quarta-feira, 7 de novembro de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (07/11/2012) - Tema: BIOÉTICA - REPRODUÇÃO HUMANA


“Estejam todos certos de que a vida dos homens e a missão de transmiti-la não se confinam ao tempo presente nem se podem medir ou entender por esse tempo apenas, mas estão sempre relacionadas com a destinação eterna dos homens.”
 (Gaudium et Spes)

O QUE É BIOÉTICA?

O termo “bioética”  surgiu na literatura científica por iniciativa do oncologista Van Renssealer Potter, que em 1970 publicou o artigo: Bioethics. The science of survival. Segundo Potter, a bioética devia constituir “uma nova disciplina que harmonizasse o conhecimento biológico com o conhecimento do sistema dos valores humanos”.
Podemos tomar também a definição contida na Encyclopedia of Bioethics, de 1978: “A bioética é uma área de pesquisa que, valendo-se de uma metodologia interdisciplinar, tem por objeto o “exame sistemático da conduta humana no campo das ciências da vida e da saúde, porquanto essa conduta é vista à luz de valores e princípios morais”.
 Podemos destacar alguns pontos importantes acerca da bioética:
- deverá se empenhar em fornecer respostas objetivas fundadas em critérios racionalmente válidos;
- é aberta à teologia como “horizonte de sentido”.
- tem como pontos de referência valiosos: O valor fundamental da vida, a transcendência da pessoa, a concepção integral da pessoa, a relação de prioridade e de complementaridade entre pessoa e sociedade, e uma concepção personalista e de comunhão do amor conjugal;
- tem como um dos pilares a chamada teologia racional ou filosofia de Deus: a ciência que estuda, à  luz da razão natural, o que com a razão se pode chegar a conhecer do ser supremo.

A SEXUALIDADE NA VISÃO DA IGREJA CATÓLICA

“A sexualidade está  ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher. No casamento, a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal e um penhor de comunhão espiritual. Entre os batizados, os vínculos do matrimônio são santificados pelo sacramento.” (CIC 611-616)
“A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se empenham totalmente um para com o outro até a morte” (Familiaris Consortio 11).
“O próprio Criador (...) estabeleceu que nesta função (i.é, de geração) os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderação justa.” (Pio XII, discurso de 29 de outubro de 1951)
Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges (finalidade unitiva) e a transmissão da vida (finalidade procriativa). Esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados sem alterar a vida espiritual do casal e sem comprometer os bens matrimoniais e o futuro da família. Assim, o amor conjugal entre o homem e a mulher atende à dupla exigência da fidelidade e da fecundidade.
A FECUNDIDADE DO MATRIMÔNIO

A fecundidade é  um dom, um fim do Matrimônio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora acrescentar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio âmago dessa doação mútua, da qual é fruto e realização. A Igreja, que “está do lado da vida”, ensina que “qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida”.
Por razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu comportamento segundo os critérios objetivos da moral.
A continência periódica, os métodos de regulação da natalidade baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos estão de acordo com os critérios objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura entre eles e favorecem a educação de uma liberdade autêntica. Em compensação, é intrinsecamente má “toda ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante sua realização, ou também durante o desenvolvimento de suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação”. (Humanae Vitae, 14)
“À linguagem nativa que exprime a recíproca doação total dos cônjuges, a contracepção impõe uma linguagem objetivamente contraditória, a do não se doar ao outro. Deriva daqui não somente a recusa positiva de abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interior do amor conjugal. Chamado a doar-se na totalidade pessoal.” (Familiaris Consortio, 32)
O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. Por isso, é legitimo que ele intervenha para orientar a demografia da população. Pode fazer isso mediante uma informação objetiva e respeitosa, mas nunca por via autoritária e por coação. O Estado não pode legitimamente substituir a iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos. O Estado não está autorizado a intervir neste campo, com meios contrários à lei moral. (Cf. Populorum Progressio 37; Humanae Vitae 23)

O DOM DO FILHO

A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da benção divina e da generosidade dos pais.
É grande o sofrimento dos casais que descobrem que são estéreis. “Que me darás?”, pergunta Abraão a Deus. “Continuo sem filho...” (Gn 15,2). “Faze-me ter filhos também, ou eu morro”, disse Raquel a seu marido Jacó (Gn 30,1).
O filho não é  algo devido, mas um dom. O “dom mais excelente do matrimônio” é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso “direito ao filho”. Nesse campo, somente o filho possui verdadeiros direitos: o “de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção”.
O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de terem esgotado os recursos legítimos da medicina, sofrerem de infertilidade unir-se-ão à Cruz do Senhor, fonte de toda fecundidade espiritual. Podem mostrar sua generosidade adotando crianças desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do próximo.



PROCRIAÇÃO HUMANA – CRITÉRIOS FUNDAMENTAIS PARA UM JUÍZO MORAL

“Os valores fundamentais conexos com as técnicas de procriação artificial humana são dois: a vida do ser humano chamado à existência e a originalidade da sua transmissão no matrimônio. O juízo moral acerca de tais métodos de procriação artificial, portanto, deverá ser formulado em referência a estes valores.
A vida física, pela qual tem início a caminhada humana no mundo, certamente não esgota em si todo o valor da pessoa, nem representa o bem supremo do homem que é chamado à eternidade. Todavia, de certo modo, ela constitui o seu valor « fundamental », exatamente porque sobre a vida física fundamentam-se e desenvolvem-se todos os outros valores da pessoa. A inviolabilidade do direito do ser humano inocente à vida « desde o momento da concepção até a morte », é um sinal e uma exigência da inviolabilidade mesma da pessoa à qual o Criador concedeu o dom da vida.” (Donum Vitae, 4)

O RESPEITO AOS EMBRIÕES HUMANOS

O ser humano deve ser respeitado como pessoa, desde o primeiro instante da sua existência.
O fruto da geração humana, portanto, desde o primeiro momento da sua existência, isto é, a partir da constituição do zigoto, exige o respeito incondicional que é moralmente devido ao ser humano na sua totalidade corporal e espiritual. O ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde aquele mesmo momento devem ser-lhe reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais, antes de tudo, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida. (Donum Vitae,5)

O diagnóstico pré-natal é moralmente lícito?
Se o diagnóstico pré-natal respeitar a vida e a integridade do embrião e do feto humano e se orientar para a sua salvaguarda ou para a sua cura individual, a resposta é  afirmativa.
Mas ele está gravemente em contraste com a lei moral quando contempla a eventualidade, dependendo dos resultados, de provocar um aborto: um diagnóstico que ateste a existência de uma deformação ou de uma doença hereditária não deve equivaler a uma sentença de morte.

Como julgar moralmente a pesquisa e a experimentação com embriões e fetos humanos?
A pesquisa médica deve abster-se de intervenções em embriões vivos, a menos que haja a certeza moral de não causar dano nem à vida nem à integridade do nascituro e da mãe e contanto que os pais tenham consentido na intervenção, de modo livre e informado. Disso segue-se que qualquer pesquisa, ainda que limitada à mera observação do embrião, tornar-se-ia ilícita sempre que, por causa dos métodos empregados ou pelos efeitos produzidos, implicasse um risco para a integridade física ou para a vida do embrião.
Deve-se distinguir também entre a experimentação exercida em embriões ainda vivos e a que é levada a cabo com embriões mortos. Se estão vivos, viáveis ou não, eles devem ser respeitados como todas as pessoas humanas; a experimentação não diretamente terapêutica com embriões é ilícita.
Os cadáveres de embriões ou fetos humanos, voluntariamente abortados ou não, devem ser respeitados como os restos mortais dos outros seres humanos. De modo particular, não podem ser objeto de mutilação ou autópsia se a sua morte não for assegurada e sem o consentimento dos pais ou da mãe. Também no caso de fetos mortos, como no que diz respeito aos cadáveres de pessoas adultas, qualquer prática comercial deve ser considerada ilícita e deve ser proibida.
Como julgar moralmente o uso para fins de pesquisa dos embriões obtidos mediante a fecundação «in vitro»? 
Os embriões humanos obtidos in vitro são seres humanos e sujeitos de direito: a sua dignidade e o seu direito à vida devem ser respeitados desde o primeiro momento da sua existência. É imoral produzir embriões humanos destinados a serem usados como « material biológico » disponível.
Na prática habitual da fecundação in vitro, nem todos os embriões são transferidos para o corpo da mulher; alguns são destruídos. Assim como condena o aborto provocado, a Igreja proíbe também o atentado contra a vida destes seres humanos. É necessário denunciar a particular gravidade da destruição voluntária dos embriões humanos obtidos in vitro, unicamente para fins de pesquisa, seja mediante fecundação artificial como por « fissão gemelar ». Agindo de tal forma, o pesquisador toma o lugar de Deus e, mesmo se não é consciente disso, faz-se senhor do destino de outrem, uma vez que escolhe arbitrariamente quem fazer viver e quem mandar à morte, suprimindo seres humanos indefesos.

Que julgamento deve ser feito acerca dos outros procedimentos de manipulação de embriões, ligados às «  técnicas de reprodução humana »? 
As técnicas de fecundação in vitro podem abrir possibilidade a outras formas de manipulação biológica ou genética dos embriões humanos, tais como as tentativas ou projetos de fecundação entre gametas humanos e animais e de gestação de embriões humanos em úteros de animais bem como a hipótese ou projeto de construção de úteros artificiais para o embrião humano. Estes procedimentos são contrários à dignidade de ser humano própria do embrião e, ao mesmo tempo, lesam o direito de cada pessoa a ser concebida e a nascer no matrimônio e pelo matrimônio. Também as tentativas ou hipóteses destinadas a obter um ser humano sem conexão alguma com a sexualidade, mediante « fissão gemelar », clonagem ou parto gênese, devem ser consideradas contrárias à moral por se oporem à dignidade tanto da procriação humana como da união conjugal.
O próprio congelamento dos embriões, mesmo se executado para assegurar uma conservação em vida do embrião — crioconservação — constitui uma ofensa ao respeito devido aos seres humanos, uma vez que os expõe a graves riscos de morte ou de dano à sua integridade física, priva-os ao menos temporariamente da acolhida e da gestação maternas, pondo-os em uma situação suscetível de ulteriores ofensas e manipulações.
Algumas tentativas de intervenção no patrimônio cromossômico ou genético não são terapêuticas, mas visam produzir seres humanos selecionados segundo o sexo ou outras qualidades pré-estabelecidas. Estas manipulações são contrárias à dignidade pessoal do ser humano, à sua integridade e à sua identidade.

INTERVENÇÕES NA PROCRIAÇÃO HUMANA

Por « procriação artificial » ou «  fecundação artificial » entende-se aqui os diversos procedimentos técnicos que visam obter uma concepção humana de maneira diversa da união sexual do homem e da mulher. A Instrução trata de fecundação de um óvulo em proveta (fecundação in vitro) e da inseminação artificial mediante a transferência, nas vias genitais da mulher, do esperma previamente recolhido.

Por que a procriação humana deve dar-se no matrimônio?
O filho tem direito a ser concebido, levado no seio, posto no mundo e educado no matrimônio: é através da referência segura e reconhecida aos próprios pais que ele pode descobrir a própria identidade e amadurecer a própria formação humana.


A fecundação artificial heteróloga é  conforme com a dignidade dos esposos e a verdade do matrimônio?
Através do FIVET (fecundação in vitro e transferência do embrião) e da inseminação artificial heteróloga, a concepção humana é obtida mediante o encontro dos gametas de ao menos um doador diverso dos esposos que são unidos pelo matrimônio. A fecundação artificial heteróloga é contrária à unidade do matrimônio, à dignidade dos esposos, à vocação própria dos pais e ao direito do filho a ser concebido e posto no mundo no matrimônio e pelo matrimônio.
O desejo de ter um filho e o amor entre os esposos que desejam solucionar uma esterilidade não superável de outra forma, constituem motivos que merecem compreensão; mas as intenções subjetivamente boas não tornam a fecundação artificial heteróloga nem conforme com as propriedades objetivas e inalienáveis do matrimônio nem respeitosa dos direitos do filho e dos esposos.

A maternidade « substitutiva » é  moralmente lícita?
Não, pelas mesmas razões que levam a recusar a fecundação artificial heteróloga: com efeito, ela é contrária à unidade do matrimônio e à dignidade da procriação da pessoa humana.
A maternidade substitutiva representa uma falta objetiva contra as obrigações do amor materno, da fidelidade conjugal e da maternidade responsável; ofende a dignidade e o direito do filho a ser concebido, levado no seio, posto no mundo e educado pelos próprios pais; em prejuízo da família, instaura uma divisão entre os elementos físicos, psíquicos e morais que a constituem.

Do ponto de vista moral, que ligação é exigida entre procriação e ato conjugal?
Do ponto de vista moral a procriação é privada da sua perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos.
A procriação de uma pessoa humana deve ser buscada como o fruto do ato conjugal específico do amor entre os esposos.

A fecundação homóloga « in vitro »  é moralmente lícita?
O FIVET homólogo realiza-se fora do corpo dos cônjuges mediante gestos de terceiros, cuja competência e atividade técnica determinam o sucesso da intervenção; ele entrega a vida e a identidade do embrião ao poder dos médicos e dos biólogos e instaura um domínio da técnica sobre a origem e o destino da pessoa humana. Uma tal relação de domínio é, em si, contrária à dignidade e à igualdade que deve ser comum a pais e filhos.
A concepção in vitro é o resultado da ação técnica que preside a fecundação; ela não é nem obtida de fato, nem pretendida positivamente como a expressão e o fruto de um ato específico da união conjugal. Por isso, no FIVET homólogo, embora considerado no contexto das relações conjugais de fato existentes, a geração da pessoa humana é objetivamente privada da sua perfeição própria: isto é, a de ser o termo e o fruto de um ato conjugal no qual os esposos possam fazer-se « cooperadores de Deus para o dom da vida a uma nova pessoa ».

Como julgar do ponto de vista moral a inseminação artificial homóloga?
A inseminação artificial homóloga, dentro do matrimônio, não pode ser admitida, com exceção do caso em que o meio técnico resulte não substitutivo do ato conjugal, mas se configure como uma facilitação e um auxílio para que aquele atinja a sua finalidade natural.
Portanto, a consciência moral « não proíbe necessariamente o uso de alguns meios artificiais destinados unicamente ou a facilitar o ato natural ou a fazer com que o ato natural, normalmente realizado, atinja o seu fim próprio ». Se o meio técnico facilita o ato conjugal ou o ajuda a atingir os seus objetivos naturais, ele pode ser moralmente aceito. Sempre que, ao contrário, a intervenção se substituir ao ato conjugal, ela é moralmente ilícita.

VALORES E OBRIGAÇÕES MORAIS QUE A LEGISLAÇÃO CIVIL DEVE RESPEITAR E RATIFICAR NESTA MATÉRIA

O direito inviolável à vida de todo indivíduo humano inocente, os direitos da família e da instituição matrimonial constituem valores morais fundamentais, porque dizem respeito à condição natural e à vocação integral da pessoa humana; ao mesmo tempo, são elementos constitutivos da sociedade civil e do seu ordenamento jurídico.
Entre estes direitos fundamentais, é necessário recordar: 
a) o direito à vida e à integridade física de todo ser humano, desde o momento da concepção até à morte; 
b) os direitos da família e do matrimônio como instituição e, neste âmbito, o direito, para o filho, de ser concebido, posto no mundo e educado por seus pais.
Como conseqüência do respeito e da proteção que devem ser assegurados ao nascituro a partir do momento da sua concepção, a lei deverá prever apropriadas sanções penais para toda violação deliberada dos seus direitos. A lei não poderá tolerar — antes, deverá proibir expressamente — que seres humanos, ainda que em estágio embrionário, sejam tratados como objeto de experimentação, sejam mutilados ou destruídos, sob o pretexto de que seriam supérfluos ou incapazes de se desenvolver normalmente.
Além disso, a legislação deverá proibir, em razão do apoio devido à família, os bancos de embriões, a inseminação post mortem e a « maternidade substitutiva ».
Pertence aos deveres da autoridade pública agir de modo que a lei civil seja regulada pelas normas fundamentais da lei moral, naquilo que diz respeito aos direitos do homem, da vida humana e da instituição familiar. Os políticos deverão esforçar-se, através de sua intervenção junto à opinião pública, para obter na sociedade o consenso mais vasto possível acerca de tais pontos essenciais e para consolidá-lo sempre que correr o risco de enfraquecer-se ou de vir a desaparecer.
Hoje, aos olhos de muitos, a legislação civil de numerosos Estados confere uma legitimação indevida a certas práticas; ela demonstra-se incapaz de garantir aquela moralidade que é conforme com as exigências naturais da pessoa humana e com as « leis não escritas », impressas pelo Criador no coração do homem. Todos os homens de boa vontade devem esforçar-se, especialmente no âmbito da sua profissão e no exercício dos seus direitos civis, para que sejam reformadas as leis civis moralmente inaceitáveis e corrigidas as práticas ilícitas.







Bibliografia: SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética: Fundamentos e ética biomédica. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2009. V. 1.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (24/10/2012) - Tema: SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE

"Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade."
(São Maximiliano Kolbe)

ESCOLHIDO PELA IMACULADA

Raimundo Kolbe nasceu em 8 de janeiro de 1894, na Polônia, recebendo no mesmo dia as águas batismais. Seus pais, Júlio Kolbe e Maria Dabrowska, eram devotíssimos da Virgem Maria. De seus cinco filhos, dois faleceram quando ainda crianças, e os outros três abraçaram a vida religiosa.
Criança muito viva e travessa, Raimundo recebeu certo dia uma repreensão de sua mãe que lhe marcou a vida:
- Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?
Essas palavras calaram fundo na alma do pequeno. Ficou aflito e pensativo. Queria mudar de vida e recorreu a Nossa Senhora. Ajoelhado aos pés de uma bela imagem da igreja paroquial, perguntou-Lhe:
- Que vai acontecer comigo?
Qual não foi sua surpresa, quando lhe apareceu a Mãe de Deus, trazendo em Suas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha. Sorrindo maternalmente, perguntou-lhe qual escolhia. A branca significava que perseveraria na castidade e a vermelha, que seria mártir. Grande alma, ele escolheu as duas.
Nasceu-lhe, então, por graça da Imaculada, a vocação religiosa. Decidiu ser capuchinho franciscano, e aos 14 anos começou os estudos no seminário menor dos frades conventuais.
Sendo enviado à Roma pela congregação, lá chocou-se com a insolência com que os inimigos da Igreja a atacavam, sem a proporcionada reação dos católicos. Resolveu então entrar na luta antes mesmo de receber a ordenação presbiteral. Reunindo em torno de si seis condiscípulos, fundou em 1917 a associação apostólica Milícia de Maria Imaculada, cujos estatutos começavam por declarar seus objetivos: a conversão dos pecadores, inclusive dos inimigos da Igreja, e a santificação de todos os seus membros, sob a proteção de Maria Imaculada. Nela aceitou apenas jovens destemidos e verdadeiramente dispostos a acompanhá- lo nessa empresa, com o título de Cavaleiros de Vanguarda.

PROGRESSO A SERVIÇO DA FÉ

Voltando à Polônia em 1919, fundou o jornal mensal da sua associação - Cavaleiro da Imaculada - pondo o progresso técnico do seu tempo a serviço da Fé.
Na véspera do lançamento, reuniu os operários, colaboradores e redatores - ao todo 327 pessoas -, e passaram o dia em jejum e oração. Nessa noite, foi organizada uma grande vigília de Adoração ao Santíssimo Sacramento e de oração à Santíssima Virgem, para que abençoassem esse empreendimento. Na noite seguinte, as rotativas imprimiram o primeiro número do jornal, "filho" dessas orações. Um grande impulso à sua obra ocorreu em 1927, quando o príncipe João Drucko-Lubecki cedeu ao padre Maximiliano um terreno situado a 40 quilômetros de Varsóvia. Aí, homem de grandes horizontes, começou ele a construir uma Niepokalanów - Cidade de Maria. Planejava a edificação de um enorme convento e novas instalações de sua obra de imprensa. Com que dinheiro? "Maria proverá - dizia o santo varão - este é um negócio dEla e de seu Filho!".
E não foi defraudado em sua confiança. Em 1939, o jornal tinha já a surpreendente tiragem de um milhão de exemplares, e a ele se haviam juntado outros dezessete periódicos de menor porte, além de uma emissora de rádio. A Cidade de Maria contava então com 762 habitantes, sendo 13 sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos leigos, 122 seminaristas menores e 82 candidatos ao sacerdócio. Nela habitavam também médicos, dentistas, agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores, impressores, jardineiros e cozinheiros, além de um corpo de bombeiros.

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, em 1939, a Cidade de Maria ficou muito exposta a riscos, pois se situava nas imediações da estrada de Potsdam a Varsóvia, rota provável de uma eventual invasão das tropas nazistas. Motivo pelo qual a prefeitura de Varsóvia ordenou sua pronta evacuação. Padre Maximiliano conseguiu lugar seguro para todos os irmãos, mas permaneceu ali, com cinquenta de seus colaboradores mais imediatos.
Em setembro, as tropas invasoras levaram-nos presos para Amtitz. Mas na festa da Imaculada, dia 8 de dezembro, foram todos libertados e voltaram para sua Niepokalanów, transformando- a em refúgio e hospital para feridos de guerra, prófugos e judeus.
Retomaram também o labor apostólico, pois os invasores permitiram ao padre Kolbe continuar com suas publicações, à espera de um pretexto para acabar com seu apostolado. Com grande coragem, escreveu ele no último número de Cavaleiro da Imaculada, as seguintes palavras, de admirável honestidade intelectual e integridade de convicções: "Ninguém no mundo pode mudar a verdade. O que podemos fazer é procurá-la e servi-la quando a tenhamos encontrado. O conflito real de hoje é um conflito interno. Mais além dos exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de extermínio, há dois inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal, o pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos derrotados no mais profundo de nossas almas?".
A propósito disso, em fevereiro de 1941, a Gestapo irrompeu na Cidade de Maria e levou presos o padre Kolbe e outros quatro frades, os mais anciãos. Na prisão de Pawiak, em Varsóvia, foi submetido a injúrias e vexações, e depois trasladado para o campo de extermínio de Auschwitz.

NO CAMPO DE AUSCHWITZ

Começaram para o santo mártir as estações de sua via-crucis. Passou a primeira noite numa sala com outros 320 prisioneiros.
Ao entrar no campo de concentração, os guardas faziam uma revista minuciosa em todos os prisioneiros e lhes tiravam todos os objetos pessoais. Entretanto, o soldado que revistou o padre Kolbe devolveu-lhe o Rosário, dizendo:
- Tome seu Rosário. E vá lá para dentro! - Era um sorriso de Nossa Senhora, como a dizer-lhe que estaria com ele a cada momento.
No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Tendo um deles conseguido fugir, dez outros, escolhidos por sorteio, foram condenados ao "bunker da morte": um subterrâneo onde eles eram jogados desnudos, e permaneciam sem bebida nem alimento, à espera da morte.
Ante o desespero daqueles infelizes, São Maximiliano ofereceu-se para ficar em lugar de um deles, pai de família, e foi aceito por ser sacerdote. Sem dúvida, movia-o uma autêntica caridade para com seu conterrâneo, entretanto, outra razão também elevada o levou a tomar essa decisão: o desejo de ajudar aqueles condenados a terem uma boa morte, salvando suas almas.
Fechado o bunker, estava para sempre encerrado para eles o contato com o mundo exterior. Naquelas terríveis horas sem outra expectativa que a da morte, tratava-se de cada qual pôr em ordem sua consciência. Pode-se imaginar qual seria o medo da morte, do Juízo, do sofrimento, a tentação de desespero... Em tal situação, que privilégio poder ter por companheiro um sacerdote santo! Graças a ele, o bunker da morte se converteu em capela de oração e de cânticos... com vozes cada dia mais débeis. Três semanas depois, restavam vivos apenas quatro. Julgando que aquela situação se prolongava demasiado, decidiram as autoridades aplicar-lhes uma injeção letal de ácido muriático.
Padre Kolbe foi o último a morrer naquele pavoroso subterrâneo. Estendeu espontaneamente o braço para a injeção. Alguns momentos depois, um funcionário do campo o encontrou morto "com os olhos abertos e a cabeça inclinada. Seu rosto, sereno e belo, estava radiante".
Cumprira sua última missão: salvara a si próprio e aos demais. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Assunção de Maria.
O corpo de Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas atiradas ao vento. Numa carta, quase prevendo seu fim, escrevera: “Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”.
Ao final da Guerra, começou um movimento pela beatificação do Frei Maximiliano Maria Kolbe, que ocorreu em 17 de outubro de 1971, pelo Papa Paulo VI. Em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem com o qual Pe. Kolbe trocou de lugar no campo de concentração, São Maximiliano foi canonizado pelo Papa João Paulo II, como mártir da caridade. Por seu intenso apostolado, é considerado o patrono da imprensa.

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

REC - Reflexões e Estudos CATÓLICOS (03/10/2012) - Tema: SANTOS E BEATOS DO BRASIL

"O Brasil precisa de santos, de muitos santos" (João Paulo II em visita ao Brasil)

Se formos nos referir ao número de santos e beatos que nasceram ou realizaram seu apostolado no Brasil, teremos 5 santos e 79 beatos. Neste estudo, nos focaremos nos que são naturais do Brasil, conhecendo alguns deles.

SANTO ANTÔNIO DE SANT’ANA GALVÃO

Nascido em Guaratinguetá, em 1739, de uma família de muitas posses, descendia dos primeiros povoadores da Capitania e corria em suas veias sangue de bandeirantes. Renunciou a uma brilhante situação no mundo e ingressou na Ordem franciscana. Fundou, em 1774, juntamente com Madre Helena Maria do Espírito, o Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, na capital paulista. Não somente formou e conduziu espiritualmente as religiosas desse mosteiro, mas também o edificou materialmente, ao longo de  48 anos de esforços contínuos. Foi o arquiteto, o engenheiro, o mestre de obras e muitas vezes o operário da sua edificação, que somente se tornou possível porque ele incansavelmente pedia, ao povo fiel, esmolas para a magnífica construção. Sacerdote procurado e estimado por todos, era chamado "Homem da Paz e da Caridade".
Era homem de profunda e intensa oração, devotíssimo servo da Virgem Maria, da qual se consagrara como “filho e escravo perpétuo”. Passava horas em adoração ao Santíssimo Sacramento e diversos fenômenos místicos ocorreram durante sua vida como êxtases, levitação e bilocação.
Entregou sua alma a Deus em 1822. Foi beatificado em 1998. Até hoje sua sepultura, na capela do mosteiro, é visitada por multidões que acorrem a lhe pedir graças e milagres, e também à procura das famosas e prodigiosas "pílulas de Frei Galvão". Essas pílulas, feitas de papel, tiveram origem numa ocasião em que um jovem, sofrendo de fortes cólicas renais, procurou Frei Galvão suplicando sua ajuda. Compadecido, o santo então pegou um pequeno pedaço de papel onde escreveu uma sentença em latim: “Post partum Virgo inviolata permansisti, Dei Genitrix Intercede pro nobis”, que significa: "Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós!". Depois de enrolar o papelzinho em forma de pílula, deu ao rapaz para tomar. Imediatamente, as horríveis dores cessaram e o jovem expeliu os cálculos sem dificuldade.

BEATOS MÁRTIRES DO RIO GRANDE DO NORTE

Martírio de Cunhaú
No dia 16 de julho de 1645, os holandeses que ocupavam o nordeste do Brasil, chegaram a Cunhaú, no Rio Grande do Norte, onde residiam vários colonos ao redor do Engenho, ocupados no plantio da cana-de-açúcar. Era um domingo. Na hora da missa, 69 pessoas se reuniram na capela de Nossa Senhora das Candeias. A capela foi cercada e invadida por soldados e índios que trucidaram a todos que aí estavam, inclusive o Pároco Pe. André de Soveral que celebrava a missa. Não opuseram resistência aos agressores e entregaram piedosamente suas almas ao Criador.

Martírio de Uruaçu
Aterrorizados com o acontecimento de Cunhaú, muitos moradores de Natal pediram asilo no Forte dos Reis Magos ou se refugiaram em abrigos improvisados. No dia 3 de outubro, foram levados para as margens do Rio Uruaçu, onde os aguardavam índios e soldados holandeses armados. Eram cerca de 80 pessoas. Os holandeses, de religião calvinista, trouxeram um pastor protestante para demovê-los de sua fé católica. Todos resistiram a esta tentativa e foram barbaramente sacrificados. Entre eles estava Mateus Moreira que, ao lhe ser arrancado o coração pelas costas, morreu exclamando: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".
Diz Mons. Assis: "A incerteza quanto ao número total de sacrificados e o anonimato que cobre a maioria deles constituem, certamente, um impedimento à apresentação de todas as vítimas de Cunhaú e Uruaçu para o reconhecimento do martírio”.
Dos 30  gloriosos Beatos, 27 são brasileiros, 1 português (Beato Ambrósio), 1 espanhol (Beato Vilela Cid) e 1 francês (Beato Lostau Navarro).

BEATA ALBERTINA BERKENBROCK

 Albertina nasceu a 11 de abril de 1919, em São Luís, município de Imaruí, SC. Seus pais e familiares souberam educar a menina na fé, transmitiram-lhe muito cedo as principais verdades da Igreja. Ela aprendeu logo as orações, era perseverante em fazê-las e muito recolhida ao rezar. Confessava-se com freqüência, ia regularmente à missa, comungava com fervor. Aliás, preparou-se com muita diligência para a primeira comunhão. Falava muitas vezes da Eucaristia e dizia que o dia de sua primeira comunhão fora o mais belo de sua vida.
Albertina foi também muito devota de Nossa Senhora, venerava-a com carinho, tanto na capela da comunidade como em casa. Junto com os familiares recitava o terço e recomendava a Maria sua alma e sua salvação eterna.
Foi menina boa, estimada por colegas e por adultos, um exemplo de pureza.
Morreu por recusar ceder ao ataque de um homem que a queria estuprar. O homem, ao perceber que Albertina não cederia, a degolou. Prenderam então um inocente por engano, culpando-o pela morte da jovem. No entanto, todas as vezes que o verdadeiro assassino chegava perto do corpo de Albertina, a ferida mortal jorrava sangue. Isso levantou suspeitas e, após a investigação, chegou-se ao verdadeiro assassino, que foi preso.

BEATA DULCE LOPES PONTES (IRMÃ DULCE)

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914. Aos 13 anos a pequena Maria Rita já havia transformado a casa da família em um centro de atendimento de pessoas carentes, e assim nasceu a sua vocação religiosa. Após visitar regiões onde moravam pessoas muito pobres, onde havia ido em companhia de uma tia, manifestou pela primeira vez o desejo de se fazer religiosa.
Formou-se professora em 9 de dezembro de 1932, e já no ano seguinte entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Fez o seu noviciado em São Cristóvão, Sergipe, e em 15 de agosto de 1934 fez seus primeiros votos, e recebeu o nome de Irmã Dulce, uma homenagem à sua mãe.
Em 1935, invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos para acomodar os doentes que recolhia nas ruas. Sendo expulsa, levou seus doentes de um lugar para outro, peregrinando por cerca de uma década. Em 1941 Irmã Dulce concluiu o curso de oficial de farmácia. Finalmente, em 1949 instalou seus doentes no galinheiro do Convento Santo Antônio, fundado dois anos antes por Irmã Dulce. Deste improvisado albergue, com 70 doentes, nasceria o Hospital Santo Antônio.
Em 26 de maio de 1959 foi fundada a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), e no ano seguinte foi inaugurado o Albergue Santo Antônio, com 150 leitos. Vinte e quatro anos mais tarde seria inaugurado o novo hospital, agora com 400 leitos.
O Hospital Santo Antônio está no centro de uma complexa organização reconhecida como modelo nacional de assistência social, médica e educacional. Atua também nas áreas de ensino e pesquisa. A OSID, Obras Sociais Irmã Dulce, é considerada uma das instituições filantrópicas mais importantes do mundo, com mais de 2300 colaboradores e 600 voluntários no Brasil e no exterior. Atende mais de 1 milhão de pessoas por ano.
Trata-se de uma obra construída pela fé. Irmã Dulce dizia, e fazia valer ao pé da letra: “Quando nenhum hospital quiser aceitar mais algum paciente, nós aceitaremos. Esta é a última porta e, por isso, eu não posso fechá-la”. Atender bem e de graça norteiam o trabalho dessa instituição, cuja eficiência e qualidade já mereceu inúmeros prêmios nacionais e internacionais.
Esse portento foi construído com a ajuda de muitos, e como era de se esperar, com a força de um gigante, batendo de porta em porta pelas ruas de Salvador, nos mercados, feiras livres ou nos gabinetes de governadores, prefeitos, secretários, presidentes da República. Administradora extremamente capaz, cuidava de tudo pessoalmente, com caridade heróica.
Irmã Dulce levava uma vida espartana. Os momentos de folga eram raros. Não lia jornais nem via televisão. Quase não comia. Três vezes por semana, fazia jejum. As poucas refeições se resumiam a um montinho de arroz e legumes colocados num prato de sobremesa ou num pires de café. Carne, doce e refrigerante não constavam de seu cardápio. Com tantos doentes e famintos esperando por sua caridade, Irmã Dulce também quase não dormia. Eram no máximo quatro horas de sono por noite, sentada numa cadeira de madeira maciça. Começou a dormir ali para pagar uma promessa e usou a espreguiçadeira por 30 anos, até ser proibida pelo médico.
 Tinha uma saúde frágil, pois viveu os seus últimos trinta anos com a saúde abalada seriamente, respirando com apenas um terço da sua capacidade pulmonar!
“Quando os médicos perguntavam se havia passado bem a noite, respondia: “Passei na boate." Aí explicava: "boate" era como chamava o tubo de oxigênio que ajudava a mantê-la viva.
Morreu em 13 de março de 1992.

VENERÁVEL FRANCISCA DE PAULA DE JESUS (NHÁ CHICA)

Alta, morena e bonita, Francisca de Paula de Jesus, ou Nhá Chica, como era chamada por todos, nasceu em 1808, em Minas Gerais. Era filha de escravos. Cresceu isolada do mundo, dedicando-se à caridade e à fé.
Rapazes do seu tempo pediram-na em casamento, mas recusou a todos. Tornou-se até muito amiga do que mais insistira, grata pela suas boas intenções.
Nhá Chica fazia suas preces à Sua Sinhá, como ela chamava Nossa Senhora, representada numa pequenina imagem da Senhora da Conceição, de terra cota, até hoje conservada em sua casa. Sua casa é a imagem de sua vida pobre e dedicada aos pobres.
Pouco a pouco sua fama foi aumentando, porque dava sempre ótimos conselhos.
Ainda moça Nhá Chica já era a “mãe dos pobres”: tinha o piedoso  costume de convidar os pobres e demais moradores daquela redondeza  em determinado dia da semana para com ela elevarem preces à Virgem Mãe de Deus... Após as orações, ela distribuía alimentos aos pobres, pois todos já levavam para isso suas vasilhas. Recebia esmolas e dava esmolas... O pároco de Baependi assim a definiu certa vez: "Nhá Chica é simplesmente uma pobre mulher analfabeta, uma fiel serva de Deus cheia de fé". Mas ela respondia dizendo: "Eu repito o que me diz Nossa Senhora e nada mais: eu rezo a Nossa Senhora, que me ouve e me responde".
Ainda uma outra grande devoção povoava o coração de Nhá Chica. Guardava especial devoção às três horas de agonia, e nas sextas-feiras recolhia-se em oração.
Toda sua vida Nhá Chica procurou realizar o que ela dizia ser um pedido de Nossa Senhora: a construção de uma Capela. Era um empreendimento caro demais para uma mulher pobre daquele tempo, ainda mais sendo filha de escrava. Ela saia, então, pela vizinhança, pedindo auxílio para a construção. Aos poucos a notícia correu e logo começou a receber de todas as partes esmolas para este fim. Ela pode também usar a herança que recebeu de seu irmão, e sua obra chegou a bom termo.
A construção foi iniciada em 1865. Quando já tinha uma certa quantia, Nhá Chica recebeu a ordem de Nossa Senhora para dar início aos trabalhos. A ornamentação foi quase toda doada: imagens, alfaias, vasos, lâmpadas e até um órgão.
A biógrafa da Serva de Deus, Helena Ferreira Pena, conta que "...estando já o serviço a certa altura, o oficial notou que ia faltar material e disse-lhe:
- Nhá Chica, os tijolos não vão chegar!
Ela respondeu: 'Nossa Senhora é quem sabe'.
Continuou o serviço, e ao terminar, não faltou e não sobrou um só tijolo.
Estava quase terminada a capela e o oficial advertiu Nhá Chica:
- Precisa algumas pinturas no forro, não ficaria bem assim liso sem alguma decoração.
Ela como sempre respondeu: 'Nossa Senhora é quem sabe'...
E foi entregar-se as suas meditações.
À tarde, quando o oficial ia deixar o serviço, Nhá Chica disse-lhe:
- Alisa bem a areia que está no quartinho, tranca a porta e leva a chave.
O oficial pensou consigo: 'Essa velha tem cada coisa! Se os ratos vão passear na areia eu terei que fazer estes rabiscos no forro!'
No dia seguinte, ao chegar novamente ao serviço, Nhá Chica ordena: 'Toma um lápis e um pedaço de papel e vamos abrir a sacristia'.
Mandando que copiasse o que estava na areia, eis que copiando aqueles traços reproduziu um ‘ostensório sobre as nuvens', cuja pintura foi feita a óleo no teto da capela mor da Igreja.
Mais um fato extraordinário é narrado pela mesma biógrafa: estava terminada a capela, mas Nossa Senhora queria mais alguma coisa.
Manifestou a sua serva o seu desejo:
- Queria um órgão para a Igreja.
Nhá Chica, porém, na sua ingenuidade, não sabia o que era aquilo.
Foi consultar, então, o vigário local, Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira o que era órgão, que N. Sra. queria para a capela. Mons. Marcos lhe disse:
- Orgão é um instrumento até muito bonito que toca nas Igrejas mas, para isso, precisa muito dinheiro!...
- Mas N. Sra. queria. Na Rua São José, casa 73, no Rio de Janeiro, chegou um - assim disse ela.
Mal Nhá Chica tinha manifestado o desejo de N. Sra., começou a chegar espontaneamente a suas mãos, esmola para a compra do desejado instrumento. Foi, então, encarregado da compra o Sr. Francisco Raposo, competente maestro. Foi ao Rio de Janeiro para efetuar a compra e fazer o despacho até Barra do Piraí, pois, de lá aqui, teria que vir em carro de bois, por não haver ainda estrada de ferro.
Chegara enfim o órgão e Nhá Chica marca sua inauguração para as três horas da tarde e, para isso, fez ecoar nos ares o som do sino da capela, convidando o povo para entoar louvores à Maria!
Chegam os devotos e logo a capela se enche. O maestro sobe ao coro e desliza suas mãos sobre o teclado, e qual sua surpresa?
Nem uma nota!...
- O que teria acontecido? Com certeza estragou-se com a viagem, com a longa caminhada em carro de bois, diziam uns.
- Qual! Com certeza venderam coisa velha e estragada, diziam outros. Nhá Chica chorava... cheia de angústia e aflição!... Teria sido enganada?
Acalma-se, porém, e diz:
- Esperem um pouco. Tira dos pés as chinelinhas de couro e vai prostrar-se aos pés da Virgem.
O povo esperava ansioso... Ela volta calma e serena e diz:
- Podeis voltar para suas casas, porque o órgão não tocará hoje, mas amanhã, às três horas. - Sexta feira, dia da devoção de Nhá Chica.
- Nossa Senhora quer que entoem a ladainha.
Assim se fez. No dia seguinte, novamente, o sininho soava nos ares chamando os fiéis que desta vez foram em número maior, movidos pela curiosidade.
E, às três horas em ponto de sexta-feira, o maestro, novamente, deslizando suas mãos sobre o teclado, fez ecoar, pela primeira vez por toda a Igreja, ao som do órgão a linda melodia da ladainha à Nossa Senhora!... As lágrimas desciam dos olhos de Nhá Chica, mas desta vez, foram lágrimas de alegria e de felicidade!...".
Hoje, total e recentemente restaurado, o órgão encontra-se no coro da Igreja da Conceição, emitindo seus sons e acompanhando o louvor de Deus e de sua Mãe Santíssima.
Nhá Chica viveu sempre na sua casinha perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em oração, humildade, mortificação, além de sofrimentos físicos, atendendo sempre quem a procurava.
Aos 14 de Junho de 1895 faleceu com mais de 80 anos e foi sepultada somente no dia 18. Seu semblante não apresentava sinais de morta, o que deixou o médico local em dúvida. Assim o Dr. Manoel Joaquim Pereira não deixou efetuar o seu sepultamento no dia seguinte, como erra o costume. Mandou ficar em observação por mais algumas horas. E aconteceu que um chamado urgente de um município vizinho afastou o médico da cidade, ficando então o corpo da Serva de Deus, insepulto por mais de três dias, sem se decompor, esperando pelo médico.
Grande foi o número de pessoas que acorreram. Todos puderam atestar que não manifestou traços de decomposição, apesar de já estar morta há quatro dias.
O papa Bento XVI aprovou recentemente a publicação do decreto que permitirá a beatificação de Nhá Chica.


domingo, 2 de setembro de 2012

Evangelho Dominical - 22° Domingo do Tempo Comum (Ano B)


Evangelho: Marcos 7,1-8.14-15.21-23 

A palavra de Deus deste XXII Domingo chama atenção para o modo como o cristão deve viver sua prática religiosa: com sinceridade diante de Deus, humildade e amor para com os outros e não de forma legalista, fria e auto-suficiente. Com efeito, Jesus critica duramente os escribas e fariseus, que vieram de Jerusalém para observá-lo e questioná-lo. Qual é o problema deles? Certamente eram homens piedosos e queriam seguir a Lei de Deus. O problema era o espírito com o qual faziam: extremamente legalista. Vejamos:
1) A lei de Deus (para os judeus, expressa na Torah) é santa: “Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir… Nada acrescentareis, nada tirareis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus…” (1a. leitura). Ora, o zelo dos fariseus e dos escribas eram tais e com uma mentalidade de tanto apego à letra pela letra, que se tornaram extremamente legalistas. Eles diziam: “Façamos uma cerca em torno da Lei”, ou seja, criaram pouco a pouco um número enorme de preceitos para evitar qualquer desobediência, ao menos remota, à lei. Preceitos humanos que foram obscurecendo a pureza da lei de Deus e sua característica de ser sinal de amor. Por exemplo: (a) A Lei dizia que o castigo não poderia ultrapassar as quarenta varadas. Os fariseus permitam somente trinta e nove, para evitar qualquer perigo de ultrapassar a conta da lei. (b) A lei proibia o trabalho no sábado. Os escribas e fariseus insistiam que até carregar o instrumento de trabalho no sábado era já um pecado: o alfaiate não poderia carregar sua agulha no sábado. (c) A lei prescrevia abluções (banhos rituais para o culto) só para os sacerdotes. Os fariseus queriam impô-las a todo o povo. A intenção era boa…. mas o resultado, não: tornava a religião algo pesado, legalista e apegado a tantos detalhes que fazia esquecer o essencial: o amor a Deus e ao irmão! Os preceitos humanos obscureciam a intenção divina!
2) A Lei não fora dada para ser um fardo que tira a liberdade e entristece a vida, mas como sinal do amor de Deus, que orienta e indica o caminho com ternura: “Vós os guardareis… porque neles está a vossa sabedoria e inteligência… Ouve as leis que vos ensino a cumprir para que vivais e entreis na posse da terra prometido pelo Senhor Deus” (1a. leitura). A lei e toda prática religiosa devem ser caminho de vida, e não um fardo insuportável e asfixiante, tornando a religião algo tristonho e pesado, como se fosse obra de um Deus ciumento e invejoso da nossa felicidade! Jesus critica os fariseus e os escribas por isso: tornaram a religião um fardo pesado e triste, ao invés de ser primeiramente um relacionamento com Deus, íntimo, feliz e amoroso!
3) Jesus censura também os escribas e fariseus pela incapacidade de distinguir entre o essencial e o secundário; em discernir o que vem Deus e o que é meramente prática e tradição humanas, talvez boas e louváveis, mas não essenciais. Em matéria de religião, nem tudo tem igual valor, nem tudo tem a mesma importância. A medida de tudo é o amor: o amor é a plenitude da lei (Rm 13,10); só o amor dá sentido a todas as coisas!
3) Outro motivo de crítica é que uma religião assim, apegada a preceitos exteriores, torna-se desatenta do coração, sem olhar a intenção com que se faz e se vive. Cai-se na hipocrisia (a palavra hipócrita vem de hypokrités = ator teatral): uma religião meramente exterior, sem aquelas atitudes interiores, que são as que importam realmente: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam!” (evangelho). É sério: a atitude exterior (lábios) não combina com o interior (coração)! As práticas externas valem quando são sinal de um compromisso interior de amor e conversão em relação a Deus. É importante observar que Jesus não condena as práticas exteriores, mas a sua supervalorização e a sua atuação sem sinceridade: “Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas” (Mt 23,23).
4) Há também o perigo da auto-suficiência: a pessoa sente-se segura de si mesma por causa de suas práticas: “Ah, eu vou à missa todo domingo, rezo o terço e dou esmola! Estou em dia com Deus!” O homem nunca está em dia com Deus. Pensar assim, é deixar de perceber que tudo é graça e que jamais mereceremos o amor que Deus nos tem gratuitamente. Sem contar que tal atitude nos leva, muitas vezes, a nos julgar melhores que os outros, desprezando os que julgamos mais fracos ou imperfeitos! Era exatamente o que ocorria com os fariseus: “Este povo que não conhece a lei são uns malditos!” (Jo 7,49); “Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas?” (Jo 9,34); “Ó Deus, eu te dou graças porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano!” (Lc 18,11). É interessante comparar estas atitudes com as que São Paulo recomenda aos cristãos em Rm 12,3-13.
5) Jesus convida a ir ao essencial: vigiar as intenções e atitudes do nosso coração, pois “o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior” (evangelho). Com um coração puro, poderemos reconhecer que tudo de bom que temos é dom de Deus (“Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes!” – 2a. leitura) e que, diante dele, somos sempre pobres e pecadores, necessitados de sua misericórdia. Isto nos abre de verdade para o amor aos outros e para a compaixão: somos todos pobres diante de Deus: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo”.
6) Concluindo:
Como vai nossa prática religiosa, pessoal e comunitariamente? Buscamos um relacionamento amoroso, íntimo e pessoal com o Senhor ou nos contentamos com uma prática meramente exterior? Julgamo-nos melhores que os outros diante de Deus? Às vezes dizemos: “Eu não merecia este mal…” – julgando-nos credores de Deus! Dizemos também: “Há tanta gente pior que eu; por que aconteceu comigo?” – julgando-nos melhores que os outros!
O que é mais importante na nossa vida de fé? E na nossa vida em comunidade? O salmo de meditação da missa de hoje dá ótimas pistas para uma exame de consciência.

(D. Henrique Soares da Costa)



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (29/08/2012) - Tema: TÍTULOS ECLESIÁSTICOS



ENTENDENDO O CLERO CATÓLICO...

A Igreja católica é composta por clérigos, religiosos e leigos.
O clero católico constitui-se dos ministros ordenados: diáconos, padres e bispos:

DIÁCONO - O diácono possui o primeiro grau da Sacramento da Ordem, sendo ordenado não para o sacerdócio, mas para o serviço da caridade e da proclamação da Palavra de Deus e da liturgia.
É um ministro religioso que está no último dos sete anos de estudos – em média – que levam à carreira clerical, estes chamados de diáconos transitórios.
Mas há também os diáconos em grau permanente, que podem ser homens solteiros, casados ou viúvos. Entretanto a admissão de um homem casado ao diaconato necessita de um consentimento por escrito da esposa sendo necessário que a família leve uma vida condizente com os valores cristãos e que o matrimônio tenha ocorrido há no mínimo 5 anos. A ordenação no diaconato paralisa o estado dos solteiros e viúvos, de modo que estes após o sacramento não podem mais se casar, devendo permanecer celibatários.
Os poderes de um diácono são: ministrar os sacramentos do batismo e do matrimônio, dar bençãos diversas, dar a benção do santíssimo sacramento, fazer a celebração da palavra, distribuir a sagrada comunhão e fazer pregações

PADRE - Um padre (do latim páter ou pátris, que significa “pai” ou “chefe da família”) refere-se a um presbítero, clérigo católico do sexo masculino que recebeu o sacramento da Ordem. Hierarquicamente, está acima dos diáconos e abaixo dos bispos.
Pode, também, executar, entre outros atos de fé, a consagração do pão e do vinho na Liturgia Católica, conhecido por missa no ocidente. Possui essa investidura, concedida por Jesus Cristo, através da Igreja Católica.

BISPO - Os bispos são os sucessores dos apóstolos, recebendo com a ordenação episcopal a missão de santificar, ensinar e governar, a eles confiada no âmbito de uma circunscrição definida (diocese, arquidiocese ou prelazia).
São Pedro, segundo a história da Igreja, foi o primeiro bispo do Cristianismo católico em Roma.
O episcopado é o último e supremo grau do sacramento da Ordem. O bispo é também a autoridade máxima da Igreja particular local em jurisdição e magistério.
Aos bispos compete ministrar o sacramento da ordem de modo exclusivo e também, na Igreja Latina, o sacramento da crisma. Ordenar presbíteros e diáconos, bem como conferir ministérios são funções exclusivas do bispo.

O clero católico se distingue também em duas categorias: Clero Regular e Clero Secular.

CLERO REGULAR -  atualmente denominado mais comumente de Clero religioso, é constituído por todos os clérigos consagrados da Igreja Católica, que seguem uma regra de uma determinada ordem religiosa, que tem a sua própria hierarquia e títulos específicos. O termo regular provém do fato de que cada ordem religiosa estabelecia suas próprias regras de vida (do latim, regula). O hábito de viver em mosteiros - chamado monasticismo - foi introduzido no Ocidente no século VI, quando São Bento fundou o mosteiro do Monte Cassino, na península Itálica, dando origem à ordem dos beneditinos. A regra criada por São Bento para disciplinar a vida de seus monges, aprovada pelo Papa, serviu de modelo para outras ordens surgidas posteriormente, como as ordens mendicantes (não são monásticas) dos franciscanos e dos dominicanos.
O modelo dos mosteiros masculinos, dirigidos por um abade, foi logo instituído para as mulheres. Os mosteiros ou monastérios desempenharam um importante papel na Europa medieval, dedicando-se em tempo integral às práticas religiosas e às atividades de sobrevivência dos mosteiros e das abadias (cultivando terras), cristianizando povos e organizando e mantendo escolas e bibliotecas.

CLERO SECULAR - (do latim: "sæculum", que significa mundo), também referido mais comumente na atualidade como Clero diocesano é a designação dada à parcela do clero da Igreja Católica Romana que desempenha atividades voltadas para o público em geral e que vive junto dos leigos, exercendo as mais variadas formas de apostolado e assegurando a administração da Igreja.

TÍTULOS E FUNÇÕES PRÓPRIAS DA VIDA RELIGIOSA

MONGE - Os monges católicos, que podem ser clérigos ou leigos, seguem uma regra de uma determinada ordem religiosa monástica e residem em mosteiros, enquanto que os frades e freiras residem em conventos. Os monges seguem uma vida de desapego aos bens materiais e de contemplação e serviço a Deus.

ABADE - é a função e o título do monge superior de uma abadia. Tem a dignidade de Bispo, mas não é ordenado Bispo.
A palavra abade, que provém do substantivo latino abbas, abbatis, através da sua forma acusativa abbatem– a qual, por sua vez, deriva do siríaco abbâ (através do étimo hebraico abba) –, significa pai e se refire à vida monástica e a quem governa uma abadia. Em língua portuguesa, o feminino é abadessa.
O título teve a sua origem nos mosteiros da Síria, no século IV, tendo-se espalhado pelo Mediterrâneo oriental, sendo adotado, na generalidade das línguas europeias, para designar o governante de um dado mosteiro.
São Bento de Núrsia considerava que o abade era o representante de Cristo, o apoio das necessidades dos monges, além de ter autoridade jurídica e administrativa no mosteiro.

PRIOR - é a função e o título do monge superior de um mosteiro que ainda não é abadia.

FRADE - Frade é a designação dada a um católico consagrado que pertence a uma ordem religiosa mendicante e que vive normalmente num convento. Ele tanto pode ser um clérigo como um leigo.
O termo frade é proveniente da palavra latina frater, irmão, pelo qual se dirigiam uns aos outros. O título dado aos frades é frei, que deve ser usado somente anteposto ao prenome do frade e nunca como um substantivo independente (o correto é “o frade foi ordenado” e não “o frei foi ordenado”).
As primeiras ordens cristãs compunham-se de homens ou mulheres que se retiravam do mundo para melhor poderem adorar a Deus nos grandes mosteiros que se espalharam por toda a Europa na Idade Média. No entanto, o crescimento das cidades e das pobres comunidades de pessoas que nelas viviam, sem contacto com o catolicismo, trouxeram a necessidade de um novo tipo de ordem religiosa. Este novo tipo não deveria estar tão enclausurado como o estilo de vida monástica dos monges e deveria estar mais inserido junto aos novos grandes centros urbanos.
Por estas razões, no século XIII, surgem os Franciscanos (os Menoritas ou Irmãos Menores), criados por São Francisco de Assis, em 1210. Seis anos mais tarde São Domingos fundou a Ordem dos Pregadores. Os membros destas duas ordens realizavam, para além dos tradicionais votos de castidade e obediência, o voto de pobreza, pelo que renunciavam à posse de quaisquer bens. Daí serem conhecidos por mendicantes, pois que apenas conseguiam subsistir por intermédio de esmolas e dávidas dos fiéis.

TÍTULOS E FUNÇÕES PRÓPRIAS DO CLERO SECULAR

PÁROCO - É o sacerdote responsável por uma paróquia, menor unidade eclesiástica da Igreja, revestida de personalidade jurídica canônica. Também chamado de cura.

VIGÁRIO - O vigário coadjutor ou vigário geral é um sacerdote designado pelo Bispo para ajudá-lo na administração da Diocese. O vigário judicial é seu responsável pelos processos, de acordo com a organização do Tribunal Eclesiástico. O vigário paroquial é o que ajuda o pároco em uma paróquia. Em alguns lugares, chamam o próprio pároco de vigário.

REITOR- É o padre responsável por uma igreja que não é sede de paróquia. Também uma função.

ADMINISTRADOR PAROQUIAL- designa o padre (seja pároco de outra paróquia, seja um reitor, ou um sacerdote que não tem igreja alguma sob sua responsabilidade) que, temporariamente, administra uma paróquia, quando está vacante.

CHANCELER - É o notário da Cúria Diocesana, responsável pelos atos e ofícios de uma Diocese.

Cabido da Diocese de Frederico Westphalen
CÔNEGO - é o membro do Cabido, que é uma espécie de senado do Bispo e que se reúne na Catedral. Nem todas as Dioceses têm Cabido, mas ainda assim, o Bispo pode recompensar um sacerdote com esse título dignatário, honorífico. Também se chamam "cônegos" os sacerdotes das Ordens de clérigos regulares (um dos tipos de instituto de vida religiosa); assim: cônegos premonstratentes, por exemplo. Porque é um título, chama-se o padre que é cônego por ele: "Cônego Fulano".

MONSENHOR - é um título eclesiástico de honra conferido aos sacerdotes da Igreja Católica pelo Papa. Apesar de somente o Papa conferir o título de Monsenhor, ele o faz a pedido do bispo diocesano por meio da Nunciatura Apostólica. O número máximo de monsenhores de uma diocese não pode, normalmente, ultrapassar 10% do total de sacerdotes. O Monsenhor não tem uma autoridade canônica maior que a de qualquer padre, uma vez que a nomeação não implica num sacramento da ordem. Assim o monsenhor só se distingue de um padre comum pelo título. Os padres que serão sagrados bispos recebem automaticamente o título de monsenhor.

DOM - é o título, no Brasil, do Bispo e dos monges beneditinos, cistercienses e trapistas que sejam sacerdotes. Na Itália, é o título dos sacerdotes diocesanos. Exemplo: Dom Bosco.

PRIMAZ - é o Bispo da Diocese mais antiga de um país. No Brasil, o Primaz é o Arcebispo de Salvador. 

BISPO AUXILIAR - O Bispo Auxiliar, é um Bispo-titular da Igreja Católica, que tem a função de auxiliar o bispo diocesano.

BISPO EMÉRITO - é o bispo que renuncia ao governo de uma diocese, em geral, ao completar 75 anos de idade.

ARCEBISPO - É um bispo católico que, normalmente, está à frente de uma arquidiocese. Foi uma criação administrativa da Cúria Romana para atender aos anseios das populações e dioceses mais afastadas de Roma. Pode ser:
- Arcebispo metropolita: é o Arcebispo da arquidiocese sede de uma província eclesiástica, a qual é formada por várias dioceses. Tem todos os poderes do bispo em sua própria arquidiocese e poderes de supervisão e jurisdição limitada sobre as demais dioceses. O pálio, conferido pelo Papa, é o símbolo da sua qualidade de metropolita.

NÚNCIO APOSTÓLICO - é um representante diplomático permanente da Santa Sé. Representa a Santa Sé perante os Estados e perante a Igreja local. Costuma ter a dignidade eclesiástica de arcebispo. Normalmente reside na nunciatura apostólica, que goza dos mesmos privilégios e imunidades que uma embaixada.
No Brasil, o atual núncio é Dom Giovanni d'Aniello.

CARDEAL - Um cardeal é um alto dignitário da Igreja Católica, que assiste o Papa em diversas competências. Os cardeais, agrupados no Colégio dos Cardeais, são também chamados de purpurados, pela cor vermelho-carmesim da sua indumentária. Eles são considerados, na diplomacia, como “príncipes da Igreja”. A etimologia do termo cardeal encontra-se no latim cardo/cardinis, em português gonzo ou eixo, algo que gira, neste caso em torno do Papa.
Os cardeais são nomeados pelo Papa em ocasiões específicas na presença dos restantes membros do Colégio Cardinalício (consistório). O título, segundo o Código de Direito Canónico, distingue homens notáveis pela sua doutrina, piedade e prudência na condução dos assuntos.
Os cardeais reunidos em consistório assistem o Papa nas suas decisões. Os consistórios podem ser:
§   ordinários: reúnem os cardeais presentes em Roma.
§   extraordinários: reúnem todos os cardeais.
Os cardeais podem ter responsabilidades na Cúria Romana, a administração da Igreja. Os cardeais da Cúria devem residir em Roma. Os cardeais com menos de oitenta anos são os eleitores para Papa.


CAMERLENGO - O Camerlengo da Igreja Católica é o administrador da propriedade e receita da Santa Sé; suas responsabilidades incluem a administração fiscal do Patrimônio de São Pedro.
A maior responsabilidade do Cardeal Camerlengo é a determinação formal da morte do Papa; o procedimento tradicional, já em desuso, para essa situação se dava batendo gentilmente um martelo de prata na cabeça do Papa e chamando o seu nome. Hoje o processo do martelo não é mais usado, e após o Papa ser declarado morto, o Camerlengo remove o Anel do Pescador do seu dedo e o corta com uma grande tesoura na presença dos demais Cardeais, e também destrói a face do selo do Papa com o Martelo de Prata. Esse ato simboliza o fim da autoridade do último Papa. o Camerlengo notifica então os oficias apropriados da Cúria Romana e o Decano do Colégio dos Cardeais. Depois, ele começa os preparativos para o conclave e o funeral do Papa.

PAPA - O Papa é o Bispo de Roma, e como tal, é o líder mundial da Igreja Católica (isto é, do Rito Latino e das Igrejas Orientais Católicas em plena comunhão com Roma). O atual pontífice é o Papa Bento XVI, que foi eleito no conclave em 19 de abril de 2005.
O Papa é eleito pelo Colégio dos Cardeais, e seu posto é vitalício. O papa também é o Chefe de Estado da Cidade do Vaticano, uma cidade-estado soberana enclavada por Roma.

TÍTULOS GERALMENTE ASSOCIADOS ÀS IGREJAS ORIENTAIS

ARCEDIAGO-  etimologicamente, é um "arquidiácono". Trata-se de um título, desta vez, e não de uma função. É dado a certos sacerdotes, principalmente, nas Igrejas de ritos orientais. Na Igreja Latina, não é muito comum.

ARCIPRESTE- etimologicamente, é um "arqui-sacerdote". Outro título dado a certos sacerdotes, notadamente no Oriente. No Ocidente, é o título de alguns párocos que, eventualmente, sejam Bispos (como o pároco da Basílica de São Paulo Extra-muros, em Roma, que é sempre um Bispo e monge beneditino).

PATRIARCA - são normalmente títulos possuídos por alguns líderes das Igrejas Católicas Orientais sui juris, que, com os seus Sínodos, constituem a instância suprema para todos os assuntos dos Patriarcados Orientais, não excluído o direito de constituir novas eparquias e de nomear Bispos do seu rito dentro dos limites do território patriarcal, salvo o direito inalienável do Papa de intervir em cada caso. Estes patriarcas são eleitos pelos seus respectivos sínodos e depois reconhecidos pelo Papa. Ao todo, existe na Igreja Católica seis Patriarcas Orientais: Patriarca Católico Copta de Alexandria Patriarca Católico Sírio de Antioquia Patriarca Greco-Melquita de Antioquia, Jerusalém, Alexandria, e de todo o Oriente Patriarca Católico Maronita de Antioquia Patriarca Caldeu da Babilônia Patriarca Católico Armênio da Cilícia Na Igreja Latina, alguns grandes e importantes prelados recebem também o título de Patriarca, apesar de o título ser apenas honorífico e não lhes conferirem poderes adicionais. Logo, eles não têm o mesmo poder do que os Patriarcas Orientais. Entre os Patriarcas latinos contam-se o Patriarca Latino de Jerusalém, o Patriarca das Índias Orientais, o Patriarca de Lisboa e o Patriarca de Veneza. Os Patriarcas, quer sejam do rito latino ou do rito oriental gozam de precedência, ainda que apenas a título honorífico, relativamente a todos os Arcebispos (incluindo os Primazes).