A DOUTRINA
DA IGREJA ACERCA DO CÉU
O Papa Bento XII (1334-1342),
na Encíclica Benedictus Deus confirmou
o Céu como dogma de fé e
que lá já estão os santos: “Com a nossa autoridade apostólica definimos que,
segundo a disposição geral de Deus, as almas de todos os santos mortos antes
da Paixão de Cristo (…) e de todos os outros fiéis mortos depois de
receberem o santo Batismo de Cristo, nos quais não houve nada a
purificar, quando morreram, (…) ou ainda, se houve ou há algo a purificar,
quando, depois da sua morte, tiverem acabado de fazê-lo, (…) antes mesmo da
ressurreição nos seus corpos e de juízo geral, e isto desde a ascensão do
Senhor e Salvador Jesus Cristo ao Céu, estiveram,
estão e estarão no Céu, no Reino dos Céus e no paraíso celeste com Cristo,
admitidos na sociedade dos santos anjos. Desde a paixão e a morte de Nosso
Senhor Jesus Cristo, viram e vêem a
essência divina com uma visão intuitiva e até face a face sem a mediação de
nenhuma criatura” (LG 49).
Diz o Catecismo (§1024):
“Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida
e de amor com ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é
denominada "o Céu". O Céu é o fim último e a realização das
aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e
definitiva.”
O Céu consiste na visão imediata de Deus: 1Jo
3,2: «seremos semelhantes a
Ele porque o veremos tal qual é». A escolástica insiste no caráter
sobrenatural da visão beatífica e exige uma especial iluminação de entendimento
a que chamou a "lumen gloriae",
ou “luz de glória” que seria um dom sobrenatural e habitual do entendimento que
o capacita para o ato da visão de Deus
(visão beatífica).
Falando da
glória dos santos no Céu, São João Crisóstomo diz que o último dos eleitos
possui no Céu um esplendor e uma glória maiores que os manifestados por Jesus
Cristo em sua transfiguração, pois, no Tabor, Ele amenizou tal glória e
esplendor para adequá-los à vista de seus três Apóstolos, São Pedro, São Tiago
e São João.
Por outro
lado, os olhos corporais não podem suportar um brilho que os olhos da alma
podem aguentar perfeitamente. Logo, os Apóstolos não viam senão a glória
exterior, enquanto no Céu veremos ao
mesmo tempo a glória exterior e interior de Deus e de cada um dos eleitos.
Santa Teresa
conta que, certo dia, o Divino Redentor mostrou-lhe sua mão glorificada. Para
dar-nos uma ideia do esplendor desta mão, estabeleceu ela a seguinte
comparação:
“Imaginai,
diz a Santa, um rio muito límpido, cujas águas correm tranquilamente por um
leito do mais puro cristal. Imaginai ainda, quinhentos mil sóis tão ou mais
brilhantes que o Sol que ilumina a Terra. Figurai-os reunindo neste rio todos
os seus raios refletidos pelo cristal sobre o qual o rio corre. Pois bem, esta
luz deslumbrante não é senão uma noite escura, comparada com o esplendor da mão
de Jesus Cristo”.
Santa Teresa
refere-se apenas, à mão de nosso Salvador. Qual não será, pois, a luz e o
brilho que emitem sua humanidade e sua divindade reunidas! Juntai ao esplendor
do Filho, o do Pai e o do Espírito Santo, o da Mãe de Deus, o dos coros dos
Anjos, dos Patriarcas e o dos Profetas, o dos Apóstolos e dos mártires, dos
confessores e das virgens e o de todos os santos, e tereis uma ideia do que é a
glória celeste.
O Papa Paulo VI, em 1967, e sua Profissão
de Fé, “O Credo do Povo de Deus”, ratificou a realidade do Céu e a intercessão
dos santos por nós: “Cremos que a multidão daqueles que estão reunidos em torno
de Jesus e de Maria no Paraíso forma a Igreja do Céu, onde na beatitude eterna
vêem a Deus como Ele é, e onde estão também, em graus diversos, associados com os Santos Anjos ao governo divino
exercido pelo Cristo na glória, intercedendo por nós e ajudando nossa fraqueza
por sua solicitude fraterna ”.
O Concilio de Florença
ensina que “... as almas dos
que morrem sem necessidade de purificação, ou depois de realizá-la no
purgatório, são imediatamente recebidas no Céu e vêm claramente a Deus uno e
trino, tal como é; uns, no entanto, com mais perfeição do que outros,
conforme a diversidade de merecimentos” (Este mérito se conquista pelas graças alcançadas em
vida).
“No Céu, diz
Santo Agostinho, não haverá ciúmes que provenham da desigualdade de amor. Todos
se amam da mesma maneira. O Céu, acrescenta, será testemunha de um belíssimo
espetáculo: nenhum inferior invejará a sorte dos que estiverem acima dele, como
no corpo humano o dedo não tem ciúme do olho, nem os ouvidos da língua, nem os
pés da cabeça”. Um pequeno vaso cheio de líquido
está tão repleto como um grande. Uma fonte cujas águas transbordam, está tão
cheia quanto o mar. Assim sucede com os eleitos. Deus está igualmente em todos. Porém, aquele que tiver acumulado mais,
não dinheiro, mas fé, terá mais capacidade relativamente a Deus.
Jesus ensina que no
Céu não haverá mais casamento, e que seremos como Anjos; isto é, a realidade da
vida conjugal já não haverá. No Céu nossa alma desposará o próprio Senhor. Será
o banquete da núpcias do Cordeiro, como nos narra o Apocalipse.
VISÃO DO CÉU DESCRITA POR SÃO JOÃO BOSCO
“Largos e gigantescos
caminhos dividiam aquela planície em vastíssimos jardins de indescritível
beleza, todos repartidos em bosquezinhos, prados e canteiros de flores, de
formas e cores variadas. Nenhuma das nossas plantas pode nos dar ideia
daquelas, embora tenham com elas alguma semelhança. As ervas, as flores, as
árvores, as frutas, eram vistosíssimas e de belíssimo aspecto. As folhas eram
de ouro; os troncos e ramos, de diamante, correspondendo todo o resto a essa
riqueza. Seria impossível contar as diferentes espécies; e cada espécie e cada
indivíduo resplandecia com uma luz própria.
No meio daqueles jardins
e em toda a extensão da planície eu contemplava incontáveis edifícios de ordem,
beleza, harmonia, magnificência e proporções tão extraordinárias, que para a
construção de um só deles me parecia não seriam suficientes todos os tesouros
da terra.
Enquanto contemplava
extasiado tão estupendas maravilhas que adornavam aqueles jardins, eis que
chega a meus ouvidos uma música dulcíssima, de tão agradável e suave harmonia
que nem posso dela dar-vos adequada idéia. Eram cem mil instrumentos,
produzindo cada qual um som diverso do outro, enquanto todos os sons possíveis
difundiam pelos ares suas ondas sonoras. A estes, somavam-se os coros de
cantores.
Vi então uma multidão de
pessoas que se encontrava naqueles jardins e se regozijava alegre e contente.
Uns tocavam, outros cantavam. Cada voz, cada nota, produzia efeito de mil
instrumentos reunidos, todos diferentes uns dos outros. Ao mesmo tempo
ouviam-se os diversos graus da escala harmônica, desde os mais baixos até os
mais agudos que se possam imaginar, mas todos em perfeita harmonia. Ah! para
descrever-vos tal harmonia não bastam comparações humanas.
Via-se, pelo rosto dos
felizes habitantes do jardim, que os cantores não só experimentavam
extraordinário prazer em cantar, mas ao mesmo tempo sentiam imenso gozo em
ouvir cantar os demais. Quanto mais um cantava, mais se lhe acendia o desejo de
cantar, e quanto mais ouvia, mais desejava ouvir.”
SOBRE
A A FELICIDADE DO CÉU - SANTO AFONSO DE LIGÓRIO
“Depois de entrar na felicidade de Deus, a
alma não terá mais nada a sofrer. No paraíso não há doenças, nem pobreza, nem
incômodos. Deixam de existir as vicissitudes dos dias e das noites, do frio e
do calor; é um dia perpétuo, sempre sereno, primavera perpétua, sempre
deliciosa. Não há perseguições nem ciúmes; neste reino de amor, todos os seus
habitantes se amam mútua e ternamente, e cada qual é tão feliz da ventura dos
outros como da própria. Não há receios, porque a alma, confirmada na graça, já
não pode pecar nem perder a Deus. Tudo é novo, tudo consola, tudo satisfaz.
Os olhos deslumbrar-se-ão com a vista desta
cidade cuja beleza é perfeita. Que maravilha não nos causaria a vista de uma cidade
cujas ruas fossem calçadas de cristal, e cujas casas fossem palácios de prata
ornados de cortinados de ouro e de grinaldas de flores de toda espécie. Oh,
quanto mais bela ainda é a cidade celeste!
Que delicioso não será ver todos os seus
habitantes vestidos com pompa real, porque todos efetivamente são reis, como
lhes chama Santo Agostinho: Quot cives, tot reges (Quantos cidadãos, tantos reis).
Que delicioso não será ver Maria, que
parecerá mais bela que todo o paraíso! Que delicioso não será ver o Cordeiro
divino, Jesus, o Esposo das almas!
Um dia Santa Teresa viu apenas uma das mãos
de Cristo e ficou cheia de admiração à vista de semelhante beleza.
Cheiros suavíssimos, perfumes incomparáveis
regalarão o olfato. O ouvido ouvirá arrebatado as harmonias celestes. Um Anjo
deixou um dia São Francisco ouvir um único som da música celeste, e o
Santo julgou morrer de felicidade. O que não será ouvir todos os Santos e todos
os Anjos cantarem em coro os louvores de Deus! O que não será ouvir
Maria celebrar as glórias do Altíssimo! A voz de Maria é no Céu, diz São
Francisco de Sales, o que é num bosque a do rouxinol, que vence a de todas as
outras aves.
Numa palavra, o paraíso é a reunião de
todos os gozos que se podem desejar.
Mas essas inefáveis delícias até aqui
consideradas são apenas os menores bens do paraíso. O bem, que faz o paraíso, é
o Bem supremo, que é Deus, diz Santo
Agostinho. A recompensa que o Senhor nos promete não consiste unicamente nas
belezas, nas harmonias, nos outros encantos da bem-aventurada cidade; a recompensa principal é Deus, isto é,
consiste em ver Deus face a face a amá-Lo.”
ENTRADA DA ALMA NO CÉU – MEDITAÇÃO DE SANTO AFONSO
“Oh Deus! Que dirá a alma
ao entrar no reino bem-aventurado do Céu? Imaginemos ver morrer essa virgem,
esse jovem, que, tendo-se consagrado ao amor de Jesus Cristo, e, chegada a hora
da morte, vai deixar esta terra. Sua alma apresenta-se para ser julgada; o Juiz
acolhe-a com bondade e lhe declara que está salva. O seu Anjo da guarda vem ao
seu encontro e mostra-se todo contente; ela lhe agradece toda a assistência
recebida, e o anjo responde-lhe: Alegra-te, alma formosa; já estás salva; vem
contemplar a face do teu Senhor.
Eis que a alma
se eleva acima das nuvens, acima do firmamento e de todas as estrelas: entra no
Céu. Que dirá ao penetrar pela primeira vez nessa pátria bem-aventurada, ao
lançar o primeiro olhar sobre essa cidade de delícias? Os Anjos e os Santos
saem-lhe ao encontro e lhe dão, jubilosos, as boas vindas. Que consolação
experimentará ao encontrar ali os parentes e amigos que a precederam, e os seus
gloriosos protetores! A alma quererá prostrar-se diante deles; mas os Santos
lhe dirão: Guarda-te de o fazer; porque somos servos como tu.
Ela irá depois
beijar os pés de Maria, a Rainha do paraíso. Que ternura não experimentará ao
ver pela primeira vez essa divina Mãe, que tanto a ajudou a salvar-se! Então a
alma verá todas as graças que Maria lhe alcançou. A Rainha celestial abraça-a
amorosamente e a conduz a Jesus que a acolhe como esposa e lhe diz: “Vem
do Líbano, esposa minha; vem, serás coroada”. Regozija-te, esposa querida,
passaram já as lágrimas, as penas, os temores: recebe a coroa eterna que te
alcancei a preço de meu sangue. Ah, meu Jesus! Quando chegará o dia em que eu
também ouvirei de tua boca estas doces palavras?”
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