A sexualidade afeta todos os
aspectos da pessoa humana, na sua unidade de corpo e alma. Por isso a castidade
é imprescindível para o seguimento de Cristo, para o respeito aos outros e para
uma ordem social justa, na qual o corpo e os sentimentos – e com eles a pessoa
– não se convertam em meros instrumentos de prazer.
O título é esse mesmo: Castidade.
Sem anestesia. Um título que é politicamente incorreto porque, segundo os
cronistas atuais, o correto seria afirmar que os ensinamentos católicos em
matéria de sexo são – ou parecem ser – “aberrações”, como dizem algumas páginas
na Internet e alguém do alto escalão da Comunidade Européia. Evidentemente não
concordo com essa afirmação, mas respeito quem as fez. Mais ainda: quero
escrever de forma positiva, tanto ao referir-me às opiniões contrárias como ao
tratar da própria virtude, que no dizer de São Josemaría Escrivá “é uma
afirmação gozosa” (Amigos de Deus, nº 177).
Embora a autoridade em doutrina
católica seja o Magistério da Igreja, não faz mal citar estas palavras de
Goethe: “Pensamentos grandes e coração puro, isso é o que teríamos que pedir a
Deus”, pois elas de algum modo sintetizam a castidade.
O Catecismo da Igreja Católica
afirma que “a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade
de corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de
amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão para criar vínculos
de comunhão com os outros” (n. 2332). Parece-me que os pensamentos grandes e o
coração limpo do genial Goethe são mais fáceis de cultivar nesse contexto em
que o Catecismo resume a sexualidade. Basta pensar na referência que faz à
pessoa humana inteira, e já se pode descartar que a sexualidade seja somente o
uso dos órgãos genitais. Uma sexualidade que se resuma a isso é muito pobre;
mais ainda: pode corroer-se e ser destruída, corrompida pela busca constante de
novas sensações, que logo ao nascerem já envelhecem.
Um pouco mais à frente o
Catecismo acrescenta: “A castidade significa a integração correta da
sexualidade na pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu ser
corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao
mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando é
integrada na relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e
temporalmente ilimitada, do homem e da mulher. A virtude da castidade comporta,
portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação”.
Essas linhas expressam muitas
idéias:
– A sexualidade procede da
corporalidade, mas se integra na pessoa que se relaciona com outra pessoa na
forma de uma doação mútua entre o homem e a mulher, mediante vinculação
permanente que chamamos matrimônio.
– A integração na pessoa alude à
sua unidade, uma unidade que não tolera nem a dupla vida nem a dupla linguagem.
Isso implica um domínio de si próprio para ser fiel ao dom que faz à outra
pessoa.
– A sexualidade se realiza num
homem e numa mulher cuja capacidade unitiva e procriativa estão entrelaçadas de
forma harmônica com todos os aspectos do seu próprio ser.
Talvez seja por isso que
Lacordaire disse que “a castidade não é uma virtude própria do claustro e dos
iniciados. É uma virtude moral e social, uma virtude necessária para a vida do
gênero humano”. É imprescindível para o seguimento de Cristo, para o respeito
aos outros e para uma ordem social justa, na qual o corpo e os sentimentos – e
com eles a pessoa – não se convertam em meros instrumentos de prazer. Santo
Agostinho ia muito mais longe ao comentar a conhecida bem aventurança: “Queres
ver a Deus? Escuta-O: Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a
Deus. Em primeiro lugar pensa na pureza do teu coração; aquilo que nele vejas
que desagrada a Deus, elimina-o.”
Por essas e por outras razões –
também de tipo natural – a Igreja pede a virtude da castidade a todos os que
queiram seguir a Cristo, quer sejam solteiros ou casados. Aos solteiros lhes
exige a continência total; aos casados, que os atos próprios do amor conjugal
estejam abertos à vida. Isso porque a pureza – como disse João Paulo II –
“sempre é exigida pelo amor: é a dimensão da sua verdade interior no coração do
homem”. Se há amor verdadeiro no coração, há de manifestar-se externamente de
modo casto: “Onde não há amor a Deus, reina a concupiscência” (Santo
Agostinho).
Pode-se argumentar dizendo que há
católicos que vivem à margem desses ensinamentos. Sabemos muito bem que eles
existem, mas esse comportamento não somente não altera em nada a doutrina de
Cristo – como o fato de haver ladrões não implica que o roubo deva ser
permitido – como também não é irrevogável: sempre podemos ser o filho pródigo
que regressa à casa do Pai mediante o Sacramento da Penitência.
Também se pode afirmar que ser
casto exige um heroísmo impossível. Não é bem assim quando – além de contar com
a ajuda de Deus na oração e nos sacramentos – se sabe antepor ao sexo outros
interesses mais fortes: a fé, a família, o trabalho, o serviço aos outros,
gostos humanos nobres, etc. E também empreender a luta: a boa ascética cristã,
que não fabrica super-homens, mas sim pessoas que sabem o que é fortaleza e
vontade firme. “Gravai-o na vossa cabeça – diz São Josemaría comparando a
castidade às asas, que embora pesem são imprescindíveis para voar – decididos a
não ceder se notais a mordida da tentação, que se insinua apresentando a pureza
como um fardo insuportável. Ânimo! Para o alto! Até o sol, à caça do Amor”
(Amigos de Deus, nº 177).
(Pablo Cabellos Llorente)
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