Evangelho: João 6,24-35
Caríssimos em Cristo, no Domingo passado,
deixamos o Senhor Jesus orando a sós no monte, após ter multiplicado os pães e
despedido a multidão. Está no capítulo VI de São João: do monte, Jesus
atravessa o mar da Galileia, caminhando sobre as águas. Ao chegar do outro
lado, lá esta o povo a sua espera… Sigamos, as palavras do Senhor nesta
perícope, pois elas nos falam de vida, falam-nos do Cristo nosso Deus!
Primeiramente, Cristo censura duramente o povo:
procuram-no – como tantos hoje em dia – não porque viram o sinal que ele
realizou! Mas, que sinal? Fez o povo sentar-se na relva, como o Pastor do Salmo
22 faz a ovelha descansar em verdes pastagens; prepara uma mesa para o fiel,
multiplicando-lhe os pães, como Moisés no deserto… Ante tudo isto, amados em Cristo,
o povo ainda pensou em Jesus como sendo o Profeta que Moisés prometera (cf. Dt
); mas, infelizmente, não passou disso. Daí a repreensão do Senhor: aqueles lá
o procuravam simplesmente porque comeram pão, como hoje tantos o procuram para
ganhar benefícios – e, assim, são enganados pelos charlatões de plantão! A
prova de que o povo não compreendeu o sinal, é que ainda vai perguntar no
Evangelho de hoje: “Que sinal realizas? Que obra
fazes?” Como estes, lá com Jesus, se parecem conosco, tantas
vezes cegos para os sinais do Senhor na nossa vida!
Observai, irmão! Notai como os judeus não
conseguem compreender que o que Jesus quer deles é a fé na sua pessoa e na sua
missão! Vede como eles pensam que podem agradar ao Senhor simplesmente com um
fazer exterior, sem compromisso de amor que brota do coração: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Fazer!
De nós, Jesus quer muito mais do que um simples fazer! Eis a resposta do nosso
Salvador: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou!” Resposta
admirável: tua obra, cristão, já não é cumprir a Lei de Moisés; também não é
fazer e fazer coisas, mas crer e amar a Jesus! Daí sim, tudo decorre, e também
tuas boas obras, feitas por amor a Jesus e na fé em Jesus, serão aceitas pelo
Senhor!
Diante da palavra do Cristo, os judeus duros de
compreender, pedem a Jesus outro sinal! Não compreenderam o que ele fizera! E
ainda citam Moisés, como que dizendo: Tu nos deste pão agora; Moisés nos deu o
maná por quarenta anos! Aí, o nosso Salvador faz três revelações surpreendentes
e consoladoras! Ei-las:
Primeiro: Aquele maná dado por Moisés não é o pão
que vem do céu. É pão terreno mesmo, dado por Deus; pão que mata a fome do
corpo, mas não enche de paz o coração; pão que alimenta esta vida, mas não dá a
Vida divina, a Vida que dura para sempre! Aquele maná do deserto era apenas
pálida imagem de um outro maná, de um outro pão que o Pai daria mais tarde.
E aqui vem a segunda revelação, surpreendente,
consoladora: agora o Pai está dando o verdadeiro maná, o verdadeiro Pão do céu,
que dá a vida divina ao mundo: Moisés não deu (no passado); meu Pai vos dá
(agora, no presente)! Os judeus ficam perplexos, admirados; e pedem: Dá-nos
desse pão! Pão que alimenta a fome de vida, de paz, de sentido, de eternidade!
Jesus faz, então, a terceira e desconcertante
revelação: “Eu sou o Pão da vida!” Pronto:
o pão verdadeiro é uma Pessoa, é ele mesmo! Os pães que ele multiplicara eram
imagem dele mesmo, que se nos dá, que nos alimenta, que nos enche de vida: “Eu sou o Pão da vida! O Pão que desce do céu e dá a vida ao
mundo! Quem vem a mim nunca mais terá fome de vida e de
sentido de existência; quem crê em mim nunca mais terá
sede no seu coração!”
Eis, meus caros! Corramos para Jesus! Seja ele
nosso alimento! E dele nos alimentando, sejamos nele, novas criaturas,
despojando-nos do homem velho, deixando o velho modo de pensar, que conduz não
à Vida, mas ao nada, como diz o Apóstolo na segunda leitura! Se nos alimentamos
de Cristo, se bebemos de sua santa palavra, como poderemos pensar como o mundo,
agir como o mundo, viver como o mundo? Como ainda poderíamos consentir nas
velhas paixões que nos escravizam?
Que alimentando-nos de Jesus, Pão bendito de
nossa vida, nós atravessemos o deserto desta vida não como o povo de Israel,
que murmurou e descreu, mas como verdadeiros cristãos, renovados pelo Senhor,
despojados da velhice do pecado e saciados de vida eterna, vida que é o Cristo
nosso Deus, bendito pelos séculos dos séculos. Amém.
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