AS GRANDES MORTIFICAÇÕES DE
ALGUNS SANTOS NÃO SÃO UMA ESPÉCIE DE SUICÍDIO INDIRETO?
"Deve-se considerar - diz São Tomás de Aquino - que na vida
espiritual o amor a Deus é o fim ao qual é preciso visar. Os jejuns, as
vigílias, as outras mortificações corporais não podem ser procuradas como fim,
não passam de meios necessários para se conseguir dominar a carne. E, portanto,
seu uso deve ser regulado pela razão. É preciso, de uma parte, refrear a
concupiscência e, de outra, não extenuar a natureza. Se, pois, alguém, por jejuns, vigílias e outras mortificações
excessivas, chegasse a arruinar sua saúde a
ponto de ficar na impossibilidade de cumprir seus deveres, esse pecaria. Pecariam, pois, mortificando-se em demasia, o
professor que não pudesse mais ensinar, o pregador que se tornasse incapaz de
pregar, o cantor que perdesse a voz; pecaria também o marido que se tornasse
impotente para cumprir com sua esposa o dever conjugal" (Quodl. V, q. IX,
a. 8).
ALGUNS EXERCÍCIOS DE MORTIFICAÇÃO...
Regule seu sono, evitando nisto toda relaxação ou
molície, sobretudo pela manhã. Se pode, fixe-se uma hora para deitar-se e
levantar-se, e obrigue-se a ela energicamente;
Tenha seus ouvidos fechados às palavras
bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências,
às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às suspeitas
comunicadas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas
almas;
No que concerne à qualidade dos alimentos, seja
muito respeitoso do conselho de Nosso Senhor: “Comei o que vos for
apresentado“. “Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem
mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a
verdadeira mortificação“, dizia São Francisco de Sales;
Ofereça a Deus suas comidas, imponha-se na mesa uma
pequena privação: por exemplo, negue-se um grão de sal, um copo de vinho, uma
guloseima, etc.; os demais não o perceberão, mas Deus o terá em conta;
Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne;
especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas os
incômodos do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as
temperaturas. Diga com o profeta: “Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor“.
Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco
nem cortante.
Diante de uma humilhação ou repreensão, se sente
tentado a murmurar. Diga como Davi: “Melhor assim! Me é bom ser humilhado!“;
Quando lhe custe fazer um favor, ofereça-se a
fazê-lo: terá duplo mérito!
O ENSINAMENTO DE SÃO JOÃO DA CRUZ
São João da Cruz, na sua
obra Subida do Monte Carmelo,
aconselha poeticamente:
Procure
sempre inclinar-se:
não ao mais fácil, mas ao mais difícil;
não ao mais saboroso, mas ao mais severo;
não ao mais gostoso, mas antes ao que dá menos
gosto;
não ao que é descanso, mas ao trabalhoso;
não ao que é consolo, se não antes ao desconsolo;
não ao mais, mas sim ao menos;
não ao mais alto e precioso, mas ao mais baixo e
desprezível;
não ao que é querer algo, mas a não querer nada;
não andar buscando o melhor das coisas temporais,
mas o pior,
e desejar entrar em toda desnudez e vazio e pobreza
por Cristo
de tudo quanto há no mundo.
POSICIONAMENTO DA CNBB EM RELAÇÃO AO TEMA
Jejum e Abstinência no
Brasil - Texto Complementar da CNBB
Quanto aos Cân. 1251 e
1253 do Código de Direito Canônico:
1- Toda a sexta-feira do
ano é dia de penitência, a não ser que coincida com solenidade do calendário
litúrgico. Os fiéis nesse dia se abstenham de carne ou outro alimento, ou
pratiquem alguma forma de penitência, principalmente obra de caridade ou
exercício de piedade.
2- A quarta-feira de
cinzas e a sexta-feira santa, memória da Paixão e Morte de Cristo, são dias de
jejum e abstinência. A abstinência pode ser substituída pelos próprios fiéis
por outra prática de penitência, caridade ou piedade, particularmente pela
participação nesses dias na Sagrada Liturgia.
PRÁTICAS DE JEJUM
SOBRE O JEJUM
Santo Agostinho reconhece o valor espiritual e
moral do jejum: “a abstinência purifica a alma, eleva a mente, subordina a
carne ao espírito, cria um coração humilde e contrito, espalha as nuvens da
concupiscência, extingue o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz da
castidade” (Sermão sobre a oração
e o jejum).
São Paulo dá um sentido mais amplo ao jejum,
inserindo-o nas práticas que nos ajudam a viver segundo o Espírito e não apenas
segundo a carne: “Portanto irmãos, não somos devedores da carne, para que
vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de
morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois
todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8,
13-14).
BENEFÍCIOS DO JEJUM
· Disciplina a forma desordenada e irregular de
comer e o mau hábito de beliscar entre as refeições, fumar, tomar café, chás,
doces lanches e refrigerantes, a todo instante;
· Mantém a mente descansada, mais aberta e sensível
às coisas espirituais;
· Aumenta a estabilidade mental e psicológica
através do domínio das emoções, torna o corpo leve, ativo e incansável (a
história demonstra que os filósofos pagãos, na Grécia antiga, para um melhor
desempenho intelectual, jejuavam espontaneamente antes de entrarem em debates
públicos).
- Estimula a partilha com generosidade e abrir o
nosso coração à caridade, oferecendo aos necessitados aquilo que vem a sobrar
em nossas despensas: “Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é
preferível aos tesouros de ouro escondidos” (Tb 12,8)
· Docilidade e abertura às inspirações do Espírito
Santo;
· Maior silêncio, busca da meditação, confiança e
disposição para a adoração;
· Libertação a partir da renúncia à gula, luxúria,
preguiça e demais pecados capitais;
RESPEITO HUMANO
Algo
muito presente em nossas vidas, que diversas vezes nos impede de testemunhar a
fé é o chamado “respeito humano”: uma vergonha de assumir a identidade cristã,
de denunciar uma má ação ou corrigir um irmão.
1º - Contentar a Deus, há de ser
sempre tua principal preocupação.
O Padre Clemente Hoffbauer, a um senhor importante, que se ufanava da
sua distinta posição, quis um dia fazer-lhe ver o que é o homem. Curvando-se
para o chão, tomou um pouco de pó na mão e mostrou-lho com as seguintes
palavras: "Vede, isto é o homem, uma mão cheia de pó!"
Mas, que é um punhado de pó confrontado com toda a terra, com suas
planícies, colinas e montanhas? Como é incrivelmente minúsculo, comparado com
os inumeráveis e incomensuráveis corpos celestes que há milhares de anos
percorrem a sua órbita! Como é, infinitamente pequeno e insignificante, em face
de Deus infinitamente grande e onipotente, que com simples ato da sua vontade,
tudo chamou à existência e lha conserva de contínuo!
A este Deus infinitamente grande e soberano deves temer e, portanto, não
ofender; mas o homem fraco e mesquinho, punhado de pó, não temas. Nunca sejas
infiel ao teu dever, por causa de um tímido olhar humano, nem, por seu insípido
escárneo, jamais pratiques ato algum pecaminoso.
2º - Guarda-te do respeito
humano!
No dia do teu Batismo e Crisma te colocaste solenemente sob o
estandarte de Jesus Cristo. Ao receber este Sacramento, prometeste
firmemente, que sempre e em todas as circunstâncias, havias de te conservar
fiel a Jesus Cristo e a sua Santa Igreja.
A bandeira de um rei da terra é muitas vezes defendida com grande
coragem. Muitos soldados preferem sacrificar a própria vida entre ferimentos e
dores atrozes, a entregar ao inimigo a bandeira do seu rei. Não deveria
com igual, e mesmo com maior amor e entusiamo, defender a bandeira isto é, os
santos interesses de Jesus Cristo?
Intrepidez
e firmeza é o que de ti espera o Senhor.
"Aquele que me confessar diante dos homens, também eu o
confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; e o que me negar diante dos
homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus"
(Mat. 10,32).
Como católico, não tens realmente, nenhum motivo de te envergonhar da
tua Igreja. Ainda não ouviste de certo, que
uma jovem sadia e viçosa, se envergonhasse de sua próspera saúde, pelo fato de
ter encontrado outra jovem desbaratada por alguma enfermidade contumaz.
Nunca viste um homem, com os membros íntegros e perfeitos, corar de
vergonha por ver outro, que só podia mover-se com o auxílio de muletas.
Em suma: ninguém, que se tenha por sensato e racional, se envergonha
jamais de uma boa ação.
Não tens, realmente nenhum motivo para te envergonhares da Santa Igreja
que, no decurso de tantos séculos, manifestou uma admirável força divina; de
todas as perseguições, até mesmo das mais violentas, saiu sempre vitoriosa;
sempre rejuvenescida; sempre novamente robustecida; enquanto tudo, em derredor
caía em ruínas, até mesmo os tronos e os reinos dos mais poderosos soberanos.
Não tens, realmente, nenhum motivo de te envergonhares de tua Santa
Igreja que, em todos os contou entre seus filhos, grande número de homens os
mais nobres, melhores e mais sábios, grandes heróis da virtude e benfeitores da
humanidade. Não seria, pois, rematada loucura envergonhar-se dela?
Muito ao contrário, se lançares a tua vista para a nossa Igreja
Católica, deves sentir-se possuído de um elevado sentimento de amável
gratidão, pois a história de todos os tempos e de todos os povos jamais viu
uma instituição tão grandiosa, tão magnífica e tão benfazeja como esta. Faze,
pois, que te animem sempre aqueles grandes sentimentos de Santa Teresa, a qual
ainda no seu leito de morte dizia:
"Meu Deus, eu Vos agradeço por ser filha da Vossa Igreja".
(Excertos do livro: A donzela cristã , do Pe.
Matias de Bermscheid)
"Ama a Verdade, mostra-te
como és, sem fingimentos, sem receios, sem respeito humano. Se a Verdade te
custa a perseguição, aceita-a; se te custa o tormento, suporta-o. E se, pela
Verdade, tivesses que sacrificar-te a ti mesmo e a tua vida, sê forte no
sacrifício". (São José Moscati)
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