Evangelho: Mc 6,7-13
Hoje, a santa Palavra que Deus nos dirige nos fala de duas
realidades: nossa missão de profetas e a mensagem de devemos comunicar.
Primeiro,
a vocação de profeta. Escutamos na primeira leitura como Amós não poderia se
calar. Ele mesmo reconhece: “Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor
de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e
o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo!’” Amós não era
profeta profissional nem era de uma família tradicional de profetas. E, no
entanto, o Senhor o tirou de trás do rebanho, tirou-o da sua vida, e o mandou
falar em seu nome ao povo de Israel. No evangelho, vimos Jesus chamando os Doze
e os mandando em missão: sem levar nada, confiando somente em Deus, correndo o
risco de serem incompreendidos e rejeitados, eles deveriam ir, anunciando o
Reino de Deus, que exige mudança de vida, conversão de pensamento, atitudes e
modo de agir…
Meus
caros, ainda hoje é assim; entre nós é assim! Deus continua falando, Deus
continua escolhendo profetas, Deus continua dirigindo seu chamado ao mundo e a
cada pessoa. Se escutarmos com atitude de fé a Palavra santa, se na oração nos
abrirmos aos seus apelos, se estivermos atentos ao que ele nos fala no nosso
coração, descobriremos que o Senhor também nos envia! Isso mesmo: todo cristão,
pelo Batismo e a Crisma, participa da missão do Cristo Jesus, a missão de
anunciar o Reino de Deus, revelando a face do Pai, que Jesus nos veio mostrar!
É verdade que, na Igreja, há aqueles chamados para o ministério ordenado:
Bispos, padres e diáconos que, em nome de Cristo, apascentam o rebanho e
anunciam o Evangelho. Eles são os primeiros responsáveis pelo anúncio da
Palavra de Deus. Mas, todo o povo de Deus, todos os batizados e crismados, cada
um de nós, tem a missão de falar em nome do Senhor e, em nome de Cristo, levar
a luz nas trevas, a paz nas tensões e angústias, a esperança no desespero, a
vida nova nas situações de morte. Somos todos um povo de profetas, caríssimos
e, se nos calarmos, se nos omitirmos, seremos culpados de escondermos e sufocarmos
a Palavra do Senhor de que o mundo tanto necessita!
Aqui
cabe um urgente exame de consciência. Quantas oportunidades temos de falar de
Cristo, de anunciar a vontade e o plano de Deus, de dar testemunho do seu amor
e da sua presença – e nos calamos, nos omitimos, como se Cristo não fosse uma
questão nossa! Quantas vezes somos cristãos cansados, cristãos omissos,
cristãos comodistas! Os pais aqui presentes têm anunciado Jesus a seus filhos,
têm sido seus primeiros evangelizadores e catequistas? Têm rezado com eles? Têm
procurado lavá-los à Igreja? Marido e mulher, têm sido um para o outro um sinal
de Deus, uma palavra e uma presença de Cristo? Têm procurado construir o lar
como um sinal do Reino dos Céus? E os jovens cristãos, têm sido sinal de Nosso Senhor
no mundo em que vivem? Têm feito e vivido as várias experiências da vida como
discípulos de Cristo? Eis, meus caros irmãos! Não esqueçamos que nós somos os
profetas, nós somos os enviados do Senhor! É esta a primeira lição que hoje a
Palavra de Deus nos dá. No trabalho, no amor, no descanso, no estudo, nas
relações sociais somos as testemunhas do Senhor nosso! Um dia, certamente
seremos cobrados por isso; o Senhor nos pedirá contas!
Um
segundo aspecto para nossa meditação é o que diz São Paulo na segunda leitura.
Aí ele apresenta de modo maravilhoso aquilo que devemos comunicar ao mundo com
a palavra e com a vida, isto é, o conteúdo da nossa fé cristã, o grande sonho
de Deus para o mundo e para a humanidade. O que nos diz o Apóstolo? Diz-nos que
antes da criação do mundo, o Pai sonhou conosco! As montanhas ainda não
existiam, as estrelas ainda não brilhavam e o Pai, em Cristo, já sonhava em
criar tudo, em nos criar – a mim e a você – e nos mandar o seu Filho amado. Por
ele, o Pai criou tudo, por ele, na força do Santo Espírito, o Pai, desde o
princípio, cumulou de bênçãos a sua criação. Seu maior sonho era nos mandar
Jesus, o Filho feito um de nós, para que ele nos levasse à plenitude da amizade
com o Pai na potência do Espírito. E quando nós pecamos, quando a humanidade,
desde o princípio, fechou-se para Deus e para o seu sonho, o Pai nem assim
desistiu do seu amor: na plenitude dos tempos ele enviou o seu Cristo para que,
morrendo na cruz, ele nos libertasse do nosso pecado de teimosia e fechamento e,
enchendo-nos do seu Espírito Santo, nos desse já o gostinho, as primícias da
vida eterna. Essa vida, nós já a experimentamos aqui, em Jesus, ouvindo sua
Palavra, convivendo com os irmãos como membros da Santa Igreja e, sobretudo,
participando dos santos sacramentos, de modo especial da Eucaristia, que é Pão
do céu, alimento que nos traz já o sabor da vida de Deus.
Eis,
caríssimos! Somos enviados por Jesus ao mundo para testemunhar o plano, o sonho
de amor para toda a humanidade, que o Pai desde toda eternidade acalentou e
realizou em
Cristo Jesus , tornando-o presente para nós
pelo ministério da Igreja! Estejamos certos de uma coisa: somos parte desse
sonho, somos cooperadores desse sonho! Que nossa vida, nossas palavras, nosso
compromisso, testemunhem tornem presente esse sonho lindo de Deus!
Olhemos
a cruz, conseqüência do nosso pecado, e tomemos consciência do quanto somos
caros a Deus, do quanto somos preciosos, do quanto somos amados e do quanto
somos chamados a amá-lo e participar da obra de salvação do mundo!
É
esta a mensagem deste Domingo, é este o apelo do Senhor! Não sejamos surdos,
mas como Amós, como os Doze primeiros, sejamos sementes do Reino de Deus. Amém.
(Dom Henrique Soares da
Costa)
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