“A alma verdadeiramente
amorosa de Deus, não põe delongas em fazer quanto pode para achar o Filho de
Deus, seu Amado. Mesmo depois de haver empregado todas as diligências, não se
contenta e julga haver feito nada.” (São João da Cruz)
QUE
SIGNIFICA DILIGÊNCIA?
A diligência é o antídoto específico da preguiça.
Onde a preguiça cava um abismo, a diligência ergue uma montanha. E o que é a
diligência?
Na realidade, diligência é uma palavra que vem
diretamente do verbo latino diligere, que significa amar.
De modo que “diligente” significa aquele que ama.
Isto é da maior importância para o tema que nos
ocupa. A acédia (preguiça) é o contrário do amor, pelo fato de sentir aversão e
tristeza por aquilo mesmo que atrai e alegra o amor: o bem, mesmo que seja
árduo e difícil. Em confronto com a preguiça, a virtude da diligência
consiste no carinho, alegria e prontidão (coisa diferente da pressa) com que
pensamos no bem e nos prontificamos a realizá-lo da melhor maneira possível.
Poucas descrições da diligência existem, mais ricas
de conteúdo, do que a contida numa das homilias de São José Maria Escrivá, que
transcrevemos a seguir:
"Há duas virtudes humanas - a laboriosidade e
a diligência - que se confundem numa só:- no empenho em tirar partido dos
talentos que cada um de nós recebeu de Deus.São virtudes, porque induzem
a acabar bem as coisas.Quem é laborioso aproveita o tempo,
que não é apenas ouro, é Glória de Deus! Faz o que deve e está
no que faz, não por rotina nem para ocupar as horas, mas como fruto de uma
reflexão atenta e ponderada. Por isso é diligente. O uso normal desta palavra -
diligente - evoca-nos a sua origem latina. Diligente vem do verbo
diligo, que significa amar, apreciar, escolher algo depois de uma atenção
esmerada e cuidadosa. Não é diligente quem se precipita, mas quem trabalha
com amor, primorosamente.
Nosso Senhor, perfeito homem, escolheu um trabalho
manual que realizou delicada e amorosamente durante quase todo o tempo que
permaneceu na terra. Exercitou a sua ocupação de artesão entre os outros
habitantes da sua aldeia, e aquele trabalho humano e divino demonstrou-nos
claramente que a atividade habitual não é um pormenor de pouca importância, mas
é o fulcro da nossa santificação, oportunidade contínua de nos encontrarmos com
Deus e de louvá-lo e glorificá-lo com o trabalho da nossa inteligência ou das
nossas mãos".
DILIGÊNCIA NÃO
É ATIVISMO
Muitas pessoas oferecem a imagem de um ativismo
desenfreado. Não param um instante. Vão de cá para lá, assoberbados de tarefas,
numa incessante corrida atrás do tempo, que sempre se lhes torna escasso. As
ocupações os envolvem como que num redemoinho. Já não são donos de si mesmos. A
sua atividade domina-os como um cavalo sem freio, do qual perderam
completamente as rédeas.
Homens e mulheres desse estilo não são diligentes.
São apenas agitados. Não percebem que, por trás do seu vaivém descontrolado e
fatigante, estão sendo atacados por uma forma perniciosa de preguiça: a
preguiça espiritual, a preguiça mental.
"O nosso século - escreve Jacques
Leclercq - orgulha-se de ser o da vida intensa, e essa vida intensa não
é senão uma vida agitada, porque o sinal do nosso século é a corrida, e as mais
belas descobertas de que se orgulha não são as descobertas da sabedoria, mas da
velocidade. E a nossa vida só é propriamente humana se nela há calma, vagar,
sem que isso signifique que deva ser ociosa (...) Acumular corridas e mais
corridas, não é acumular montanhas, mas ventos".
PREGUIÇA:
VÍCIO OPOSTO À DILIGÊNCIA
A preguiça,
na maioria das vezes, provém de uma doença na vontade, que se recusa ao
esforço, chegando até a temê-lo. “O preguiçoso quer evitar qualquer trabalho,
tudo quanto lhe pode perturbar o sossego e arrastar consigo fadigas. Verdadeiro
parasita, vive, quanto pode, a expensas dos outros. Manso e resignado, enquanto
o não inquietam, impacienta-se e irrita-se, se o querem tirar da sua inércia”
(TANQUEREY, Adolph).
Quem assume
sua condição de filho muito amado por Deus busca viver, através de cada gesto,
a virtude da diligência. Não quer cumprir seu dever com desleixo e deixá-lo mal
feito, mas coloca nele amor e assim dá seu melhor para que seja finalizado com
esmero.
O repouso
foi mandamento de Deus que, Ele mesmo, conforme nos conta o livro de Gênesis,
tendo trabalhado na criação do mundo, descansou ao fim. Porém, assim como seria
um absurdo dizer que Deus ficou ocioso em seu repouso, devemos nós ter em mente
que descansar não é ficar inativo e inerte. “Quem se entrega a trabalhar por Cristo não há de ter um momento livre,
porque o descanso não é não fazer nada; é distrair-se em atividades que exigem
menos esforço” (São Josemaría Escrivá)
“O espírito e o coração do homem não podem
estar inativos: se não se absorvem no estudo ou em qualquer outro trabalho, são
logo invadidos por um sem-número de imagens, pensamentos, desejos e afetos;
ora, no estado de natureza decaída, o que domina em nós, quando não reagimos
contra ela, é a tríplice concupiscência: serão, pois, pensamentos sensuais,
ambiciosos, orgulhosos, egoístas, interesseiros, que tomarão o predomínio em
nossa alma, expondo-a ao pecado” (TANQUEREY, Adolph).
Se nossa
vida for estéril, seremos cobrados por todos aqueles que deixamos de ajudar e
que até mesmo, por nossa omissão, sofreram ou perderam-se no pecado.
A errônea
concepção de que trabalhar, por si só, foi um castigo de Deus aos homens, pode
nos trazer um peso desnecessário às nossas tarefas corriqueiras. A verdade é
que, mesmo antes do pecado original, já estava ao encargo do homem trabalhar
(Cf. Gn 2,15). O homem, por natureza, precisa aperfeiçoar as faculdades com que
Deus o dotou, já que não tem a perfeição divina. E a única forma de fazer isso
é colocando-as em operação, cultivando-as, e este foi o mandamento de Deus
desde o princípio da criação. Verdade é que não havia ainda o cansaço pelo
labor – este veio após a queda do homem. Mas a dificuldade deu-nos também a
luta, através da qual, se a ela nos aplicamos com diligência, nos santificamos.
A PREGUIÇA ESPIRITUAL
Além de nos
empregarmos em boas obras, é necessário evitar veementemente a negligência para
com Deus, em especial no amor que lhe devemos, que, se chegar por vezes a
desprezá-Lo, é pecado mortal. A preguiça espiritual pode ser muito grave quando
a alma fica em tal estado de tédio que se acabrunha, desistindo de começar o
bem, por ser difícil de ser praticado.
Remédio para a acédia será, portanto,
procurar elevar os pensamentos aos bens espirituais, tornando-os mais
agradáveis à medida que mais neles nos empenhamos, e sempre buscar
aprofundar-se na oração, pois sem ela todo nosso trabalho se tornará infecundo. Além disso, temos na Sagrada Eucaristia
nosso alimento espiritual, pois assim como o trabalhador precisa do pão que lhe
dê energia para a labuta, precisamos do Pão descido dos Céus, alimento que
fortalece nossa fé e nos anima na caridade, fazendo-a crescer em nós. Se
desejamos encontrar o Senhor e, um dia, contemplá-Lo face a face, com
diligência devemos nos empregar na prática das virtudes.
Segundo o
grande místico e Doutor da Igreja, São João da Cruz: “Há alguns que nem mesmo
se animam a levantar-se de um lugar agradável e deleitoso, para contentar o
Senhor; querem que lhes venham à boca e ao coração os sabores divinos, sem
darem um passo na mortificação e renúncia de qualquer de seus gostos,
consolações ou quereres inúteis. Tais pessoas, porém, jamais acharão a Deus,
por mais que chamem a grandes vozes, até que se resolvam a sair de si para o
buscar. Assim o procurava a Esposa nos Cantares, e não o achou enquanto não
saiu a buscá-Lo, como diz por estas palavras: ‘Durante a noite no meu leito busquei Aquele a quem ama a minha alma;
busquei-o e não O achei. Levantar-me-ei e rodarei a cidade; buscarei pelas ruas
e praças públicas Aquele a quem ama a minha alma’ (Ct 3,1-2). E depois de
haver sofrido alguns trabalhos, diz então que o achou”
O TRABALHO NÃO É UMA PENALIDADE, MAS COLABORAÇÃO
A partir da tragédia do pecado original, o trabalho
passou a ser um veículo redentor para o homem, além de ser o meio pelo qual ele
é chamado a ser cooperador de Deus na obra da construção do mundo.
Michel Quoist disse que “o trabalho não é uma
punição, mas uma honra que Deus concede aos homens. O Pai não quis acabar sozinho a criação, por isso convida sua criatura
a colaborar com Ele”.
O trabalho traz para o homem uma misteriosa e
agradável recompensa que ninguém e nada pode tirar. Se com humildade oferecemos a Ele o nosso trabalho, este adquire um
valor eterno. Assim, o temporal se transforma em eterno; e esta é a grande
recompensa do trabalhador.
Para nos mostrar a importância fundamental do
trabalho, Jesus trabalhou até os trinta anos naquela carpintaria humilde e
santa de Nazaré.
São Bento de Núrcia tomou como lema da vida dos
mosteiros “Ora et Labora!” (Ora e Trabalha!).
O nosso Catecismo (§378) ensina que: “O trabalho não é uma penalidade, mas a
colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível”.
Tudo o que fazemos deve ser feito “para o Senhor”,
sem preguiça e sem reclamação para não perdermos o mérito da boa ação. Não
importa o que seja, se é grande ou pequeno. Se você é lavadeira, então lave
cada camisa ou cada calça com todo o capricho, como se o próprio Jesus fosse
vesti-las. Se você é professor, prepare bem a sua aula, ministre-a com capricho
e sem preguiça, como se Jesus fosse um aluno que quer aprender. Se você é
um médico, atenda cada paciente sem preguiça e sem má vontade, como se o
próprio Jesus fosse o doente.
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