O valor da beleza como componente
intrínseco da liturgia da Igreja parece estar esquecido por muitos. O que
vemos, não raramente, são discursos sem fundamento que acusam a busca pela
beleza como mera superficialidade e esteticismo, ou ainda, como uma
manifestação contrária à pobreza ensinada e vivida por Cristo. Os que defendem
esse ponto de vista tendem a uma “simplorização” do sagrado, recusando o “belo”
apoiados nos argumentos já citados.
Na verdade, a Santa Igreja sempre
defendeu a beleza litúrgica como sendo legítima. O próprio papa Bento XVI em
seu encontro com os artistas, em 2009, afirmou que “a autêntica beleza abre o
coração humano ao desejo de ir para o Alto, para o Além de si”. Dessa forma,
não podemos aceitar o argumento de que a busca pela beleza seja simples
superficialidade, que em nada colabora para uma verdadeira participação no
Mistério celebrado. A beleza tem a capacidade de expressar, ainda que de
maneira imperfeita, aquilo que transcende a nossa humanidade, elevando-nos
assim à esfera do sagrado. "O
caminho da beleza nos conduz, portanto, a colher o Tudo no fragmento, o
Infinito no finito, Deus na história da humanidade”, afirmou o Santo Padre na
mesma ocasião.
Acusar a busca pela beleza como esteticismo também se constitui um erro,
pois o esteticismo tem a apreciação da estética como seu fim último, o que não
é o caso da beleza litúrgica. Esta, não possui a beleza como um fim em si
mesma, mas sim como um autêntico caminho para outro fim: o próprio Deus. Diz o escritor
católico alemão Dietrich von Hildebrand: “Se
alguém se recusasse a ir à missa porque a igreja é feia e a música medíocre,
seria culpado de esteticismo, pois estaria substituindo o ponto de vista
estético ao ponto de vista religioso. Antítese do esteticismo é apreciar a
elevada função da beleza na religião, é compreender o legítimo papel que lhe
cabe desempenhar no culto e o desejo das pessoas religiosas em revestir de
grande beleza tudo o que se refere ao culto divino. Esta apreciação justa da
beleza é até um crescimento orgânico da reverência, do amor a Cristo, do
ato mesmo de adoração”.
Do mesmo modo, podemos facilmente perceber que a busca pela beleza na
liturgia e nos templos não se opõe à pobreza evangélica. O próprio São
Francisco de Assis, que praticou a pobreza com toda austeridade, sempre estimou
e incentivou a beleza das igrejas, dos paramentos e objetos litúrgicos.
Estaria, então, agindo de maneira contraditória? Certamente que não. A pobreza
evangélica não descarta o zelo litúrgico. A pobreza evangélica descarta o
consumismo e a idolatria aos bens.
Enfim, o Santo Padre Bento XVI, assim como seu predecessor, o Beato João
Paulo II, tem insistido em reafirmar a válida colaboração da beleza litúrgica
para uma melhor participação do povo de Deus no Mistério celebrado. Sendo
assim, como a mulher de Betânia que derramou perfume aos pés de Jesus, não
temamos empenhar nossos esforços na promoção de uma liturgia bela e agradável a
Nosso Senhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário