A VIRTUDE
DA CASTIDADE
“A castidade - a de cada um no seu estado:
solteiro, casado, viúvo, sacerdote - é uma triunfante afirmação do amor.” (São
Josemaria Escrivá).
É de suma importância ver a castidade como
afirmação de amor, não meramente como negação do pecado da luxúria.
A castidade nos é dada como dom do Espírito Santo,
primícia da Glória Eterna. Não é, portanto, como nos lembra o santo já citado,
um fardo pesado, mas uma coroa triunfal para aqueles que se decidirem com
firmeza a ter a vida limpa.
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito
amados‖ (Ef 5,1), é o que pede São Paulo nas Sagradas Escrituras. O mesmo
afirma a Igreja, com seu Magistério infalível: ―todo batizado é chamado à
castidade. O cristão se vestiu de Cristo‘, modelo de toda castidade. Todos os
fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo seu específico
estado de vida. No momento do Batismo, o
cristão se comprometeu a viver sua afetividade na castidade.”‖(Catecismo da
Igreja Católica, 2348).
A
VIVÊNCIA DA CASTIDADE
Adolph Tanquerey, em seu tratado de Teologia
Ascética e Mística, A Vida Espiritual Explicada e Comentada, descreve quatro graus de prática da virtude
castidade.
- O primeiro consiste em evitar consentir em
qualquer pensamento, imaginação, sensação ou ação contrária à virtude.
- O segundo, indo além do apenas não consentir,
busca afastar tais coisas, imediata e energicamente, não permitindo qualquer
coisa que possa deslustrar o brilho desta virtude.
- Já no terceiro, adquirido após muita prática do
amor de Deus, domina-se os pensamentos e sentidos a tal ponto que se pode falar
sobre questões relativas à castidade aberta e serenamente, com grande paz.
- Por fim, à alguns poucos santos, por privilégio
especial, é concedido não terem qualquer movimento desordenado. Por estes
devemos dar glória ao Senhor, que manifesta sua grandeza e bondade com estas
graças especiais dadas a poucos.
Podemos separar a vivência da castidade em três
diferentes formas:
Castidade
dos noivos
Afirma o Catecismo (2350): “Os noivos são
convidados a viver a castidade na continência. Nessa provação eles verão uma
descoberta do respeito mútuo, urna aprendizagem da fidelidade e da esperança de
se receberem ambos da parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento as
manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente
a crescer na castidade.”
A castidade na continência significa abster-se da
relação sexual e dos prazeres sexuais desordenados até o matrimônio.
Castidade
dos esposos
Afirma o
Catecismo (2367-68): “A fidelidade exprime a constância em manter a palavra
dada. Deus é fiel. O sacramento do Matrimônio faz o homem e a mulher entrarem
na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pela castidade conjugal, eles testemunham
este mistério perante o mundo.
Um aspecto
particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação. Por
razões justas, os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos.
Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo
com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão
seu comportamento segundo os critérios objetivos da moral.”
-
Fidelidade
Sobre isso são de muito proveito as palavras do Santo
Padre, o Papa Bento XVI, quando se encontrou com os jovens no Brasil.
Disse-lhes: “Tende, sobretudo, um grande respeito pela instituição do
Sacramento do Matrimônio. Não poderá haver verdadeira felicidade nos lares se,
ao mesmo tempo, não houver fidelidade entre os esposos. O matrimônio é uma
instituição de direito natural, que foi elevado por Cristo à dignidade de
Sacramento; é um grande dom que Deus fez à humanidade. Respeitai-o, venerai-o.
Ao mesmo tempo, Deus vos chama a respeitar-vos também no namoro e no noivado,
pois a vida conjugal que, por disposição divina, está destinada aos casados é
somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da
castidade, dentro e fora do matrimônio, um baluarte das vossas esperanças
futuras.”
- Procriação
O Papa João Paulo II afirmou a totalidade da doação
mútua que deve ter o casal: “esta totalidade, pedida pelo amor conjugal,
corresponde também às exigências de uma fecundidade responsável, que, orientada
como está para a geração de um ser humano, supera, por sua própria natureza, a
ordem puramente biológica, e abarca um conjunto de valores pessoais, para cujo
crescimento harmonioso é necessário o estável e concorde contributo dos pais.
Assim sendo, todo ato que vise por vias artificiais
impedir o fim procriativo do ato conjugal, é grave ofensa a Deus, por
desvirtuar o fim primordial desta união, impresso pelo próprio Deus desde a
criação, que é a geração de filhos. Aos esposos é apenas lícito espaçar o
nascimento dos filhos por justa causa, o que se dará somente através dos meios
naturais que dispõem. Isso exigirá, certas vezes, períodos de continência, não
deixando um pesado fardo apenas sobre um dos cônjuges. Exige cumplicidade, amor
e respeito, fortalecendo os laços do matrimônio, que não se resumem ao ato
sexual, “o que não conseguirá senão quem houver tomado o hábito de subordinar o
prazer ao dever e de buscar na recepção freqüente dos sacramentos remédio para
os apetites violentos da concupiscência.”
- A graça
da castidade matrimonial
Para assegurar a vivência da castidade, contam os
esposos com as graças específicas concedidas pelo Sacramento do Matrimônio.
Além disso, devem buscar a prática conjunta de uma verdadeira devoção,
especialmente através da oração em comum, pois por meio da oração poderão obter
graças para superar todas as dificuldades e para nutrir eficazmente esta e
todas as demais virtudes.
Tudo isso se resume nas palavras de São Paulo, ao
dizer que a relação entre os esposos deve ser como a de Cristo com sua Igreja
(Cf. Ef 5, 22-30). Que as mulheres se submetam aos seus maridos, não numa
relação de escravidão, mas de confiança e amor, tal qual a Igreja se submete a
Cristo. E que o marido se entregue por sua esposa, e a ame como Cristo amou a
Igreja.
Celibato
Muitos são levados por Deus a abrirem mão deste bem
que é o matrimônio por algo muito maior. São aqueles que “se fizeram eunucos
por amor do Reino dos céus” (Mt 19,12). Neste sentido, continua o Papa Paulo VI
na Encíclica acima citada: “Mas Cristo, Mediador dum Testamento mais excelente
(Hb 8,6), abriu também novo caminho, em que a criatura humana, unindo-se total
e diretamente ao Senhor e preocupada apenas com Ele e com as coisas que lhe
dizem respeito (1Cor 7,33-35), manifesta de maneira mais clara e completa a realidade
profundamente inovadora do Novo Testamento
“A sagrada virgindade e a perfeita castidade
consagrada ao serviço de Deus contam-se sem dúvida entre os mais preciosos
tesouros deixados como herança à Igreja pelo seu Fundador‖ (Sua Santidade o
Papa Pio XII, Carta Encíclica Sacra Virginitas). Desde os primeiros cristãos,
este tesouro foi cultivado, havendo abundantes testemunhos dos Santos Padres
sobre sua importância. Ele é guardado não somente por sacerdotes e religiosos,
mas por uma legião de leigos.
A entrega da virgindade a Deus encontra fundamento
nas palavras de Nosso Senhor, quando feita “por amor do Reino dos Céus (Mt
19,12). Desta forma, como já nos falava São Paulo, pode o cristão cuidar
inteiramente das coisas de Deus, sem que fique divido com os cuidados que
requer a vida conjugal (Cf. 1Cor 7,32-35).
É certo que o matrimônio é um bem, ou jamais teria
sido elevado à dignidade sacramental. Entretanto, a virgindade ou celibato são
mais excelentes que o matrimônio, porque é da sua consagração a Deus que vem
sua dignidade, e não de si mesmos. Todos devemos buscar a fuga do pecado e a
prática das virtudes, mas abrir mão de um ato lícito e bom, como é o matrimônio
e a geração de filhos, encontra maior mérito diante de Deus. São “duas obras,
da qual uma é boa e outra melhor‖, e ―a glória deste maior bem não se baseia em
que se evita o pecado do matrimônio, mas pelo fato de ultrapassar o bem do
matrimônio‖(AGOSTINHO, Santo: A Santa Virgindade. São Paulo: Paulus, 2000. p.
120 e 123).
Isso também decretou o Sacrossanto Concílio de
Trento, ao estabelecer que “se alguém disser que o estado conjugal deve ser
preferido ao estado de virgindade ou celibato, e que não é melhor ou mais
valioso permanecer na virgindade ou celibato do que unir-se em matrimônio: seja
anátema‖ (Denzinger 1810, Concílio de Trento, Sess. XXIV, cân.10).
Assim, o dom da procriação não é vital ao ser
humano, não constituindo uma necessidade. A perfeita castidade abstém-se deste
dom, vivendo a perpétua continência, tendo em vista ocupar-se mais do bem
divino. E nisso auxilia a constante educação do corpo, para que tenha somente o
necessário e nunca atraiçoe, como meio para exercitar o controle de si e poder
viver fielmente neste estado.
“O coração do homem é feito para amar; o sacerdócio
ou o estado religioso não nos tira este lado afetuoso da nossa natureza, mas
ajuda-nos a sobrenaturalizá-los. Se amarmos a Deus com toda a alma, se amarmos
a Jesus sobre todas as coisas, sentiremos muito menos o desejo de nos expandir
sobre as criaturas. [...] Em presença daquele que possui a plenitude da beleza,
da bondade e do poder, todas as criaturas desaparecem e não têm encanto‖
(TANQUEREY, Adolph: A Vida Espiritual Explicada e Comentada. Anápolis: Aliança
Missionária Eucarística Mariana, 2007. p. 580).
PECADOS
CONTRA A CASTIDADE SEGUNDO O CATECISMO
A luxúria
é um desejo desordenado ou um gozo desregrado do prazer venéreo. O prazer
sexual é moralmente desordenado quando é buscado por si mesmo, isolado das
finalidades de procriação e de união.
Por masturbação
se deve entender a excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir
um prazer venéreo. "Na linha de uma tradição constante, tanto o magistério
da Igreja como o senso moral dos fiéis afirmaram sem hesitação que a
masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado." Qualquer que
seja o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais
normais contradiz sua finalidade. Aí o prazer sexual é buscado fora da
"relação sexual exigida pela ordem moral, que realiza, no contexto de um
amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação
humana".
Para formar
um justo juízo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos e orientar a ação
pastoral, dever-se-á levar em conta a imaturidade afetiva, a força dos hábitos contraídos,
o estado de angústia ou outros fatores psíquicos ou sociais que minoram ou
deixam mesmo extremamente atenuada a culpabilidade moral.
A fornicação
é a união carnal fora do casamento entre um homem e uma mulher livres. É
gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana,
naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração e a
educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave quando há corrupção de
jovens.
A pornografia
consiste em retirar os atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos
parceiros para exibi-los a terceiros de maneira deliberada. Ela ofende a
castidade porque desnatura o ato conjugal, doação íntima dos esposos entre si.
Atenta gravemente contra a dignidade daqueles que a praticam (atores,
comerciantes, público), porque cada um se torna para o outro objeto de um
prazer rudimentar e de um proveito ilícito, Mergulha uns e outros na ilusão de
um mundo artificial. É uma falta grave. As autoridades civis devem impedir a
produção e a distribuição de materiais pornográficos.
A prostituição
vai contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida, assim, ao prazer
venéreo que dela se obtém. Aquele que paga peca gravemente contra si mesmo;
viola a castidade à qual se comprometeu em seu Batismo e mancha
seu corpo, templo do Espírito Santo. A prostituição é um flagelo social.
Envolve comumente mulheres, mas homens, crianças ou adolescentes (nestes dois
últimos casos, ao pecado soma-se um escândalo). Se é sempre gravemente
pecaminoso entregar-se à prostituição, a miséria, a chantagem e a pressão
social podem atenuar a imputabilidade da falta.
O estupro
designa a penetração à força, com violência, na intimidade sexual de uma
pessoa. Fere a justiça e a caridade. O estupro lesa profundamente o direito de
cada um ao respeito, à liberdade, à integridade física e moral. Provoca um dano
grave que pode marcar a vítima por toda a vida. É sempre um ato intrinsecamente
mau. Mais grave ainda é o estupro cometido pelos pais (incesto) ou educadores
contra as crianças que lhes são confiadas.
A homossexualidade
designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual,
exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se
reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua
gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada
Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou
que "os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados".
São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem
de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser
aprovados.
Os pecados
contra a castidade são matéria grave.
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