quinta-feira, 22 de março de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (21/03/2012) - Tema: MORTIFICAÇÃO (PARTE II)


AS GRANDES MORTIFICAÇÕES DE ALGUNS SANTOS NÃO SÃO UMA ESPÉCIE DE SUICÍDIO INDIRETO?

"Deve-se considerar - diz São Tomás de Aquino - que na vida espiritual o amor a Deus é o fim ao qual é preciso visar. Os jejuns, as vigílias, as outras mortificações corporais não podem ser procuradas como fim, não passam de meios necessários para se conseguir dominar a carne. E, portanto, seu uso deve ser regulado pela razão. É preciso, de uma parte, refrear a concupiscência e, de outra, não extenuar a natureza. Se, pois, alguém, por jejuns, vigílias e outras mortificações excessivas, chegasse a arruinar sua saúde a ponto de ficar na impossibilidade de cumprir seus deveres, esse pecaria. Pecariam, pois, mortificando-se em demasia, o professor que não pudesse mais ensinar, o pregador que se tornasse incapaz de pregar, o cantor que perdesse a voz; pecaria também o marido que se tornasse impotente para cumprir com sua esposa o dever conjugal" (Quodl. V, q. IX, a. 8).


ALGUNS EXERCÍCIOS DE MORTIFICAÇÃO...

Regule seu sono, evitando nisto toda relaxação ou molície, sobretudo pela manhã. Se pode, fixe-se uma hora para deitar-se e levantar-se, e obrigue-se a ela energicamente;
Tenha seus ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às suspeitas comunicadas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas almas;
No que concerne à qualidade dos alimentos, seja muito respeitoso do conselho de Nosso Senhor: “Comei o que vos for apresentado“. “Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a verdadeira mortificação“, dizia São Francisco de Sales;
Ofereça a Deus suas comidas, imponha-se na mesa uma pequena privação: por exemplo, negue-se um grão de sal, um copo de vinho, uma guloseima, etc.; os demais não o perceberão, mas Deus o terá em conta;
Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne; especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas os incômodos do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as temperaturas. Diga com o profeta: “Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor“.
Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante.
Diante de uma humilhação ou repreensão, se sente tentado a murmurar. Diga como Davi: “Melhor assim! Me é bom ser humilhado!“;
Quando lhe custe fazer um favor, ofereça-se a fazê-lo: terá duplo mérito!


O ENSINAMENTO DE SÃO JOÃO DA CRUZ

São João da Cruz, na sua obra Subida do Monte Carmelo, aconselha poeticamente:
Procure sempre inclinar-se:
não ao mais fácil, mas ao mais difícil;
não ao mais saboroso, mas ao mais severo;
não ao mais gostoso, mas antes ao que dá menos gosto;
não ao que é descanso, mas ao trabalhoso;
não ao que é consolo, se não antes ao desconsolo;
não ao mais, mas sim ao menos;
não ao mais alto e precioso, mas ao mais baixo e desprezível;
não ao que é querer algo, mas a não querer nada;
não andar buscando o melhor das coisas temporais, mas o pior,
e desejar entrar em toda desnudez e vazio e pobreza por Cristo
de tudo quanto há no mundo.


POSICIONAMENTO DA CNBB EM RELAÇÃO AO TEMA

Jejum e Abstinência no Brasil - Texto Complementar da CNBB
Quanto aos Cân. 1251 e 1253 do Código de Direito Canônico:

1- Toda a sexta-feira do ano é dia de penitência, a não ser que coincida com solenidade do calendário litúrgico. Os fiéis nesse dia se abstenham de carne ou outro alimento, ou pratiquem alguma forma de penitência, principalmente obra de caridade ou exercício de piedade.

2- A quarta-feira de cinzas e a sexta-feira santa, memória da Paixão e Morte de Cristo, são dias de jejum e abstinência. A abstinência pode ser substituída pelos próprios fiéis por outra prática de penitência, caridade ou piedade, particularmente pela participação nesses dias na Sagrada Liturgia.
                          

PRÁTICAS DE JEJUM



SOBRE O JEJUM

Santo Agostinho reconhece o valor espiritual e moral do jejum: “a abstinência purifica a alma, eleva a mente, subordina a carne ao espírito, cria um coração humilde e contrito, espalha as nuvens da concupiscência, extingue o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz da castidade” (Sermão sobre a oração e o jejum).
São Paulo dá um sentido mais amplo ao jejum, inserindo-o nas práticas que nos ajudam a viver segundo o Espírito e não apenas segundo a carne: “Portanto irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 13-14).


BENEFÍCIOS DO JEJUM

· Disciplina a forma desordenada e irregular de comer e o mau hábito de beliscar entre as refeições, fumar, tomar café, chás, doces lanches e refrigerantes, a todo instante;
· Mantém a mente descansada, mais aberta e sensível às coisas espirituais;
· Aumenta a estabilidade mental e psicológica através do domínio das emoções, torna o corpo leve, ativo e incansável (a história demonstra que os filósofos pagãos, na Grécia antiga, para um melhor desempenho intelectual, jejuavam espontaneamente antes de entrarem em debates públicos).
- Estimula a partilha com generosidade e abrir o nosso coração à caridade, oferecendo aos necessitados aquilo que vem a sobrar em nossas despensas: “Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos” (Tb 12,8)
· Docilidade e abertura às inspirações do Espírito Santo;
· Maior silêncio, busca da meditação, confiança e disposição para a adoração;
· Libertação a partir da renúncia à gula, luxúria, preguiça e demais pecados capitais;


RESPEITO HUMANO

Algo muito presente em nossas vidas, que diversas vezes nos impede de testemunhar a fé é o chamado “respeito humano”: uma vergonha de assumir a identidade cristã, de denunciar uma má ação ou corrigir um irmão.

1º - Contentar a Deus, há de ser sempre tua principal preocupação.

O Padre Clemente Hoffbauer, a um senhor importante, que se ufanava da sua distinta posição, quis um dia fazer-lhe ver o que é o homem. Curvando-se para o chão, tomou um pouco de pó na mão e mostrou-lho com as seguintes palavras: "Vede, isto é o homem, uma mão cheia de pó!"
Mas, que é um punhado de pó confrontado com toda a terra, com suas planícies, colinas e montanhas? Como é incrivelmente minúsculo, comparado com os inumeráveis e incomensuráveis corpos celestes que há milhares de anos percorrem a sua órbita! Como é, infinitamente pequeno e insignificante, em face de Deus infinitamente grande e onipotente, que com simples ato da sua vontade, tudo chamou à existência e lha conserva de contínuo!
A este Deus infinitamente grande e soberano deves temer e, portanto, não ofender; mas o homem fraco e mesquinho, punhado de pó, não temas. Nunca sejas infiel ao teu dever, por causa de um tímido olhar humano, nem, por seu insípido escárneo, jamais pratiques ato algum pecaminoso.

2º - Guarda-te do respeito humano!

No dia do teu Batismo e Crisma te colocaste solenemente sob o estandarte de Jesus Cristo. Ao receber este Sacramento, prometeste firmemente, que sempre e em todas as circunstâncias, havias de te conservar fiel a Jesus Cristo e a sua Santa Igreja.
A bandeira de um rei da terra é muitas vezes defendida com grande coragem. Muitos soldados preferem sacrificar a própria vida entre ferimentos e dores atrozes, a entregar ao inimigo a bandeira do seu rei. Não deveria com igual, e mesmo com maior amor e entusiamo, defender a bandeira isto é, os santos interesses de Jesus Cristo? 
Intrepidez e firmeza é o que de ti espera o Senhor.
"Aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; e o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus" (Mat. 10,32).
Como católico, não tens realmente, nenhum motivo de te envergonhar da tua Igreja. Ainda não ouviste de certo, que uma jovem sadia e viçosa, se envergonhasse de sua próspera saúde, pelo fato de ter encontrado outra jovem desbaratada por alguma enfermidade contumaz.
Nunca viste um homem, com os membros íntegros e perfeitos, corar de vergonha por ver outro, que só podia mover-se com o auxílio de muletas.
Em suma: ninguém, que se tenha por sensato e racional, se envergonha jamais de uma boa ação.
Não tens, realmente nenhum motivo para te envergonhares da Santa Igreja que, no decurso de tantos séculos, manifestou uma admirável força divina; de todas as perseguições, até mesmo das mais violentas, saiu sempre vitoriosa; sempre rejuvenescida; sempre novamente robustecida; enquanto tudo, em derredor caía em ruínas, até mesmo os tronos e os reinos dos mais poderosos soberanos.
Não tens, realmente, nenhum motivo de te envergonhares de tua Santa Igreja que, em todos os contou entre seus filhos, grande número de homens os mais nobres, melhores e mais sábios, grandes heróis da virtude e benfeitores da humanidade. Não seria, pois, rematada loucura envergonhar-se dela?
Muito ao contrário, se lançares a tua vista para a nossa Igreja Católica, deves sentir-se possuído de um elevado sentimento de amável gratidão, pois a história de todos os tempos e de todos os povos jamais viu uma instituição tão grandiosa, tão magnífica e tão benfazeja como esta. Faze, pois, que te animem sempre aqueles grandes sentimentos de Santa Teresa, a qual ainda no seu leito de morte dizia:

"Meu Deus, eu Vos agradeço por ser filha da Vossa Igreja".

(Excertos do livro: A donzela cristã , do Pe. Matias de Bermscheid)

"Ama a Verdade, mostra-te como és, sem fingimentos, sem receios, sem respeito humano. Se a Verdade te custa a perseguição, aceita-a; se te custa o tormento, suporta-o. E se, pela Verdade, tivesses que sacrificar-te a ti mesmo e a tua vida, sê forte no sacrifício". (São José Moscati)


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