quinta-feira, 7 de março de 2013

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (06/03/2013) - Tema: A RENÚNCIA DE BENTO XVI E O CONCLAVE


A RENÚNCIA DE BENTO XVI

A renúncia de um Papa está prevista no Código de Direito Canônico, no artigo 332.2, que estabelece que, para ter validade, é preciso que seja de livre e espontânea vontade e não precisa ser aceita por ninguém.
No dia 11 de fevereiro, assim se pronunciou Bento XVI: Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20 horas, a sé de Roma, a sé de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.”
Bento XVI se encontra na residência papal de verão, Castelgandolfo, a cerca de 30 quilômetros ao sul de Roma. Enquanto estiver na residência de verão, o mosteiro Mater Ecclesiae, localizado no Vaticano, será reformado para receber Bento XVI. O mosteiro – o único que existe dentro do Vaticano – foi construído em 1992, sob instruções do Papa João Paulo II, que queria criar um espaço para aqueles que dedicam sua vida à contemplação.
O secretário do papa e prefeito regional da Casa Pontifícia, Georg Gänswein, e as quatro laicas consagradas da comunidade “Memores Domini” que cuidam do pontífice acompanharão Bento XVI durante sua estadia em Castelgandolfo e depois no mosteiro do Vaticano onde viverá.
A partir de agora, Bento XVI poderá ser chamado de: Papa Emérito Bento XVI, Pontífice Romano Emérito e Bispo Emérito de Roma. O nome Bento XVI será preservado e ficará com ele até a sua morte. Segundo o Vaticano, o título honorífico de “Sua Santidade” também permanecerá.
Bento XVI usará batina papal branca sem mantelete (uma espécie de capa que encobre os ombros) e deixará de usar os sapatos vermelhos, chamados de múleo, passando a utilizar calçados comuns.
O cargo de Papa é vitalício, por isso não estão previstos benefícios para Bento XVI, como uma aposentadoria. Além disso, o Papa não recebe oficialmente um salário – suas necessidades são cobertas pela Santa Sé. Como Bento XVI continuará sendo Bispo, ele terá acesso ao plano de saúde do Vaticano e provavelmente aos médicos que acompanham atualmente sua saúde. As necessidades materiais dos bispos e padres são cobertas pelas dioceses quando eles se aposentam. Perguntado se Bento XVI terá uma aposentadoria, o porta-voz do Vaticano não forneceu uma resposta clara, mas deu a entender que ele terá tudo o que precisa para viver. “Vamos garantir que tenha uma existência digna”, afirmou.

O COLÉGIO DE CARDEAIS

Os cardeais são a mais alta hierarquia na Igreja depois do Papa. Atualmente, há 209 cardeais, mas apenas os que têm menos de 80 anos no início do período de Sé Vacante podem votar e ser eleitos – o que reduz a 117 o número de votantes a partir de 28 de fevereiro, data marcada para a saída de Bento XVI. Entre eles, 67 foram nomeados por Bento XVI e 50 por seu antecessor, João Paulo II. O número máximo de cardeais eleitores é de 120.
 Não é necessário ser bispo para ser nomeado cardeal – por isso, a Constituição Católica determina que se o cardeal eleito como o novo papa ainda não for bispo, receba a ordenação logo após aceitar o cargo, para que possa assumir como Bispo de Roma.
Oficialmente, não há requisitos básicos para que uma pessoa seja eleita Papa – basta que ela seja um homem batizado e ter pleno uso da razão. Entretanto, na prática, há mais de 600 anos o eleito sempre tem sido um cardeal. Caso o cardeal eleito ainda não seja bispo, ele é ordenado logo após a eleição – já que o papa é o Bispo de Roma. O escolhido precisa ter o voto de dois terços dos cardeais votantes para ser eleito.
Os cargos nos Dicastérios da Cúria Romana cessam com o final do pontificado e só alguns Cardeais mantêm cargos especiais durante a Sede Vacante.
A administração dos bens temporais da Igreja está nas mãos do Cardeal Camerlengo, que é encarregado de destruir o Anel do Pescador e os selos papais a fim de que não seja expedido nenhum documento em nome do Pontífice anterior. Os aposentos papais são selados enquanto transcorre a eleição. O Camerlengo dirige as tarefas cotidianas do Palácio Apostólico, Palácio Lateranense e Castel Gandolfo. Na presente Sede Vacante, o Camerlengo é o Cardeal Tarcisio Bertone, nomeado nesta função por Sua Santidade Bento XVI em 2007.
O segundo cargo é o do Decano do Colégio dos Cardeais, que deve fazer a convocatória oficial dos Cardeais que são notificados sobre a morte ou a renúncia do Papa e lhes é pedido que se dirijam a Roma para a eleição do seu sucessor. Esta convocatória realizou-se no primeiro dia da Sede Vacante, 01 de março, pelo Cardeal Decano Angelo Sodano, eleito neste cargo em 2005 para substituir Bento XVI, depois de sua eleição papal. O Cardeal Decano também tem como função perguntar ao Papa eleito se aceita esta responsabilidade. Como o Cardeal Sodano não pode estar no Conclave devido a sua idade, esta última tarefa será cumprida pelo Cardeal Giovanni Battista Re.

PRÉ-CONCLAVE

Antes do conclave acontecer, são realizadas reuniões entre os cardeais chamadas de “Congregações Gerais”.
Todos os Cardeais poderão participar das Congregações, até os que já tenham mais de 80 anos. Nas Congregações os Cardeais se reunirão "para conversar, para colocar em comum, para começar justamente a fazer uma grande tomada de consciência da situação da Igreja, das realidades que estão diante de nós, do que a Igreja precisa enfrentar, e naturalmente, no meio de todas estas considerações, vai se esculpindo também o perfil daquele que deve assumir o papel de sucessor de Pedro". Durante as Congregações será definida a data de início do conclave.

O CONCLAVE

Durante o conclave, os cardeais permanecem todo o período da eleição entre uma residência do Vaticano (Casa Santa Marta) e a Capela Sistina onde votam e não podem ter contato com o mundo exterior e com os meios de comunicação.
No 1° dia de votação, há apenas uma sessão. Nos dias seguintes, os cardeais votam quatro vezes: duas na parte da manhã e duas na parte da tarde. O candidato deve ter, pelo menos, 2/3 dos votos e de acordo com as novas normas estabelecidas pelo Papa João Paulo II em 1996, se não há um eleito após três dias de votação, se realizará uma pausa de um dia; ao fim de outros sete escrutínios ocorre outra pausa de um dia; se o impasse se mantém após mais sete votações, que acontecem em três dias, a eleição faz-se por maioria simples.
Para votar, os cardeais preenchem um boletim retangular, que traz impressa a menção ‘Eligo in Summum Pontificem’ (elejo como Sumo Pontífice) na parte superior. Eles preenchem o boletim com caligrafia diferente, para que os votos não sejam identificados.
Ao entregar o seu voto, os cardeais eleitores, diante de uma pintura enorme do Juízo Universal, pronunciam o juramento: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito”.
Outros três cardeais têm a missão de recolher os votos dos prelados doentes e existem ainda três revisores.
Depois de cada sessão, as fichas dos votos e “os escritos de qualquer espécie relacionados com o resultado de cada escrutínio” são queimados com uma mistura de produtos químicos: se o fumo que sai da chaminé da Capela Sistina for negro, significa que não houve acordo entre os Cardeais; se for branco, que foi escolhido o novo Papa.
Tendo um eleito, ele deve responder a duas questões do cardeal Decano: “Aceitas a tua eleição, canonicamente feita, para Sumo Pontífice?” e “Como queres ser chamado?”. Esse é o último ato formal do Conclave.
O novo Papa é conduzido à ‘sala das lágrimas’ para vestir pela primeira vez os paramentos papais, que está disponível em três medidas.
Com a escolha do novo nome, os cardeais um a um prestam homenagem e apresentam a sua obediência ao novo Papa.
Os fiéis ficam sabendo do novo sucessor com o anúncio, feito pelo cardeal protodiácono, Dom Jean-Louis Tauran, que pronunciará as palavras solenes: “Habemus Papam”.
Além de anunciar o novo Papa, o Cardeal Dom Jean-Louis também impõe o pálio, uma insígnia litúrgica, no novo Papa na missa de início de pontificado.
Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, a Igreja Católica deve ter um novo Papa até a Páscoa, no próximo dia 31 de março.


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