O
QUE SIGNIFICA SER DOUTOR DA IGREJA?
Dentre seus milhares de santos e santas, a
Igreja, até o presente momento, conferiu (desde 1298) apenas a trinta e três
deles o título de “Doutor da Igreja”. A honra de ser Doutor da Igreja
ultrapassa as linhas acadêmicas, pois diz respeito à vivência de uma rica espiritualidade que, de alguma maneira, contribuiu para que a Igreja compreendesse
melhor o Mistério.
Ao longo de sua história, a Igreja contou
com inúmeros exemplos de santidade e intimidade com Deus. No entanto, alguns
destes santos se destacaram por terem vivenciado uma experiência espiritual tão
profunda a ponto de conceder a Igreja, através de seus escritos e pensamentos,
uma nova visão sobre determinada
parte dos mistérios de Deus. Segundo o Papa João Paulo II, quando o Magistério
proclama alguém Doutor da Igreja, tem em vista indicar a todos os fiéis que a
doutrina professada e proclamada por uma determinada pessoa pode ser um ponto de referência, não só porque está
em conformidade com a verdade revelada, mas também porque traz nova luz acerca
dos mistérios da fé, uma compreensão
mais profunda do mistério de Cristo.
ALGUNS
EXEMPLOS DE SANTOS DOUTORES
Santo Éfrem
Este Doutor da Igreja, nascido no ano de
306 na cidade de Nisibi, atual Turquia, se caracteriza pela sua incrível
capacidade de conciliar poesia e teologia. Por este motivo, ficou
conhecido como “harpa do Espírito Santo”. O Papa Bento XVI afirmou a seu
respeito: “Ao aproximar-nos de sua doutrina, temos de insistir desde o início
nisso: ele faz teologia de forma poética. A poesia lhe permite aprofundar na
reflexão teológica através de paradoxos e imagens. Ao mesmo tempo, sua teologia
se torna liturgia, se torna música: de fato, era um grande compositor, um
músico”. Suas poesias eram tão envolventes que se espalharam por todo o
Oriente. Somente à Virgem Maria dedicou mais de vinte poemas.
Era diácono quando morreu em 373, e foi
declarado Doutor da Igreja no ano de 1920 pelo Papa Bento XV.
Santo Agostinho
Nascido no ano de 354, em Tagaste, na
Argélia, Santo Agostinho é um ícone da filosofia não só para os católicos como
para todos os estudiosos da religião. Converteu-se ao cristianismo devido às
orações e apelos de sua mãe, Santa Mônica e, desde então, tornou-se um dos
maiores pensadores da era cristã. Foi ordenado bispo e até hoje é conhecido
como o “Doutor da Graça”, tão profundas são suas reflexões sobre o tema.
“Convertido a Cristo, que é verdade e amor, Agostinho o seguiu durante toda a
vida e se converteu em um modelo para todo ser humano, para todos nós na busca
de Deus”, disse o Papa Bento XVI a respeito deste santo, que é seu santo de
devoção.
Santo Agostinho deixou célebres escritos,
dentre eles, a famosa autobiografia “Confissões”, onde narra em perspectiva
teológica toda sua vida desde a concepção.
Agostinho, que antes de sua conversão
abraçara diversas correntes filosóficas, combateu muitas heresias após se
aprofundar no conhecimento de Cristo, dada sua enorme capacidade intelectual.
Um dos escritos mais belos do santo é o
poema “Tarde te amei”, que praticamente resume sua história:
“Tarde
te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!
Tarde
demais eu te amei!
Eis
que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!
Eu,
disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.
Estavas
comigo, mas eu não estava contigo.
Retinham-me
longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.
Tu
me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.
Fulguraste
e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira.
Espargiste
tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti.
Tu
me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz...”
Conta a Tradição que, certa vez, Santo Agostinho caminhava à beira mar
pensando sobre o Mistério da Santíssima Trindade, quando avistou um menino que,
com uma concha, colocava água num buraquinho que havia feito na areia.
Aproximando-se, Agostinho perguntou: “Que estais fazendo?”. O menino lhe
respondeu: “Estou colocando o mar nesse buraco”. “Tu não percebes que isso é
impossível mesmo que trabalhes toda a vida? O mar é infinitamente grande.
Jamais o irás conseguir colocar aí todo dentro desse pequeno buraco…”, disse o
santo. Então, o menino, que na verdade era um anjo, lhe respondeu: “É mais
fácil colocar toda a água do mar aqui dentro deste buraco que o homem conseguir
entender o mistério da Santíssima Trindade”.
São Tomás de Aquino
Chamado de “Doutor Angélico”, São Tomás de
Aquino é considerado pela Igreja como o “mais sábio dos santos e o mais santo
dos sábios”. Para se ter uma ideia da importância de seus escritos para o
estudo teológico, basta saber que durante o Concílio de Trento sua obra mais
importante, a “Suma Teológica” foi colocada ao lado da Sagrada Escritura para
simbolizar que era à luz da filosofia de São Tomás que a Bíblia deveria ser
interpretada.
Nascido numa família rica no ano de 1224,
deixou tudo para se tornar religioso. Apesar de muito concentrado nos estudos
acerca de Deus, não deixava de se dedicar à vivência da espiritualidade. Por
vezes, ao se deparar com alguma questão difícil a respeito de Deus, colocava
sua cabeça dentro de um sacrário como que para ser iluminado pelo Senhor.
Profundamente eucarístico, Tomás de Aquino escreveu diversos hinos de adoração.
Quando o Papa Urbano IV criou a Festa de Corpus Christi, pediu que São Tomás de
Aquino e São Boaventura escrevessem, cada um, o hino a ser proclamado na
solenidade. No dia da apresentação, São Boaventura, depois de ouvir os versos
feitos por Tomás, simplesmente rasgou o poema que tinha escrito em sinal de
profunda admiração.
O Papa Bento XVI refere-se a São Tomás
recordando um dos acontecimentos mais marcantes de sua vida: “A vida e o
ensinamento de São Tomás de Aquino poderia se resumir em um episódio apanhado
pelos biógrafos antigos. Enquanto o santo, como era seu costume, estava em
oração perante o crucifixo, pelo início da manhã na Capela de São Nicolau, em
Nápoles, Domingo de Caserta, o sacristão da igreja, sentiu desenvolver-se um
diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se o que havia escrito sobre os
mistérios da fé cristã estava correto. E o Crucifixo respondeu: ‘Tu tens falado
bem de mim, Tomás. Qual será tua recompensa?’. E a resposta que Tomás deu é a
que nós também, amigos e discípulos de Jesus, sempre quisemos dizer: ‘Nada mais
que Tu, Senhor’”.
Santa Catarina de Sena
Nasceu em Sena, na Itália, no ano de 1347,
uma época em que a Igreja atravessava um período muito difícil. Santa Catarina,
que figura entre as três mulheres doutoras da Igreja, era analfabeta. Seus
escritos e cartas eram ditados e então enviados às autoridades, papas e
seguidores. As extraordinárias experiências místicas de Catarina conferiram-lhe
o título de Doutora. Sua obra: “O Diálogo”, apresenta a vida espiritual do
homem em forma de conversas entre a alma humana e Deus Pai. Desde pequena
Catarina tinha visões e fazia penitências e, aos 16 anos, entrou para a Ordem
Terceira de São Domingos. Sofria de muitas doenças e praticamente não se
alimentava, com exceção da Eucaristia.
Santa Catarina de Sena era privilegiada
com o dom especial de sentir o denominado "horror ao pecado". Recair
em alguma falta ou ofender a Deus eram-lhe mais repugnantes que qualquer outra
coisa. Para ela, era preferível acordar com o corpo coberto de lepra que
ofender de alguma maneira o amor de Deus. Pela graça, sentia até mesmo mau
cheiro quando se deparava com orgulho, amor próprio, concupiscências. O pecado
era para ela mais repugnante que qualquer podridão física, de modo que os
sentia tão intensamente a ponto de chegar ao desmaio.
Um dos episódios mais impressionantes da
vida da santa aconteceu quando tinha apenas 20 anos. Ela, em oração, durante o
carnaval de 1367, pedia incessantemente a Cristo: "Casa comigo na
fé!". Então, eis que lhe apareceu o Senhor e lhe disse: "Agora que os
outros estão a divertir-se eu estabeleço celebrar contigo a festa da tua
alma". Logo após, apareceu então a corte celeste, com os santos que
Catarina mais amava. A Virgem Maria, ali presente, pegou então a mão da jovem e
a uniu à mão de seu Filho. Jesus, então, coloca no dedo de Catarina um anel
luminoso (que ela, e somente ela, continuou a ver durante toda sua vida) e
disse-lhe: "Eu te esposo a Mim na fé, a Mim o teu Criador e Salvador.
Conservarás imaculada esta fé enquanto não vieres para o céu celebrar Comigo as
bodas eternas". Estava selada a aliança. Observando este casamento místico,
compreende-se melhor de onde Catarina retirava suas inspirações. Seus escritos
extremamente corajosos desafiavam a própria Igreja a rever algumas atitudes.
Catarina de Sena é a prova maior que um Doutor da Igreja é qualificado pela
graça divina, sendo o conhecimento acadêmico, neste caso, totalmente
secundário.
Santa Teresa de Lisieux
Conhecida também como Santa Teresinha do
Menino Jesus, é uma das mais populares santas do mundo. Nascida em 1873 em
Aleçon, na França, entrou para a Ordem Carmelita com apenas 15 anos. Foi
proclamada Doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II em 1997 e é a mais jovem
de todos os Doutores. Viveu apenas 24 anos, mas deixou um legado de ricas
experiências espirituais. Desenvolveu a chamada "infância
espiritual", percurso por onde vivia sua fé fazendo-se uma criança nos
braços do Pai. Mesmo sem nunca ter saído dos muros do Carmelo, é considerada
padroeira das Missões, pois alcançou toda a Igreja, especialmente os
sacerdotes, com sua intercessão ainda em vida. Em sua autobiografia, "História de uma
Alma", Teresa revela-se uma jovem humilde diante de Deus, sempre disposta
a fazer dos pequenos sacrifícios, vias para agradar a Deus e elevar sua alma à
perfeita santidade.
Muito admirada por toda a Igreja,
Teresinha já foi considerada pelo Papa Pio X como "a maior santa dos
tempos modernos".
OS
33 DOUTORES DA IGREJA
1. Santo Afonso de Ligório
2. Santo Agostinho
3. Santo Alberto Magno
4. Santo Ambrósio
5. Santo Anselmo
6. Santo Antônio de Pádua
7. Santo Atanásio
8. São Basílio Magno
9. São Beda Venerável
10. São Bernardo
11. São Boaventura
12. Santa Catarina de Sena
13. São Cirilo de Alexandria
14. São Cirilo de Jerusalém
15. Santo Efrém
16. São Francisco de Sales
17. São Gregório Magno
18. São Gregório Nazianzeno
19. Santo Hilário de Poitiers
20. Santo Isidoro
21. São Jerônimo
22. São João Crisóstomo
23. São João da Cruz
24. São João Damasceno
25. São Leão Magno
26. São Lourenço Brindsi
27. São Pedro Canísio
28. São Pedro Crisólogo
29. São Pedro Damião
30. São Roberto Belarmino
31. Santa Teresa de Ávila
32. Santa Teresa de Lisieux
33. São Tomás de Aquino
NOVOS
DOUTORES
No próximo dia 7 de outubro, o Papa Bento
XVI irá nomear dois novos santos doutores: São João D’Ávila e Santa Hildegarda de
Bingen.
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