quinta-feira, 26 de abril de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (25/04/2012) - Tema: AS VIRTUDES TEOLOGAIS – FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE


Fé, Esperança e Caridade


“Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor" (Fl 4,8).


O QUE SÃO AS VIRTUDES TEOLOGAIS?

A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem.
Há virtudes sobrenaturais e virtudes humanas. Na Igreja Católica, a partir das Escrituras, e por antiga tradição patrística e mística, a teologia cristã distingue:
- as virtudes sobrenaturais ou infusas, que incluem as virtudes teologais;
- e as virtudes humanas, que incluem as virtudes morais e todas as demais.
A virtude sobrenatural é uma qualidade que Deus mesmo infunde na alma, pela qual se tem propensão, facilidade e prontidão para conhecer e praticar o bem, em ordem da vida eterna. As virtudes teologais são sobrenaturais e têm por origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. Os cristãos acreditam que elas são infundidas na pessoa humana através do Batismo. Mesmo uma criança, se estiver batizada, possui as três virtudes, ainda que não seja capaz de praticá-las enquanto não chegar ao uso da razão.
O Catecismo nos ensina que as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) são “o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano”.
Elas são essencialmente sobrenaturais, pois, além de serem dons divinos, dirigem-se a Deus nos seus atos.
O fundamento das três virtudes teologais encontra-se no texto bíblico de 1Cor 13,13: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”.
Sem elas, é impossível agradar a Deus ou alcançar a salvação.


A FÉ

A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, o homem livremente se entrega todo a Deus. Por isso o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus.  O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela. Mas "é morta a fé sem obras" (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo.
O discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la, testemunhá-la com firmeza e difundi-la: "Todos devem estar prontos a confessar Cristo perante os homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguições que nunca faltam à Igreja.” (CIC §1814 a 1816)
Peca contra a Fé, principalmente, quem admite dúvidas contra aquilo que aprendemos da Santa Igreja Católica. Hoje é comum ouvir: eu sou católico, mas não acredito nesse ponto ou naquele. Há muitos que não acreditam na Palavra de Deus, que não acreditam no inferno ou no demônio. Outros não creem mais na presença real de Jesus na Eucaristia. Eles escolhem dos dogmas católicos os que lhes convém. É esse  o sentido da palavra heresia: escolher, separar por opiniões próprias.
Mas aqueles que escolhem alguns pontos do Depósito Sagrado e rechaçam outros não têm mais fé, deixam de ser católicos. Isso é muito sério e se explica: o fundamento da Fé não é a evidência científica das verdades reveladas, mas sim o fato de serem reveladas por Deus. É o princípio de autoridade que fundamenta a Fé. Ora, se uma pessoa nega um dos pontos que seja, está recusando a autoridade daquele que revela. Passa a aceitar os demais pontos, não porque Deus é infalível, mas  porque lhe interessa aceitar. A própria pessoa passa a ser o critério da verdade, o que faz dela seu próprio deus. E ela não é mais católica.


A ESPERANÇA

A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. "Continuemos a afirmar nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa" (Hb 10,23). 
A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as, para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna.
A esperança cristã se manifesta desde o inicio da pregação de Jesus no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam nossa esperança ao céu, como para a nova Terra prometida; traçam o caminho por meio das provações reservadas aos discípulos de Jesus. Mas, pelos méritos de Jesus Cristo e de sua Paixão, Deus nos guarda na "esperança que não decepciona" (Rm 5,5). (CIC §1817 a 1820)

Meditemos nesse pequeno texto de Santa Teresa de Ávila a respeito da esperança:
“Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência torne duvidoso o que é certo, e longo um tempo bem curto. Considera que, quanto mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te alegrarás um dia com teu Bem-Amado numa felicidade e num êxtase que não poderão jamais terminar.”

Existem dois tipos de pecados contra a virtude da Esperança: a presunção e o desespero.
A presunção consiste em acharmos que podemos possuir a Deus, tanto pela graça (na vida terrena) quanto na vida eterna, sem a ajuda de Deus. É um excesso de confiança que se faz esperar a vida eterna sem usar os meios prescritos por Deus, como a graça e as boas obras.
O desespero consiste em achar que nunca poderemos alcançar a vida eterna, ou que Deus nunca nos perdoará dos nossos pecados. É o exemplo de Caim e de Judas. Isso acontece com frequência em pessoas que passam por muitos sofrimentos e não têm confiança no socorro de Deus.


A CARIDADE

A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). §1822 §1823 §1826 §1827 §1828
O apóstolo S. Paulo traçou um quadro incomparável da caridade: "A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (l Cor 13,4-7).
Diz ainda o apóstolo: "Se não tivesse a caridade, nada seria...". E tudo o que é privilégio, serviço e mesmo virtude... “se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria". A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais.
O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o "vinculo da perfeição" (Cl 3,14.. A caridade assegura e purifica nossa capacidade humana de amar, elevando-a à feição sobrenatural do amor divino.
A prática da vida moral, animada pela caridade, dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. Já não está diante de Deus como escravo em temor servil, nem como mercenário à espera do pagamento, mas como um filho que responde ao amor daquele "que nos amou primeiro" (1 Jo 4,19).
O amor é a rainha das virtudes. Como as pérolas se ligam por um fio, assim as virtudes, pelo amor. Fogem as pérolas quando se rompe o fio. Assim também as virtudes se desfazem afastando-se o amor”. (São Pio de Pietrelcina)


CORREMOS O RISCO DE PERDER AS VIRTUDES TEOLOGAIS?

Uma vez recebidas, as virtudes teologais não se perdem facilmente. A virtude da caridade, a capacidade de amar a Deus com amor sobrenatural, só se perde pelo pecado mortal. Mas mesmo que se perca a caridade, a fé e a esperança permanecem. A virtude da esperança só se perde por um pecado direto contra ela, pelo desespero de não confiar mais na bondade e na misericórdia divinas. E, é claro, se perdemos a fé, perdemos também a esperança, pois é evidente que não se pode confiar em Deus se não se crê nEle. E a fé, por sua vez, perde-se por um pecado grave contra ela, quando nos recusamos a crer no que Deus revelou.
O relacionamento com Deus exige uma ação, uma cooperação de cada um. Não é um amor que só se doa ou que só recebe. É uma via de mão dupla, pois, quanto mais o homem se dá a Deus, mais recebe e quanto mais recebe de Deus, mais quer se configurar a Ele. As virtudes auxiliam no processo de configuração a Jesus Cristo, o homem como Deus sonhou, o homem que amou Deus como Ele quer ser amado, o homem-modelo de todos os homens.
“O fim de uma vida virtuosa consiste em se tornar semelhante a Deus”, como escreveu São Gregório de Nissa.


O PAPA BENTO XVI E AS VIRTUDES TEOLOGAIS

Podemos observar que o pontificado de Bento XVI está diretamente ligado ao incentivo da prática das três virtudes teologais.
- Caridade: Sua primeira encíclica foi intitulada de “Deus Caritas est” (Deus é Amor).
- Esperança: Mais tarde, o Santo Padre lançaria mais uma encíclica, intitulada “Spe Salvi” (Salvos pela esperança).
-: recentemente proclamou que de outubro de 2012 a outubro de 2013, a Igreja viverá o “Ano da Fé”, tempo de aprofundamento acerca dessa virtude.



“Onde não há obediência, não há virtude. Onde não há virtude, não há bem, não há amor; e onde não há amor, não há Deus; e sem Deus não se chega ao Paraíso. Tudo isso é como uma escada: se faltar um degrau, caímos”. (São Pio de Pietrelcina)

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