DEFINIÇÃO DE PURGATÓRIO
Desde
os primórdios, a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, acredita na purificação
das almas após a morte, e chama este estado, não lugar, de Purgatório.
Ao
nos ensinar sobre esta matéria, diz o nosso Catecismo:
"Aqueles
que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados,
estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a
morte, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu"
(CIC, §1030).
Logo,
as almas do Purgatório "estão certas da sua salvação eterna", e isto
lhes dá grande paz e alegria. Falando sobre isso, disse o Papa João Paulo II:
"Mesmo
que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das
últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza,
de alegria, porque sabe que pertence para sempre ao seu Deus." (Alocução
de 3 de julho de 1991)
O
Catecismo da Igreja ensina que: "A Igreja chama de purgatório esta
purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da
punição dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao
Purgatório principalmente nos Concílios de Florença (1438-1445) e de Trento
(1545-1563)" (§ 1031).
AS PENAS DO PECADO
“Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso
admitir que o pecado tem uma dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da
comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta
privação se chama "pena eterna" do pecado. Por outro lado,
todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige
purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado
"purgatório". Esta purificação liberta da chamada "pena
temporal" do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como
uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma conseqüência
da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente
caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja
mais nenhuma pena.” (§1472)
"...Desta forma, se
os verdadeiros penitentes deixarem este mundo antes de terem satisfeito com
frutos dignos de penitência pela ação ou omissão, suas almas são purgadas com
penas purificatórias após a morte; e para serem aliviadas destas penas, lhes
aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos, tais como o sacrifício da missa,
orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que os fiéis costumam praticar
por outros fiéis, segundo as instituições da Igreja. E que as almas daqueles
que após receberem o batismo não incorreram absolutamente em mancha alguma de
pecado e também aquelas que, após contrair mancha de pecado, a purgaram, quer
enquanto viviam em seus corpos quer após o deixarem, segundo o que foi dito
acima, são imediatamente recebidas no céu..." (Concílio de Florença, 17º
Ecumênico).
Devemos
notar que o ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios
judeus, cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas
Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num
campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos
ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou
fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos
pecados desses soldados. O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva
a ação de Judas:
"Se
ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria
supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima
recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo
e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício
expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu
pecado". (2 Mac 12,44s)
Neste
caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência,
que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de
Deus contra os inimigos da fé.
Todo
homem foi criado para participar da felicidade plena de Deus (cf. CIC, §1), e
gozar de sua visão face-a-face. Mas, como Deus é "Três vezes Santo",
como disse o Papa Paulo VI, e como viu o profeta Isaías (Is 6,8), não pode
entrar em comunhão perfeita com Ele quem ainda tem resquícios de pecado na
alma. A Carta aos Hebreus diz que: "sem a santidade ninguém pode ver a
Deus" (Hb 12, 14). Então, a misericórdia de Deus dá-nos a oportunidade de
purificação mesmo após a morte. Entenda, então, que o Purgatório, longe de ser
castigo de Deus, é graça da sua misericórdia paterna.
Com
base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do
Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o
fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao
fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao
fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e
fervor, e outros com tibieza e relutância. E Paulo apresenta o juízo de Deus
sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu
autor "receberá uma recompensa"; mas, se não resistir, o seu autor
"sofrerá detrimento", isto é, uma pena; que não será a condenação;
pois o texto diz explicitamente que o trabalhador "se salvará, mas como
que através do fogo", isto é, com sofrimentos.
O
fogo neste texto tem sentido metafórico e representa o juízo de Deus (cf. Sl
78, 5; 88, 47; 96,3). No purgatório a alma vê com toda clareza a sua vida tíbia
na terra, o seu amor insuficiente a Deus, e rejeita agora toda a incoerência a
esse amor, vencendo assim as paixões que neste mundo se opuseram à vontade
santa de Deus. Neste estado, a alma se arrepende até o extremo de suas
negligências durante esta vida; e o amor a Deus extingue nela os afetos
desregrados, de modo que ela se purifica. Desta forma, a alma sofre por ter
sido negligente, e por atrasar assim, por culpa própria, o seu encontro
definitivo com Deus. É um sofrimento nobre e espontâneo, inspirado pelo amor de
Deus e horror ao pecado.
PENSAMENTOS
CONSOLADORES SOBRE O PURGATÓRIO
O
grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567-1655), tem um ensinamento
maravilhoso sobre o purgatório. Ele ensinava, já na idade média, que "é
preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório".
Eis o que ele nos diz:
1
- As almas alí vivem uma contínua união com Deus.
2
- Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus
quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar-se no inferno a
apresentar-se manchadas diante de Deus.
3
- Purificam-se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus.
4
- Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da
vontade Dele.
5
- São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência,
nem cometer qualquer imperfeição.
6
- Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e
desinteressado.
7
- São consoladas pelos anjos.
8
- Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.
9
- As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.
10
- Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável
ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o
inferno.
11
- O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas
que lá existem são chamas de amor.
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