OS ANJOS: QUEM SÃO?
A
existência dos anjos e sua atuação na economia da salvação sempre foram
atestadas pela autoridade da Igreja com unanimidade. Sendo assim, o Catecismo
da Igreja Católica (§ 328) declara que a existência deles é verdade de fé. Os anjos:
-
São seres puramente espirituais criados por Deus à sua imagem e semelhança,
segundo nos ensina as catequeses do saudoso Papa João Paulo II.
- São
seres racionais e pessoais, dotados de inteligência e vontade.
- Possuem
o livre-arbítrio, além de serem imortais.
- Não
possuem corpo material, embora, se assim Deus ordenar, possam se apresentar aos
homens com um corpo.
- Superam
em perfeição todas as criaturas visíveis e estão muito mais próximos de Deus
que as criaturas materiais.
A
denominação “anjo” indica sua função: mensageiro. São eles os servos de Deus,
que executam suas ordens e cooperam para a realização do plano de Deus.
Segundo
São Tomás de Aquino, chamado de “Doutor Angélico” por conta de seus estudos
sobre os anjos, Deus os criou para que pudessem espelhar a perfeição do Criador, por isso, criou estes seres
elevados em maior quantidade que os seres materiais, na verdade, em uma
quantidade incalculável, pois a própria Escritura cita-os como “miríades e
miríades e milhares de milhares” (Ap 5, 11).
A HIERARQUIA ANGÉLICA
Os
anjos desempenham diferentes funções e diferem uns dos outros. "Isaías
fala dos Serafins; Ezequiel, dos Querubins; Paulo, dos Tronos, das Dominações,
das Virtudes, das Potestades, dos Principados; Judas fala dos Arcanjos,
enquanto o nome dos Anjos está em muitos lugares da Escritura", constata
São Tomás de Aquino. Sendo assim, a Tradição, tendo como base os relatos da
Sagrada Escritura, subdivide os anjos em nove ordens ou coros, distribuídos em
três hierarquias:
PRIMEIRA HIERARQUIA – Formada pelos Santos Anjos que estão em contato
mais íntimo com o Criador. Sua função é adorar e glorificar a Deus. São eles:
os Serafins, Querubins e Tronos.
SEGUNDA HIERARQUIA – São responsáveis pelos acontecimentos relativos ao
Universo e pela transmissão da Sabedoria Divina à terceira hierarquia. São
eles: as Dominações, Potestades e Virtudes.
TERCEIRA HIERARQUIA – São os Santos Anjos que se encontram mais próximos
dos seres humanos. Eles executam as ordens de Deus a respeito de cada pessoa.
São eles: os Principados, Arcanjos e Anjos.
A QUEDA
Os
anjos, todos criados por Deus, foram criados com plena liberdade de escolha.
Deus então os convidou a serem participantes de sua intimidade. Mas, para que
isso fosse possível, os anjos teriam de fazer uma opção por abraçar ou não esta comunhão com Deus. Sendo assim, ainda
antes do homem ser criado, foram submetidos, segundo o Papa João Paulo II, a
uma prova de caráter moral, onde deveriam
escolher servir a Deus livremente, ou não.
Lúcifer
era um poderoso e belíssimo anjo criado por Deus. Mas, tomado pelo orgulho,
passou a querer se igualar a Deus. Deste modo, recusou servir ao Senhor,
levando com ele um terço dos anjos que Deus havia criado. “Qual pode ser o
motivo desta radical e irreversível escolha contra Deus? [...] Os Padres da
Igreja e os teólogos não hesitam em falar de ‘cegueira’ produzida pela supervalorização da perfeição do próprio ser,
levada até o ponto de velar a supremacia de Deus, que, pelo contrário, exigia
um ato dócil de obediente submissão”, afirma o Papa João Paulo II em uma de
suas catequeses sobre os anjos.
Os
anjos bons, liderados pelo Arcanjo Miguel, permaneceram fiéis ao Criador,
reconhecendo-o como Bem supremo e definitivo, enquanto os outros, liderados por
Lúcifer, o rejeitaram, como narra o livro do Apocalipse (12, 7s): “Aconteceu
então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O
Dragão batalhou juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado, e no céu não
houve mais lugar para eles”.
Assim,
os anjos foram divididos em bons e maus, sendo os maus denominados demônios.
“Esta divisão não se realizou por obra de Deus, mas em consequência da liberdade própria da natureza espiritual de cada um
deles. Realizou-se mediante a escolha que para os seres puramente
espirituais possui um caráter incomparavelmente mais radical do que a do homem,
e é irreversível dado o grau do caráter intuitivo e de penetração do bem de que
é dotada a sua inteligência”, afirmou João Paulo II. Ou seja, como os anjos
foram dotados de uma inteligência e conhecimento da verdade muito grande, a
escolha de rejeitar a Deus foi feita com a plena consciência, de modo radical e
eterno (assim, irreversível). O perdão aos anjos maus não é possível não por
conta de uma falha na misericórdia de Deus, mas simplesmente porque neles não
há qualquer arrependimento, nem haverá, dado que fizeram sua escolha no pleno
conhecimento e permanecem eternamente em seu pecado. Assim, seu sofrimento é eterno porque seu pecado é
eterno.
A AÇÃO DOS DEMÔNIOS
Os
demônios, como já citado, foram expulsos do céu e, desde então, procuram
atrapalhar os planos de Deus a todo custo, haja vista o ódio que têm de Deus e
de tudo que vem Dele. E, se Satanás e os demônios operam no mundo mediante o
seu ódio contra Deus e seu Reino, isto é permitido pela Divina Providência,
pois Deus é capaz de extrair o bem de algo mal.
Uma
das maiores investidas de Satanás no mundo atual é justamente fazer com que os
homens não acreditem em sua existência:
“[...] fazer-se ignorar corresponde aos seus interesses. A habilidade de
Satanás no mundo está em induzir os homens a negarem a sua existência, em nome
do racionalismo e de cada um dos outros sistemas de pensamento que procuram
todas as escapatórias para não admitir a obra dele”, reforça João Paulo II. Não
é que todo o mal existente no mundo se origine na ação direta dos demônios, mas
não se pode negar que eles conservam as mesmas habilidades que possuíam quando
ainda eram anjos bons: inteligência e poder, por exemplo. Sendo assim,
utilizam-nas agora para o mal, para tentar contra as obras de Deus e fazer,
principalmente, com que os homens se percam e não alcancem a salvação.
Mas
como isso se dá? Você já deve ter visto algumas representações de “diabinhos”
dando maus conselhos às pessoas, tentando desviá-las das boas recomendações
dadas por seus “anjinhos”. A realidade é que estes seres espirituais, tanto os
anjos quanto os demônios, têm poder
sobre a imaginação humana. São Tomás de Aquino afirma que os anjos podem
dar aos seres humanos boas inspirações, inclinando-os à prática da virtude,
sugerindo-os bons propósitos, ajudando-os em suas tarefas, dando-lhes boas
ideias, enfim, em toda sorte de ações sua influência pode colaborar. Os
demônios, pelo contrário, estão sempre à espreita de uma oportunidade para
fazer o homem ofender a Deus, prejudicar seu próximo ou praticar qualquer
atitude má – influência denominada tentação. A esse respeito, alerta o Papa
João Paulo II: “A ação de Satanás consiste, antes de tudo, em tentar os homens
ao mal influindo na sua imaginação e nas suas faculdades superiores para as
orientar em direção contrária à lei de Deus. Satanás põe à prova até Jesus (cf.
Lc 4, 3-13), na tentativa extrema de contrariar as exigências da economia da
salvação como Deus a estabeleceu”.
Para
discernir qual influência está sendo aplicada a si, o cristão deve examinar em
que estado se encontra sua alma: onde há paz e alegria, boa disposição da alma
para ajudar o próximo e amor a Deus, certamente está presente a ação dos anjos.
Já quando o coração se encontra perturbado e inquieto, é bom tomar cuidado,
pois a causa pode ser as tentações dos demônios.
O ANJO DA GUARDA
A
forma a qual Deus escolheu para tornar os anjos muito próximos dos homens foi
designar um Anjo da Guarda para cada um. Desde o seu começo, ensina o Catecismo
da Igreja Católica (§ 336), até a morte, a vida humana é acompanhada pela sua
assistência e intercessão.
Desde
o nascimento, cada pessoa recebe um anjo como seu guardião. Este anjo não terá
outro a quem proteger em toda a história da humanidade, ou seja, sua função
exclusiva é zelar para que a alma que lhe foi confiada não se afaste de Deus.
São Tomás de Aquino ensina que mesmo os
não batizados possuem um anjo guardião, pois Deus desejou dar um protetor e
amigo a todos os homens. Segundo a doutrina católica, o Anjo da Guarda não
abandona seu protegido nem mesmo quando se encontra no pecado, mas, antes,
procura reconduzi-lo ao bom caminho e ao arrependimento para que se reconcilie
com Deus. Santo Agostinho indagava: “Como podem os anjos estar longe, quando
nos foram dados por Deus para ajudar-nos? Eles não se apartam de nós, embora
aqueles que são assaltados pelas tentações pensem que estão longe”.
O
Anjo da Guarda apresenta a Deus as súplicas daquele a quem guarda, defende-o
das ciladas do demônio e roga a Deus incessantemente por sua vida.
Alguns
santos tiveram a oportunidade de conviver com seu Anjo da Guarda de forma
visível, como Santa Gemma Galgani e São Pio de Pietrelcina.
CARTA DE SÃO PIO DE PIETRELCINA A UMA
FILHA ESPIRITUAL SOBRE O ANJO DA GUARDA
“Deves
muita devoção a esse bondoso anjo. Como é bom pensar que temos um espírito
perto de nós, um espírito que, do berço até o túmulo, não nos deixa um só
instante, nem mesmo quando ousamos pecar! Esse espírito celeste nos guia, nos
protege, como um amigo, como um irmão. [...] Deves conservá-lo sempre diante
dos olhos da mente: lembra-te com frequência da presença desse anjo,
agradece-lhe, dirige a ele as tuas orações, sê para ele um bom companheiro.
Abre-te e confia a ele os teus sofrimentos, tem receio de ofender a pureza do
seu olhar. Tem consciência de sua presença e guarda-a bem na mente. Ele é tão
delicado, tão sensível. Volta-te para ele nas horas de suprema angústia e
experimentarás seus efeitos benéficos. [...] Nunca digas que estás sozinho na
luta contra nossos inimigos. Nunca digas que não tens uma alma à qual podes te
abrir e confiar-te. Seria um grande erro contra esse mensageiro celeste.”
SÃO MIGUEL ARCANJO
Seu nome significa “Quem como Deus?”. São
Miguel é chamado de Príncipe dos Exércitos Celestes e Guardião da Igreja
Católica. É o mais poderoso anjo entre todos os outros, pois derrotou Lúcifer,
o anjo que havia se rebelado contra Deus.
Sendo
assim, Miguel, por ter sido o primeiro a se colocar em defesa da verdade,
recebeu a honra de se tornar o Protetor do Povo de Israel e, mais tarde,
Defensor da Santa Igreja.
No dia 29 de setembro
de 1891 o grande pontífice Leão XIII fez publicar uma oração que ele próprio
escrevera a São Miguel. Oração chamada por muitos de “Pequeno Exorcismo de Leão
XIII”. Este Vigário de Roma não só a publicou como mandou que obrigatoriamente
os sacerdotes a rezassem no encerramento de todas as Missas. O motivo foi uma revelação divina.
Sua Santidade estava
fazendo sua ação de graças na Missa, quando viu Roma ser invadida por enormes
nuvens sombrias de espíritos infernais. Durante a visão ouviu uma discórdia
entre Jesus e satanás, este exigia um pouco mais de tempo para destruir a
Igreja ao que o Senhor respondeu: “Terás o tempo que pedes depois faremos as
contas”.
Leão XIII, iluminado
por Deus intuiu que a vitória desta discórdia estava entregue a São Miguel e
que seria ele quem precipitaria o Príncipe das trevas, com todos os que o
servem, no mais profundo abismo.
“São
Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as maldades e
ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe
da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e a
todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas.”
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