"Ó
filho caríssimo, a cidade da alma tem muitas portas. Três as principais:
memória, Inteligência e vontade. O criador permitiu que todas elas possam ser
atacadas, mas apenas uma não pode ser aberta pelo lado de fora, e esta é a vontade.
Assim
acontece que algumas vezes a inteligência se obscurece e a memória passa a
lembrar realidades vazias e passageiras, com numerosas e diversificadas
imaginações, pensamentos desonestos e coisas semelhantes, enquanto todos os
sentimentos corporais ficam desordenados e arruináveis. Com isto percebe-se que
estas portas não dependem de nosso livre controle. Somente a porta da vontade
está sob nosso poder e tem como guarda o livre-arbítrio. É uma porta tão
robusta, que demônio e pessoa alguma podem abri-la, se o seu guarda não
consentir. Mas abrindo-se esta porta, ou seja, sendo dado o consentimento ao
que a memória, a inteligência e outras portas sentem, para sempre fica
desprotegida nossa cidade.
Reconheçamos
pois, filho, reconheçamos o grande benefício e desmedido amor que recebemos de
Deus, dando-nos posse livre de tão nobre cidade. Esforcemo-nos em pôr junto ao
livre-arbítrio um bom e nobre guarda, que é o cão da consciência. Quando alguém
se aproxima da porta, latindo ele acorda a razão para que a inteligência veja
se é amigo ou inimigo. Então o livre-arbítrio deixará entrar os amigos, para
que realizem boas e santas inspirações; mas expulsará os inimigos, fechando a
porta da vontade para que não consinta as más imaginações que diariamente se
aproximam da porta.
Assim
fazendo, quando o senhor te pedir, prestarás contas a Ele, poderás entregar a
cidade salva e adornada com muitas virtudes através da sua graça."
(Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja)
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