segunda-feira, 8 de abril de 2013

Castidade


A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade de corpo e alma. Por isso a castidade é imprescindível para o seguimento de Cristo, para o respeito aos outros e para uma ordem social justa, na qual o corpo e os sentimentos – e com eles a pessoa – não se convertam em meros instrumentos de prazer.
O título é esse mesmo: Castidade. Sem anestesia. Um título que é politicamente incorreto porque, segundo os cronistas atuais, o correto seria afirmar que os ensinamentos católicos em matéria de sexo são – ou parecem ser – “aberrações”, como dizem algumas páginas na Internet e alguém do alto escalão da Comunidade Européia. Evidentemente não concordo com essa afirmação, mas respeito quem as fez. Mais ainda: quero escrever de forma positiva, tanto ao referir-me às opiniões contrárias como ao tratar da própria virtude, que no dizer de São Josemaría Escrivá “é uma afirmação gozosa” (Amigos de Deus, nº 177).
Embora a autoridade em doutrina católica seja o Magistério da Igreja, não faz mal citar estas palavras de Goethe: “Pensamentos grandes e coração puro, isso é o que teríamos que pedir a Deus”, pois elas de algum modo sintetizam a castidade.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão para criar vínculos de comunhão com os outros” (n. 2332). Parece-me que os pensamentos grandes e o coração limpo do genial Goethe são mais fáceis de cultivar nesse contexto em que o Catecismo resume a sexualidade. Basta pensar na referência que faz à pessoa humana inteira, e já se pode descartar que a sexualidade seja somente o uso dos órgãos genitais. Uma sexualidade que se resuma a isso é muito pobre; mais ainda: pode corroer-se e ser destruída, corrompida pela busca constante de novas sensações, que logo ao nascerem já envelhecem.
Um pouco mais à frente o Catecismo acrescenta: “A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando é integrada na relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e temporalmente ilimitada, do homem e da mulher. A virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação”.
Essas linhas expressam muitas idéias:

– A sexualidade procede da corporalidade, mas se integra na pessoa que se relaciona com outra pessoa na forma de uma doação mútua entre o homem e a mulher, mediante vinculação permanente que chamamos matrimônio.

– A integração na pessoa alude à sua unidade, uma unidade que não tolera nem a dupla vida nem a dupla linguagem. Isso implica um domínio de si próprio para ser fiel ao dom que faz à outra pessoa.

– A sexualidade se realiza num homem e numa mulher cuja capacidade unitiva e procriativa estão entrelaçadas de forma harmônica com todos os aspectos do seu próprio ser.

Talvez seja por isso que Lacordaire disse que “a castidade não é uma virtude própria do claustro e dos iniciados. É uma virtude moral e social, uma virtude necessária para a vida do gênero humano”. É imprescindível para o seguimento de Cristo, para o respeito aos outros e para uma ordem social justa, na qual o corpo e os sentimentos – e com eles a pessoa – não se convertam em meros instrumentos de prazer. Santo Agostinho ia muito mais longe ao comentar a conhecida bem aventurança: “Queres ver a Deus? Escuta-O: Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Em primeiro lugar pensa na pureza do teu coração; aquilo que nele vejas que desagrada a Deus, elimina-o.”
Por essas e por outras razões – também de tipo natural – a Igreja pede a virtude da castidade a todos os que queiram seguir a Cristo, quer sejam solteiros ou casados. Aos solteiros lhes exige a continência total; aos casados, que os atos próprios do amor conjugal estejam abertos à vida. Isso porque a pureza – como disse João Paulo II – “sempre é exigida pelo amor: é a dimensão da sua verdade interior no coração do homem”. Se há amor verdadeiro no coração, há de manifestar-se externamente de modo casto: “Onde não há amor a Deus, reina a concupiscência” (Santo Agostinho).
Pode-se argumentar dizendo que há católicos que vivem à margem desses ensinamentos. Sabemos muito bem que eles existem, mas esse comportamento não somente não altera em nada a doutrina de Cristo – como o fato de haver ladrões não implica que o roubo deva ser permitido – como também não é irrevogável: sempre podemos ser o filho pródigo que regressa à casa do Pai mediante o Sacramento da Penitência.
Também se pode afirmar que ser casto exige um heroísmo impossível. Não é bem assim quando – além de contar com a ajuda de Deus na oração e nos sacramentos – se sabe antepor ao sexo outros interesses mais fortes: a fé, a família, o trabalho, o serviço aos outros, gostos humanos nobres, etc. E também empreender a luta: a boa ascética cristã, que não fabrica super-homens, mas sim pessoas que sabem o que é fortaleza e vontade firme. “Gravai-o na vossa cabeça – diz São Josemaría comparando a castidade às asas, que embora pesem são imprescindíveis para voar – decididos a não ceder se notais a mordida da tentação, que se insinua apresentando a pureza como um fardo insuportável. Ânimo! Para o alto! Até o sol, à caça do Amor” (Amigos de Deus, nº 177).

(Pablo Cabellos Llorente)


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