quarta-feira, 8 de agosto de 2012

REC – Reflexões e Estudos CATÓLICOS (08/08/2012) - Tema: DILIGÊNCIA

“A alma verdadeiramente amorosa de Deus, não põe delongas em fazer quanto pode para achar o Filho de Deus, seu Amado. Mesmo depois de haver empregado todas as diligências, não se contenta e julga haver feito nada.” (São João da Cruz)

QUE SIGNIFICA DILIGÊNCIA?

A diligência é o antídoto específico da preguiça. Onde a preguiça cava um abismo, a diligência ergue uma montanha. E o que é a diligência?
Na realidade, diligência é uma palavra que vem diretamente do verbo latino diligere, que significa amar. De modo que “diligente” significa aquele que ama.
Isto é da maior importância para o tema que nos ocupa. A acédia (preguiça) é o contrário do amor, pelo fato de sentir aversão e tristeza por aquilo mesmo que atrai e alegra o amor: o bem, mesmo que seja  árduo e difícil. Em confronto com a preguiça, a virtude da diligência consiste no carinho, alegria e prontidão (coisa diferente da pressa) com que pensamos no bem e nos prontificamos a realizá-lo da melhor maneira possível.
Poucas descrições da diligência existem, mais ricas de conteúdo, do que a contida numa das homilias de São José Maria Escrivá, que transcrevemos a seguir:
"Há duas virtudes humanas - a laboriosidade e a diligência - que se confundem numa só:- no empenho em tirar partido dos talentos que cada um de nós recebeu de Deus.São virtudes, porque induzem a acabar bem as coisas.Quem é laborioso aproveita o tempo, que não é apenas ouro, é Glória de Deus! Faz o que deve e está no que faz, não por rotina nem para ocupar as horas, mas como fruto de uma reflexão atenta e ponderada. Por isso é diligente. O uso normal desta palavra - diligente - evoca-nos a sua origem latina. Diligente vem do verbo diligo, que significa amar, apreciar, escolher algo depois de uma atenção esmerada e cuidadosa. Não é diligente quem se precipita, mas quem trabalha com amor, primorosamente.
Nosso Senhor, perfeito homem, escolheu um trabalho manual que realizou delicada e amorosamente durante quase todo o tempo que permaneceu na terra. Exercitou a sua ocupação de artesão entre os outros habitantes da sua aldeia, e aquele trabalho humano e divino demonstrou-nos claramente que a atividade habitual não é um pormenor de pouca importância, mas é o fulcro da nossa santificação, oportunidade contínua de nos encontrarmos com Deus e de louvá-lo e glorificá-lo com o trabalho da nossa inteligência ou das nossas mãos".

DILIGÊNCIA NÃO É ATIVISMO

Muitas pessoas oferecem a imagem de um ativismo desenfreado. Não param um instante. Vão de cá para lá, assoberbados de tarefas, numa incessante corrida atrás do tempo, que sempre se lhes torna escasso. As ocupações os envolvem como que num redemoinho. Já não são donos de si mesmos. A sua atividade domina-os como um cavalo sem freio, do qual perderam completamente as rédeas.
Homens e mulheres desse estilo não são diligentes. São apenas agitados. Não percebem que, por trás do seu vaivém descontrolado e fatigante, estão sendo atacados por uma forma perniciosa de preguiça: a preguiça espiritual, a preguiça mental.
"O nosso século - escreve Jacques Leclercq - orgulha-se de ser o da vida intensa, e essa vida intensa não é senão uma vida agitada, porque o sinal do nosso século é a corrida, e as mais belas descobertas de que se orgulha não são as descobertas da sabedoria, mas da velocidade. E a nossa vida só é propriamente humana se nela há calma, vagar, sem que isso signifique que deva ser ociosa (...) Acumular corridas e mais corridas, não é acumular montanhas, mas ventos".

PREGUIÇA: VÍCIO OPOSTO À DILIGÊNCIA

A preguiça, na maioria das vezes, provém de uma doença na vontade, que se recusa ao esforço, chegando até a temê-lo. “O preguiçoso quer evitar qualquer trabalho, tudo quanto lhe pode perturbar o sossego e arrastar consigo fadigas. Verdadeiro parasita, vive, quanto pode, a expensas dos outros. Manso e resignado, enquanto o não inquietam, impacienta-se e irrita-se, se o querem tirar da sua inércia” (TANQUEREY, Adolph).
Quem assume sua condição de filho muito amado por Deus busca viver, através de cada gesto, a virtude da diligência. Não quer cumprir seu dever com desleixo e deixá-lo mal feito, mas coloca nele amor e assim dá seu melhor para que seja finalizado com esmero.
O repouso foi mandamento de Deus que, Ele mesmo, conforme nos conta o livro de Gênesis, tendo trabalhado na criação do mundo, descansou ao fim. Porém, assim como seria um absurdo dizer que Deus ficou ocioso em seu repouso, devemos nós ter em mente que descansar não é ficar inativo e inerte. “Quem se entrega a trabalhar por Cristo não há de ter um momento livre, porque o descanso não é não fazer nada; é distrair-se em atividades que exigem menos esforço” (São Josemaría Escrivá)
O espírito e o coração do homem não podem estar inativos: se não se absorvem no estudo ou em qualquer outro trabalho, são logo invadidos por um sem-número de imagens, pensamentos, desejos e afetos; ora, no estado de natureza decaída, o que domina em nós, quando não reagimos contra ela, é a tríplice concupiscência: serão, pois, pensamentos sensuais, ambiciosos, orgulhosos, egoístas, interesseiros, que tomarão o predomínio em nossa alma, expondo-a ao pecado” (TANQUEREY, Adolph).
Se nossa vida for estéril, seremos cobrados por todos aqueles que deixamos de ajudar e que até mesmo, por nossa omissão, sofreram ou perderam-se no pecado.
A errônea concepção de que trabalhar, por si só, foi um castigo de Deus aos homens, pode nos trazer um peso desnecessário às nossas tarefas corriqueiras. A verdade é que, mesmo antes do pecado original, já estava ao encargo do homem trabalhar (Cf. Gn 2,15). O homem, por natureza, precisa aperfeiçoar as faculdades com que Deus o dotou, já que não tem a perfeição divina. E a única forma de fazer isso é colocando-as em operação, cultivando-as, e este foi o mandamento de Deus desde o princípio da criação. Verdade é que não havia ainda o cansaço pelo labor – este veio após a queda do homem. Mas a dificuldade deu-nos também a luta, através da qual, se a ela nos aplicamos com diligência, nos santificamos.

A PREGUIÇA ESPIRITUAL

Além de nos empregarmos em boas obras, é necessário evitar veementemente a negligência para com Deus, em especial no amor que lhe devemos, que, se chegar por vezes a desprezá-Lo, é pecado mortal. A preguiça espiritual pode ser muito grave quando a alma fica em tal estado de tédio que se acabrunha, desistindo de começar o bem, por ser difícil de ser praticado.
Remédio para a acédia será, portanto, procurar elevar os pensamentos aos bens espirituais, tornando-os mais agradáveis à medida que mais neles nos empenhamos, e sempre buscar aprofundar-se na oração, pois sem ela todo nosso trabalho se tornará infecundo. Além disso, temos na Sagrada Eucaristia nosso alimento espiritual, pois assim como o trabalhador precisa do pão que lhe dê energia para a labuta, precisamos do Pão descido dos Céus, alimento que fortalece nossa fé e nos anima na caridade, fazendo-a crescer em nós. Se desejamos encontrar o Senhor e, um dia, contemplá-Lo face a face, com diligência devemos nos empregar na prática das virtudes.
Segundo o grande místico e Doutor da Igreja, São João da Cruz: “Há alguns que nem mesmo se animam a levantar-se de um lugar agradável e deleitoso, para contentar o Senhor; querem que lhes venham à boca e ao coração os sabores divinos, sem darem um passo na mortificação e renúncia de qualquer de seus gostos, consolações ou quereres inúteis. Tais pessoas, porém, jamais acharão a Deus, por mais que chamem a grandes vozes, até que se resolvam a sair de si para o buscar. Assim o procurava a Esposa nos Cantares, e não o achou enquanto não saiu a buscá-Lo, como diz por estas palavras: ‘Durante a noite no meu leito busquei Aquele a quem ama a minha alma; busquei-o e não O achei. Levantar-me-ei e rodarei a cidade; buscarei pelas ruas e praças públicas Aquele a quem ama a minha alma’ (Ct 3,1-2). E depois de haver sofrido alguns trabalhos, diz então que o achou”

O TRABALHO NÃO É UMA PENALIDADE, MAS COLABORAÇÃO

A partir da tragédia do pecado original, o trabalho passou a ser um veículo redentor para o homem, além de ser o meio pelo qual ele é chamado a ser cooperador de Deus na obra da construção do mundo.
Michel Quoist disse que “o trabalho não é uma punição, mas uma honra que Deus concede aos homens. O Pai não quis acabar sozinho a criação, por isso convida sua criatura a colaborar com Ele”.
O trabalho traz para o homem uma misteriosa e agradável recompensa que ninguém e nada pode tirar. Se com humildade oferecemos a Ele o nosso trabalho, este adquire um valor eterno. Assim, o temporal se transforma em eterno; e esta é a grande recompensa do trabalhador.
Para nos mostrar a importância fundamental do trabalho, Jesus trabalhou até os trinta anos naquela carpintaria humilde e santa de Nazaré.
São Bento de Núrcia tomou como lema da vida dos mosteiros “Ora et Labora!” (Ora e Trabalha!).
O nosso Catecismo (§378) ensina que: “O trabalho não é uma penalidade, mas a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível”.
Tudo o que fazemos deve ser feito “para o Senhor”, sem preguiça e sem reclamação para não perdermos o mérito da boa ação. Não importa o que seja, se é grande ou pequeno. Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça com todo o capricho, como se o próprio Jesus fosse vesti-las. Se você é professor, prepare bem a sua aula, ministre-a com capricho e sem preguiça,  como se Jesus fosse um aluno que quer aprender. Se você é um médico, atenda cada paciente sem preguiça e sem má vontade, como se o próprio Jesus fosse o doente.


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