quinta-feira, 15 de março de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (14/03/2012) - Tema: MORTIFICAÇÃO (PARTE I)



PRIMEIRO SENTIDO DA MORTIFICAÇÃO: MATAR O “HOMEM VELHO”

«Se não te mortificas, nunca serás alma de oração» (São Josemaria Escrivá).
Por quê? Porque dentro de nós há, como diz São Paulo, duas forças opostas em contínua luta: o “homem velho” e o “homem novo” (ver Ef 4,22-24). A Escritura logo chama nossa concupiscência de “homem velho”, oposto ao “homem novo” que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus. O homem velho tem um nome: “egoísmo”, fruto do pecado original e dos pecados pessoais. O homem novo também tem um nome: “amor”, fruto da presença do Espírito Santo na alma e da nossa correspondência.
Os dois “homens” são como brigões que puxam de uma corda, cada um por um extremo, em sentido contrário. Se o “velho” levar a melhor, arrasta-nos para longe de Cristo (pois só a graça e o amor nos aproximam dEle). Mas toda vez que o “novo” vence (”mortificando” o egoísmo), aproxima-nos de Deus, da amizade com Cristo, da união com Ele.
Por isso, entende-se bem que Jesus diga: «Se alguém quiser vir comigo, negue-se a si mesmo [negue o "eu" egoísta], tome a sua cruz e siga-me» (Mt 16,24).
O “homem velho” ou esta carne deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral.


SEGUNDO SENTIDO DA MORTIFICAÇÃO: REPARAR OS PECADOS COMETIDOS

A mensagem de Fátima nos ajudará a compreender este ponto:
Eis que outro dia, pouco depois da primeira aparição angelical, quando as crianças brincavam perto do poço que existia no quintal da casa da família, o mesmo Anjo apareceu dizendo-lhes: "Que fazeis? Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios." Lúcia pergunta então ao Anjo: "Como nos havemos de sacrificar?"; ao que foi respondida: "De tudo que puderdes, oferecei a Deus um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores."
Em outra aparição, recomendou Nossa Senhora: "Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, e em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores, e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria".
Em outra, dizia aos pastorinhos: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”.


ALGUNS TIPOS DE MORTIFICAÇÃO

1º) A mortificação externa, a da ordem e pontualidade na oração. É importante ter uma hora e um lugar fixos para a oração e observá-los, mesmo que não tenhamos vontade nem facilidade (só deixá-los se há “impossibilidade”).
«É preciso vencer - diz São Josemaria Escrivá - a poltronaria, o falso critério de que a oração pode esperar. Não adiemos nunca essa fonte de graças para amanhã. O tempo oportuno é agora».

2º) A mortificação física da gula. Não faça essa cara de estranheza. Sim, gula e oração têm muito a ver, como ensinavam os cristãos dos primeiros séculos. Comer demais, além de fazer mal ao corpo, enfraquece a alma e a torna “pesada”. No século V, o abade João Cassiano, grande mestre da oração, escrevia: «O primeiro combate que devemos empreender é contra o espírito de gula. A abstinência corporal não tem outra razão de ser senão conduzir-nos à pureza do coração».

3º) A mortificação da imaginação. Não podemos ter a imaginação à solta, ao longo do dia. Dizem que Santa Teresa de Ávila chamava a imaginação de a “louca da casa”, o que é uma grande verdade; quem não se acostuma a mortificar devaneios à toa, filminhos mentais sem substância, depois, quando chega a hora da oração, sofre o bombardeio das distrações: a imaginação solta as suas “bombas de fumaça” e não nos deixa fixar a mente e o coração em Deus.

4º) A mortificação que purifica. São Josemaria compara a nossa alma a um «pássaro que ainda tem as asas empastadas de lama», e comenta que são necessários «muito calor do Céu [graça de Deus] e esforços pessoais pequenos e constantes [mortificações], para arrancar esse barro pegajoso das asas»

5) Finalmente, as mortificações necessárias para cumprir a Vontade de Deus. A própria oração nos faz ver, quase sempre, o que Deus quer de nós. Para dizer-lhe “sim”, teremos que dizer “não” a algum gosto, plano ou prazer pessoal. Por exemplo, para não deixar de ir à Missa aos domingos. Ou para participar de um apostolado ou de um trabalho social em favor dos necessitados... As mortificações que elas exigem são as pontes por onde passa o amor. Do outro lado da ponte da mortificação, feita com amor a Deus e ao próximo, estão os braços e o coração aberto de Cristo Jesus. E, com ele, está a alegria.


O JEJUM NA BÍBLIA

Na história da salvação é frequente o convite a jejuar. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura o Senhor comanda que o homem se abstenha de comer o fruto proibido: «Podes comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). Comentando a ordem divina, São Basílio observa que «o jejum foi ordenado no Paraíso», e «o primeiro mandamento neste sentido foi dado a Adão». Dado que todos estamos entorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o jejum é-nos oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor. Assim fez Esdras antes da viagem de regresso do exílio à Terra Prometida, convidando o povo reunido a jejuar «para nos humilhar – diz – diante do nosso Deus» (8, 21). O Onipotente ouviu a sua prece e garantiu os seus favores e a sua proteção. O mesmo fizeram os habitantes de Ninive que, sensíveis ao apelo de Jonas ao arrependimento, proclamaram, como testemunho da sua sinceridade, um jejum dizendo: «Quem sabe se Deus não Se arrependerá, e acalmará o ardor da Sua ira, de modo que não pereçamos?» (3, 9). Também então Deus viu as suas obras e os poupou.


A PENITÊNCIA NO CÓDIGO DO DIREITO CANÔNICO

Cân. 1250 — Os dias e tempos de penitência na Igreja universal são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.
Cân. 1251 — Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Cân. 1252 — Estão obrigados à lei da abstinência os que completaram catorze anos de idade; à lei do jejum estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos. Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência.

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