Fé, Esperança e Caridade |
“Ocupai-vos
com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de
louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor" (Fl 4,8).
O QUE SÃO AS VIRTUDES TEOLOGAIS?
A virtude é uma disposição habitual e firme de
fazer o bem.
Há virtudes sobrenaturais e virtudes humanas. Na
Igreja Católica, a partir das Escrituras, e por antiga tradição patrística e
mística, a teologia cristã distingue:
- as virtudes
sobrenaturais ou infusas, que
incluem as virtudes teologais;
- e as virtudes
humanas, que incluem as virtudes morais e todas as demais.
A virtude sobrenatural é uma qualidade que Deus
mesmo infunde na alma, pela qual se
tem propensão, facilidade e prontidão para conhecer e praticar o bem, em ordem
da vida eterna. As virtudes teologais são sobrenaturais e têm por origem, motivo e objeto imediato o próprio
Deus. Os cristãos acreditam que elas são infundidas na pessoa humana através
do Batismo. Mesmo uma criança, se estiver batizada, possui as
três virtudes, ainda que não seja capaz de praticá-las enquanto não chegar ao
uso da razão.
O Catecismo nos ensina que as virtudes teologais
(fé, esperança e caridade) são “o penhor
da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano”.
Elas são essencialmente sobrenaturais, pois, além
de serem dons divinos, dirigem-se a Deus nos seus atos.
O fundamento das três virtudes teologais encontra-se
no texto bíblico de 1Cor 13,13: “Agora,
pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o
amor”.
Sem elas, é impossível agradar a Deus ou alcançar a
salvação.
A FÉ
A fé é a
virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou,
e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela
fé, o homem livremente se entrega todo a Deus. Por isso o fiel procura conhecer
e fazer a vontade de Deus. O dom da fé
permanece naquele que não pecou contra ela. Mas "é morta a fé sem
obras" (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente
o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo.
O discípulo
de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la,
testemunhá-la com firmeza e difundi-la: "Todos devem estar prontos a
confessar Cristo perante os homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre
perseguições que nunca faltam à Igreja.” (CIC §1814 a 1816)
Peca contra a Fé,
principalmente, quem admite dúvidas contra aquilo que aprendemos da Santa
Igreja Católica. Hoje é comum ouvir: eu sou católico, mas não acredito nesse
ponto ou naquele. Há muitos que não acreditam na Palavra de Deus, que não
acreditam no inferno ou no demônio. Outros não creem mais na presença real de
Jesus na Eucaristia. Eles escolhem dos dogmas católicos os que lhes convém. É
esse o sentido da palavra heresia: escolher, separar por opiniões
próprias.
Mas aqueles que escolhem alguns pontos
do Depósito Sagrado e rechaçam outros não têm mais fé, deixam de ser católicos.
Isso é muito sério e se explica: o fundamento da Fé não é a evidência científica das verdades reveladas,
mas sim o fato de serem reveladas por Deus. É o princípio de autoridade que fundamenta a Fé. Ora, se uma pessoa nega um dos pontos que seja, está recusando
a autoridade daquele que revela. Passa a aceitar os demais pontos, não porque Deus é infalível, mas porque lhe interessa
aceitar. A própria pessoa passa a ser o critério da verdade, o que faz dela seu
próprio deus. E ela não é mais católica.
A ESPERANÇA
A esperança é
a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e
a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não
em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. "Continuemos a afirmar nossa esperança,
porque é fiel quem fez a promessa" (Hb 10,23).
A virtude da
esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de
todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens;
purifica-as, para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá
alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da
bem-aventurança eterna.
A esperança
cristã se manifesta desde o inicio da pregação de Jesus no anúncio das
bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam nossa esperança ao céu,
como para a nova Terra prometida; traçam o caminho por meio das provações
reservadas aos discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos de Jesus Cristo e de sua
Paixão, Deus nos guarda na "esperança que não decepciona" (Rm 5,5).
(CIC §1817 a 1820)
Meditemos
nesse pequeno texto de Santa Teresa de Ávila a respeito da esperança:
“Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a
hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência
torne duvidoso o que é certo, e longo um tempo bem curto. Considera que, quanto
mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te alegrarás um
dia com teu Bem-Amado numa felicidade e num êxtase que não poderão jamais
terminar.”
Existem dois tipos de
pecados contra a virtude da Esperança: a
presunção e o desespero.
A presunção consiste
em acharmos que podemos possuir a Deus, tanto pela graça (na vida terrena)
quanto na vida eterna, sem a ajuda de
Deus. É um excesso de confiança que se faz esperar a vida eterna sem usar
os meios prescritos por Deus, como a graça e as boas obras.
O desespero consiste
em achar que nunca poderemos alcançar a
vida eterna, ou que Deus nunca nos perdoará dos nossos pecados. É o exemplo
de Caim e de Judas. Isso acontece com frequência em pessoas que passam por
muitos sofrimentos e não têm confiança no socorro de Deus.
A CARIDADE
A caridade é
a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si
mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
Jesus fez da
caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1),
manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos
imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim
como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9).
E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos
amei" (Jo 15,12). §1822 §1823 §1826 §1827 §1828
O apóstolo S.
Paulo traçou um quadro incomparável da caridade: "A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se
ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu
próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a
injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta" (l Cor 13,4-7).
Diz ainda o
apóstolo: "Se não tivesse a caridade, nada seria...". E tudo o
que é privilégio, serviço e mesmo virtude... “se não tivesse a caridade, isso
nada me adiantaria". A caridade é superior a todas as virtudes. É a
primeira das virtudes teologais.
O exercício
de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o
"vinculo da perfeição" (Cl 3,14.. A caridade assegura e purifica
nossa capacidade humana de amar, elevando-a à feição sobrenatural do amor
divino.
A prática da
vida moral, animada pela caridade, dá ao cristão a liberdade espiritual dos
filhos de Deus. Já não está diante de Deus como escravo em temor servil, nem
como mercenário à espera do pagamento, mas como um filho que responde ao amor
daquele "que nos amou primeiro" (1 Jo 4,19).
“O amor é a rainha das virtudes. Como as
pérolas se ligam por um fio, assim as virtudes, pelo amor. Fogem as pérolas
quando se rompe o fio. Assim também as virtudes se desfazem afastando-se o amor”.
(São Pio de Pietrelcina)
CORREMOS O RISCO DE PERDER AS VIRTUDES
TEOLOGAIS?
Uma vez
recebidas, as virtudes teologais não se perdem facilmente. A virtude da
caridade, a capacidade de amar a Deus com amor sobrenatural, só se perde pelo
pecado mortal. Mas mesmo que se perca a caridade, a fé e a esperança
permanecem. A virtude da esperança só se perde por um pecado direto contra ela,
pelo desespero de não confiar mais na bondade e na misericórdia divinas. E, é
claro, se perdemos a fé, perdemos também a esperança, pois é evidente que não
se pode confiar em Deus se não se crê nEle. E a fé, por sua vez, perde-se por
um pecado grave contra ela, quando nos recusamos a crer no que Deus revelou.
O
relacionamento com Deus exige uma ação, uma cooperação de cada um. Não é um amor
que só se doa ou que só recebe. É uma via de mão dupla, pois, quanto mais o
homem se dá a Deus, mais recebe e quanto mais recebe de Deus, mais quer se
configurar a Ele. As virtudes auxiliam no processo de configuração a Jesus
Cristo, o homem como Deus sonhou, o homem que amou Deus como Ele quer ser
amado, o homem-modelo de todos os homens.
“O fim de
uma vida virtuosa consiste em se tornar semelhante a Deus”, como escreveu São Gregório de Nissa.
O PAPA BENTO XVI E AS VIRTUDES
TEOLOGAIS
Podemos
observar que o pontificado de Bento XVI está diretamente ligado ao incentivo da
prática das três virtudes teologais.
- Caridade:
Sua primeira encíclica foi intitulada de “Deus Caritas est” (Deus é Amor).
- Esperança:
Mais tarde, o Santo Padre lançaria mais uma encíclica, intitulada “Spe Salvi”
(Salvos pela esperança).
- Fé:
recentemente proclamou que de outubro de 2012 a outubro de 2013, a Igreja viverá o
“Ano da Fé”, tempo de aprofundamento acerca dessa virtude.
“Onde não há obediência, não há
virtude. Onde não há virtude, não há bem, não há amor; e onde não há amor, não
há Deus; e sem Deus não se chega ao Paraíso. Tudo isso é como uma escada: se
faltar um degrau, caímos”. (São
Pio de Pietrelcina)
Nenhum comentário:
Postar um comentário