e os outros três abraçaram a vida religiosa.
Criança muito viva e travessa, Raimundo recebeu certo dia uma repreensão de sua mãe que lhe marcou a vida:
- Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?
Essas palavras calaram fundo na alma do pequeno. Ficou aflito e pensativo. Queria mudar de vida e recorreu a Nossa Senhora. Ajoelhado aos pés de uma bela imagem da igreja paroquial, perguntou-Lhe:
- Que vai acontecer comigo?
Qual não foi sua surpresa, quando lhe apareceu a Mãe de Deus, trazendo em Suas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha. Sorrindo maternalmente, perguntou-lhe qual escolhia. A branca significava que perseveraria na castidade e a vermelha, que seria mártir. Grande alma, ele escolheu as duas.
Nasceu-lhe, então, por graça da Imaculada, a vocação religiosa. Decidiu ser capuchinho franciscano, e aos 14 anos começou os estudos no seminário menor dos frades conventuais.
Sendo enviado à Roma pela congregação, lá chocou-se com a insolência com que os inimigos da Igreja a atacavam, sem a proporcionada reação dos católicos. Resolveu então entrar na luta antes mesmo de receber a ordenação presbiteral. Reunindo em torno de si seis condiscípulos, fundou em 1917 a associação apostólica Milícia de Maria Imaculada, cujos estatutos começavam por declarar seus objetivos: a conversão dos pecadores, inclusive dos inimigos da Igreja, e a santificação de todos os seus membros, sob a proteção de Maria Imaculada. Nela aceitou apenas jovens destemidos e verdadeiramente dispostos a acompanhá- lo nessa empresa, com o título de Cavaleiros de Vanguarda.

PROGRESSO A SERVIÇO DA FÉ

Voltando à Polônia em 1919, fundou o jornal mensal da sua associação - Cavaleiro da Imaculada - pondo o progresso técnico do seu tempo a serviço da Fé.
Na véspera do lançamento, reuniu os operários, colaboradores e redatores - ao todo 327 pessoas -, e passaram o dia em jejum e oração. Nessa noite, foi organizada uma grande vigília de Adoração ao Santíssimo Sacramento e de oração à Santíssima Virgem, para que abençoassem esse empreendimento. Na noite seguinte, as rotativas imprimiram o primeiro número do jornal, "filho" dessas orações. Um grande impulso à sua obra ocorreu em 1927, quando o príncipe João Drucko-Lubecki cedeu ao padre Maximiliano um terreno situado a 40 quilômetros de Varsóvia. Aí, homem de grandes horizontes, começou ele a construir uma Niepokalanów - Cidade de Maria. Planejava a edificação de um enorme convento e novas instalações de sua obra de imprensa. Com que dinheiro? "Maria proverá - dizia o santo varão - este é um negócio dEla e de seu Filho!".
E não foi defraudado em sua confiança. Em 1939, o jornal tinha já a surpreendente tiragem de um milhão de exemplares, e a ele se haviam juntado outros dezessete periódicos de menor porte, além de uma emissora de rádio. A Cidade de Maria contava então com 762 habitantes, sendo 13 sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos leigos, 122 seminaristas menores e 82 candidatos ao sacerdócio. Nela habitavam também médicos, dentistas, agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores, impressores, jardineiros e cozinheiros, além de um corpo de bombeiros.

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, em 1939, a Cidade de Maria ficou muito exposta a riscos, pois se situava nas imediações da estrada de Potsdam a Varsóvia, rota provável de uma eventual invasão das tropas nazistas. Motivo pelo qual a prefeitura de Varsóvia ordenou sua pronta evacuação. Padre Maximiliano conseguiu lugar seguro para todos os irmãos, mas permaneceu ali, com cinquenta de seus colaboradores mais imediatos.
Em setembro, as tropas invasoras levaram-nos presos para Amtitz. Mas na festa da Imaculada, dia 8 de dezembro, foram todos libertados e voltaram para sua Niepokalanów, transformando- a em refúgio e hospital para feridos de guerra, prófugos e judeus.
Retomaram também o labor apostólico, pois os invasores permitiram ao padre Kolbe continuar com suas publicações, à espera de um pretexto para acabar com seu apostolado. Com grande coragem, escreveu ele no último número de Cavaleiro da Imaculada, as seguintes palavras, de admirável honestidade intelectual e integridade de convicções: "Ninguém no mundo pode mudar a verdade. O que podemos fazer é procurá-la e servi-la quando a tenhamos encontrado. O conflito real de hoje é um conflito interno. Mais além dos exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de extermínio, há dois inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal, o pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos derrotados no mais profundo de nossas almas?".
A propósito disso, em fevereiro de 1941, a Gestapo irrompeu na Cidade de Maria e levou presos o padre Kolbe e outros quatro frades, os mais anciãos. Na prisão de Pawiak, em Varsóvia, foi submetido a injúrias e vexações, e depois trasladado para o campo de extermínio de Auschwitz.

NO CAMPO DE AUSCHWITZ

Começaram para o santo mártir as estações de sua via-crucis. Passou a primeira noite numa sala com outros 320 prisioneiros.
Ao entrar no campo de concentração, os guardas faziam uma revista minuciosa em todos os prisioneiros e lhes tiravam todos os objetos pessoais. Entretanto, o soldado que revistou o padre Kolbe devolveu-lhe o Rosário, dizendo:
- Tome seu Rosário. E vá lá para dentro! - Era um sorriso de Nossa Senhora, como a dizer-lhe que estaria com ele a cada momento.
No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Tendo um deles conseguido fugir, dez outros, escolhidos por sorteio, foram condenados ao "bunker da morte": um subterrâneo onde eles eram jogados desnudos, e permaneciam sem bebida nem alimento, à espera da morte.
Ante o desespero daqueles infelizes, São Maximiliano ofereceu-se para ficar em lugar de um deles, pai de família, e foi aceito por ser sacerdote. Sem dúvida, movia-o uma autêntica caridade para com seu conterrâneo, entretanto, outra razão também elevada o levou a tomar essa decisão: o desejo de ajudar aqueles condenados a terem uma boa morte, salvando suas almas.
Fechado o bunker, estava para sempre encerrado para eles o contato com o mundo exterior. Naquelas terríveis horas sem outra expectativa que a da morte, tratava-se de cada qual pôr em ordem sua consciência. Pode-se imaginar qual seria o medo da morte, do Juízo, do sofrimento, a tentação de desespero... Em tal situação, que privilégio poder ter por companheiro um sacerdote santo! Graças a ele, o bunker da morte se converteu em capela de oração e de cânticos... com vozes cada dia mais débeis. Três semanas depois, restavam vivos apenas quatro. Julgando que aquela situação se prolongava demasiado, decidiram as autoridades aplicar-lhes uma injeção letal de ácido muriático.
Padre Kolbe foi o último a morrer naquele pavoroso subterrâneo. Estendeu espontaneamente o braço para a injeção. Alguns momentos depois, um funcionário do campo o encontrou morto "com os olhos abertos e a cabeça inclinada. Seu rosto, sereno e belo, estava radiante".
Cumprira sua última missão: salvara a si próprio e aos demais. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Assunção de Maria.
O corpo de Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas atiradas ao vento. Numa carta, quase prevendo seu fim, escrevera: “Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”.
Ao final da Guerra, começou um movimento pela beatificação do Frei Maximiliano Maria Kolbe, que ocorreu em 17 de outubro de 1971, pelo Papa Paulo VI. Em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem com o qual Pe. Kolbe trocou de lugar no campo de concentração, São Maximiliano foi canonizado pelo Papa João Paulo II, como mártir da caridade. Por seu intenso apostolado, é considerado o patrono da imprensa.

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

REC - Reflexões e Estudos CATÓLICOS (03/10/2012) - Tema: SANTOS E BEATOS DO BRASIL

"O Brasil precisa de santos, de muitos santos" (João Paulo II em visita ao Brasil)

Se formos nos referir ao número de santos e beatos que nasceram ou realizaram seu apostolado no Brasil, teremos 5 santos e 79 beatos. Neste estudo, nos focaremos nos que são naturais do Brasil, conhecendo alguns deles.

SANTO ANTÔNIO DE SANT’ANA GALVÃO

Nascido em Guaratinguetá, em 1739, de uma família de muitas posses, descendia dos primeiros povoadores da Capitania e corria em suas veias sangue de bandeirantes. Renunciou a uma brilhante situação no mundo e ingressou na Ordem franciscana. Fundou, em 1774, juntamente com Madre Helena Maria do Espírito, o Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, na capital paulista. Não somente formou e conduziu espiritualmente as religiosas desse mosteiro, mas também o edificou materialmente, ao longo de  48 anos de esforços contínuos. Foi o arquiteto, o engenheiro, o mestre de obras e muitas vezes o operário da sua edificação, que somente se tornou possível porque ele incansavelmente pedia, ao povo fiel, esmolas para a magnífica construção. Sacerdote procurado e estimado por todos, era chamado "Homem da Paz e da Caridade".
Era homem de profunda e intensa oração, devotíssimo servo da Virgem Maria, da qual se consagrara como “filho e escravo perpétuo”. Passava horas em adoração ao Santíssimo Sacramento e diversos fenômenos místicos ocorreram durante sua vida como êxtases, levitação e bilocação.
Entregou sua alma a Deus em 1822. Foi beatificado em 1998. Até hoje sua sepultura, na capela do mosteiro, é visitada por multidões que acorrem a lhe pedir graças e milagres, e também à procura das famosas e prodigiosas "pílulas de Frei Galvão". Essas pílulas, feitas de papel, tiveram origem numa ocasião em que um jovem, sofrendo de fortes cólicas renais, procurou Frei Galvão suplicando sua ajuda. Compadecido, o santo então pegou um pequeno pedaço de papel onde escreveu uma sentença em latim: “Post partum Virgo inviolata permansisti, Dei Genitrix Intercede pro nobis”, que significa: "Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós!". Depois de enrolar o papelzinho em forma de pílula, deu ao rapaz para tomar. Imediatamente, as horríveis dores cessaram e o jovem expeliu os cálculos sem dificuldade.

BEATOS MÁRTIRES DO RIO GRANDE DO NORTE

Martírio de Cunhaú
No dia 16 de julho de 1645, os holandeses que ocupavam o nordeste do Brasil, chegaram a Cunhaú, no Rio Grande do Norte, onde residiam vários colonos ao redor do Engenho, ocupados no plantio da cana-de-açúcar. Era um domingo. Na hora da missa, 69 pessoas se reuniram na capela de Nossa Senhora das Candeias. A capela foi cercada e invadida por soldados e índios que trucidaram a todos que aí estavam, inclusive o Pároco Pe. André de Soveral que celebrava a missa. Não opuseram resistência aos agressores e entregaram piedosamente suas almas ao Criador.

Martírio de Uruaçu
Aterrorizados com o acontecimento de Cunhaú, muitos moradores de Natal pediram asilo no Forte dos Reis Magos ou se refugiaram em abrigos improvisados. No dia 3 de outubro, foram levados para as margens do Rio Uruaçu, onde os aguardavam índios e soldados holandeses armados. Eram cerca de 80 pessoas. Os holandeses, de religião calvinista, trouxeram um pastor protestante para demovê-los de sua fé católica. Todos resistiram a esta tentativa e foram barbaramente sacrificados. Entre eles estava Mateus Moreira que, ao lhe ser arrancado o coração pelas costas, morreu exclamando: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".
Diz Mons. Assis: "A incerteza quanto ao número total de sacrificados e o anonimato que cobre a maioria deles constituem, certamente, um impedimento à apresentação de todas as vítimas de Cunhaú e Uruaçu para o reconhecimento do martírio”.
Dos 30  gloriosos Beatos, 27 são brasileiros, 1 português (Beato Ambrósio), 1 espanhol (Beato Vilela Cid) e 1 francês (Beato Lostau Navarro).

BEATA ALBERTINA BERKENBROCK

 Albertina nasceu a 11 de abril de 1919, em São Luís, município de Imaruí, SC. Seus pais e familiares souberam educar a menina na fé, transmitiram-lhe muito cedo as principais verdades da Igreja. Ela aprendeu logo as orações, era perseverante em fazê-las e muito recolhida ao rezar. Confessava-se com freqüência, ia regularmente à missa, comungava com fervor. Aliás, preparou-se com muita diligência para a primeira comunhão. Falava muitas vezes da Eucaristia e dizia que o dia de sua primeira comunhão fora o mais belo de sua vida.
Albertina foi também muito devota de Nossa Senhora, venerava-a com carinho, tanto na capela da comunidade como em casa. Junto com os familiares recitava o terço e recomendava a Maria sua alma e sua salvação eterna.
Foi menina boa, estimada por colegas e por adultos, um exemplo de pureza.
Morreu por recusar ceder ao ataque de um homem que a queria estuprar. O homem, ao perceber que Albertina não cederia, a degolou. Prenderam então um inocente por engano, culpando-o pela morte da jovem. No entanto, todas as vezes que o verdadeiro assassino chegava perto do corpo de Albertina, a ferida mortal jorrava sangue. Isso levantou suspeitas e, após a investigação, chegou-se ao verdadeiro assassino, que foi preso.

BEATA DULCE LOPES PONTES (IRMÃ DULCE)

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914. Aos 13 anos a pequena Maria Rita já havia transformado a casa da família em um centro de atendimento de pessoas carentes, e assim nasceu a sua vocação religiosa. Após visitar regiões onde moravam pessoas muito pobres, onde havia ido em companhia de uma tia, manifestou pela primeira vez o desejo de se fazer religiosa.
Formou-se professora em 9 de dezembro de 1932, e já no ano seguinte entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Fez o seu noviciado em São Cristóvão, Sergipe, e em 15 de agosto de 1934 fez seus primeiros votos, e recebeu o nome de Irmã Dulce, uma homenagem à sua mãe.
Em 1935, invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos para acomodar os doentes que recolhia nas ruas. Sendo expulsa, levou seus doentes de um lugar para outro, peregrinando por cerca de uma década. Em 1941 Irmã Dulce concluiu o curso de oficial de farmácia. Finalmente, em 1949 instalou seus doentes no galinheiro do Convento Santo Antônio, fundado dois anos antes por Irmã Dulce. Deste improvisado albergue, com 70 doentes, nasceria o Hospital Santo Antônio.
Em 26 de maio de 1959 foi fundada a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), e no ano seguinte foi inaugurado o Albergue Santo Antônio, com 150 leitos. Vinte e quatro anos mais tarde seria inaugurado o novo hospital, agora com 400 leitos.
O Hospital Santo Antônio está no centro de uma complexa organização reconhecida como modelo nacional de assistência social, médica e educacional. Atua também nas áreas de ensino e pesquisa. A OSID, Obras Sociais Irmã Dulce, é considerada uma das instituições filantrópicas mais importantes do mundo, com mais de 2300 colaboradores e 600 voluntários no Brasil e no exterior. Atende mais de 1 milhão de pessoas por ano.
Trata-se de uma obra construída pela fé. Irmã Dulce dizia, e fazia valer ao pé da letra: “Quando nenhum hospital quiser aceitar mais algum paciente, nós aceitaremos. Esta é a última porta e, por isso, eu não posso fechá-la”. Atender bem e de graça norteiam o trabalho dessa instituição, cuja eficiência e qualidade já mereceu inúmeros prêmios nacionais e internacionais.
Esse portento foi construído com a ajuda de muitos, e como era de se esperar, com a força de um gigante, batendo de porta em porta pelas ruas de Salvador, nos mercados, feiras livres ou nos gabinetes de governadores, prefeitos, secretários, presidentes da República. Administradora extremamente capaz, cuidava de tudo pessoalmente, com caridade heróica.
Irmã Dulce levava uma vida espartana. Os momentos de folga eram raros. Não lia jornais nem via televisão. Quase não comia. Três vezes por semana, fazia jejum. As poucas refeições se resumiam a um montinho de arroz e legumes colocados num prato de sobremesa ou num pires de café. Carne, doce e refrigerante não constavam de seu cardápio. Com tantos doentes e famintos esperando por sua caridade, Irmã Dulce também quase não dormia. Eram no máximo quatro horas de sono por noite, sentada numa cadeira de madeira maciça. Começou a dormir ali para pagar uma promessa e usou a espreguiçadeira por 30 anos, até ser proibida pelo médico.
 Tinha uma saúde frágil, pois viveu os seus últimos trinta anos com a saúde abalada seriamente, respirando com apenas um terço da sua capacidade pulmonar!
“Quando os médicos perguntavam se havia passado bem a noite, respondia: “Passei na boate." Aí explicava: "boate" era como chamava o tubo de oxigênio que ajudava a mantê-la viva.
Morreu em 13 de março de 1992.

VENERÁVEL FRANCISCA DE PAULA DE JESUS (NHÁ CHICA)

Alta, morena e bonita, Francisca de Paula de Jesus, ou Nhá Chica, como era chamada por todos, nasceu em 1808, em Minas Gerais. Era filha de escravos. Cresceu isolada do mundo, dedicando-se à caridade e à fé.
Rapazes do seu tempo pediram-na em casamento, mas recusou a todos. Tornou-se até muito amiga do que mais insistira, grata pela suas boas intenções.
Nhá Chica fazia suas preces à Sua Sinhá, como ela chamava Nossa Senhora, representada numa pequenina imagem da Senhora da Conceição, de terra cota, até hoje conservada em sua casa. Sua casa é a imagem de sua vida pobre e dedicada aos pobres.
Pouco a pouco sua fama foi aumentando, porque dava sempre ótimos conselhos.
Ainda moça Nhá Chica já era a “mãe dos pobres”: tinha o piedoso  costume de convidar os pobres e demais moradores daquela redondeza  em determinado dia da semana para com ela elevarem preces à Virgem Mãe de Deus... Após as orações, ela distribuía alimentos aos pobres, pois todos já levavam para isso suas vasilhas. Recebia esmolas e dava esmolas... O pároco de Baependi assim a definiu certa vez: "Nhá Chica é simplesmente uma pobre mulher analfabeta, uma fiel serva de Deus cheia de fé". Mas ela respondia dizendo: "Eu repito o que me diz Nossa Senhora e nada mais: eu rezo a Nossa Senhora, que me ouve e me responde".
Ainda uma outra grande devoção povoava o coração de Nhá Chica. Guardava especial devoção às três horas de agonia, e nas sextas-feiras recolhia-se em oração.
Toda sua vida Nhá Chica procurou realizar o que ela dizia ser um pedido de Nossa Senhora: a construção de uma Capela. Era um empreendimento caro demais para uma mulher pobre daquele tempo, ainda mais sendo filha de escrava. Ela saia, então, pela vizinhança, pedindo auxílio para a construção. Aos poucos a notícia correu e logo começou a receber de todas as partes esmolas para este fim. Ela pode também usar a herança que recebeu de seu irmão, e sua obra chegou a bom termo.
A construção foi iniciada em 1865. Quando já tinha uma certa quantia, Nhá Chica recebeu a ordem de Nossa Senhora para dar início aos trabalhos. A ornamentação foi quase toda doada: imagens, alfaias, vasos, lâmpadas e até um órgão.
A biógrafa da Serva de Deus, Helena Ferreira Pena, conta que "...estando já o serviço a certa altura, o oficial notou que ia faltar material e disse-lhe:
- Nhá Chica, os tijolos não vão chegar!
Ela respondeu: 'Nossa Senhora é quem sabe'.
Continuou o serviço, e ao terminar, não faltou e não sobrou um só tijolo.
Estava quase terminada a capela e o oficial advertiu Nhá Chica:
- Precisa algumas pinturas no forro, não ficaria bem assim liso sem alguma decoração.
Ela como sempre respondeu: 'Nossa Senhora é quem sabe'...
E foi entregar-se as suas meditações.
À tarde, quando o oficial ia deixar o serviço, Nhá Chica disse-lhe:
- Alisa bem a areia que está no quartinho, tranca a porta e leva a chave.
O oficial pensou consigo: 'Essa velha tem cada coisa! Se os ratos vão passear na areia eu terei que fazer estes rabiscos no forro!'
No dia seguinte, ao chegar novamente ao serviço, Nhá Chica ordena: 'Toma um lápis e um pedaço de papel e vamos abrir a sacristia'.
Mandando que copiasse o que estava na areia, eis que copiando aqueles traços reproduziu um ‘ostensório sobre as nuvens', cuja pintura foi feita a óleo no teto da capela mor da Igreja.
Mais um fato extraordinário é narrado pela mesma biógrafa: estava terminada a capela, mas Nossa Senhora queria mais alguma coisa.
Manifestou a sua serva o seu desejo:
- Queria um órgão para a Igreja.
Nhá Chica, porém, na sua ingenuidade, não sabia o que era aquilo.
Foi consultar, então, o vigário local, Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira o que era órgão, que N. Sra. queria para a capela. Mons. Marcos lhe disse:
- Orgão é um instrumento até muito bonito que toca nas Igrejas mas, para isso, precisa muito dinheiro!...
- Mas N. Sra. queria. Na Rua São José, casa 73, no Rio de Janeiro, chegou um - assim disse ela.
Mal Nhá Chica tinha manifestado o desejo de N. Sra., começou a chegar espontaneamente a suas mãos, esmola para a compra do desejado instrumento. Foi, então, encarregado da compra o Sr. Francisco Raposo, competente maestro. Foi ao Rio de Janeiro para efetuar a compra e fazer o despacho até Barra do Piraí, pois, de lá aqui, teria que vir em carro de bois, por não haver ainda estrada de ferro.
Chegara enfim o órgão e Nhá Chica marca sua inauguração para as três horas da tarde e, para isso, fez ecoar nos ares o som do sino da capela, convidando o povo para entoar louvores à Maria!
Chegam os devotos e logo a capela se enche. O maestro sobe ao coro e desliza suas mãos sobre o teclado, e qual sua surpresa?
Nem uma nota!...
- O que teria acontecido? Com certeza estragou-se com a viagem, com a longa caminhada em carro de bois, diziam uns.
- Qual! Com certeza venderam coisa velha e estragada, diziam outros. Nhá Chica chorava... cheia de angústia e aflição!... Teria sido enganada?
Acalma-se, porém, e diz:
- Esperem um pouco. Tira dos pés as chinelinhas de couro e vai prostrar-se aos pés da Virgem.
O povo esperava ansioso... Ela volta calma e serena e diz:
- Podeis voltar para suas casas, porque o órgão não tocará hoje, mas amanhã, às três horas. - Sexta feira, dia da devoção de Nhá Chica.
- Nossa Senhora quer que entoem a ladainha.
Assim se fez. No dia seguinte, novamente, o sininho soava nos ares chamando os fiéis que desta vez foram em número maior, movidos pela curiosidade.
E, às três horas em ponto de sexta-feira, o maestro, novamente, deslizando suas mãos sobre o teclado, fez ecoar, pela primeira vez por toda a Igreja, ao som do órgão a linda melodia da ladainha à Nossa Senhora!... As lágrimas desciam dos olhos de Nhá Chica, mas desta vez, foram lágrimas de alegria e de felicidade!...".
Hoje, total e recentemente restaurado, o órgão encontra-se no coro da Igreja da Conceição, emitindo seus sons e acompanhando o louvor de Deus e de sua Mãe Santíssima.
Nhá Chica viveu sempre na sua casinha perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em oração, humildade, mortificação, além de sofrimentos físicos, atendendo sempre quem a procurava.
Aos 14 de Junho de 1895 faleceu com mais de 80 anos e foi sepultada somente no dia 18. Seu semblante não apresentava sinais de morta, o que deixou o médico local em dúvida. Assim o Dr. Manoel Joaquim Pereira não deixou efetuar o seu sepultamento no dia seguinte, como erra o costume. Mandou ficar em observação por mais algumas horas. E aconteceu que um chamado urgente de um município vizinho afastou o médico da cidade, ficando então o corpo da Serva de Deus, insepulto por mais de três dias, sem se decompor, esperando pelo médico.
Grande foi o número de pessoas que acorreram. Todos puderam atestar que não manifestou traços de decomposição, apesar de já estar morta há quatro dias.
O papa Bento XVI aprovou recentemente a publicação do decreto que permitirá a beatificação de Nhá Chica.